[Resenha] A Caveira-Rolante, a Mulher-Lesma e outras histórias indígenas de assustar, de Daniel Munduruku - Tomo Literário

[Resenha] A Caveira-Rolante, a Mulher-Lesma e outras histórias indígenas de assustar, de Daniel Munduruku

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A Caveira-Rolante, a Mulher-Lesma e outras histórias indígenas de assustar, foi escrito por Daniel Munduruku e publicado pela Global Editora em 2010. A obra conta com ilustrações de Maurício Negro.


Como alerta o autor no início do livro, as narrativas que estão presentes na obra não são apenas para amedrontar. Contadas pelos adultos ou pelos mais velhos da aldeia, as histórias são um modo de ensinar e lembrar “que não estamos sozinhos no mundo e não podemos nos transformar em donos de coisas não criamos.”


Interessante observarmos as histórias indígenas que são contadas e quão metafóricas elas podem ser, ensinando-nos sobre o nosso papel no mundo, sobre a nossa relação com os entes que nos cercam, com a fauna, com a flora e com todo tipo de elemento natural que está presente no ambiente em que vivemos.


Um mito Tukano abre o livro. Os caçadores e o ente arranca-olho traz a história de um grupo de jovens que tem contato com o ente. A descrença de uns acerca de um alerta levado por outro deles pode ensejar no acontecimento de algo ruim.


Outro mito Tukano vem na sequência. O ente de olhos postiços é o nome da história. Um ser rouba produtos numa roça de milho e o dono do roçado vai intervir assustando a todos, inclusive o ente que frequentava o local.


Kanoé – a história do morcego é uma narrativa do povo Ajuru, de Rondônia. A terceira narrativa curta presente no livro fala sobre um rapaz do povo Kanoé tem contato com uma família de morcegos e descobre o motivo do seu povo estar desaparecendo.


A Mulher-Lesma, que está no título do livro, é uma narrativa do povo Macurap e conta sobre um homem que não podia se casar com as mulheres de sua tribo e, ao conversar com uma lesma, acaba se unindo a uma mulher cheia de mistério. A partir daí o leitor acompanha o que acontecerá com esse homem. Uma vez casado, será que a vida lhe trará boas coisas ou será que acontecerá algum evento que vai lhe causar melancolia?


Do povo Tembé, há no livro o texto A Caveira-Rolante, que assim como o conto citado anteriormente, marca presença no título da obra. A narrativa conta sobre uma cabeça que se transforma num pássaro e assombra a comunidade de uma aldeia.


As amantes feiticeiras é um mito do povo Karajá e versa sobre um misterioso acontecimento: “[...] os guerreiros estavam sumindo durante a caçada e ninguém conseguia explicar por que isso estava acontecendo. Havia um clima de medo.”


A antologia de mitos indígenas publicada pelo Global Editora nos permite conhecer um pouco mais sobre os povos indígenas por meio de histórias assombradas que permeiam o seu imaginário. Cheias de seres mágicos, animais, ligações profundas com a natureza, as narrativas que, aparentemente, tentam provocar medo, fazem mais do que isso, posto que possibilitam com que vejamos que há ensinamentos transmitidos por tais histórias.


A obra conta com seis narrativas de cinco povos: Tukano, Ajuru, Macurap, També e Karajá. Os Tukano são povos indígenas que vivem na região noroeste da Amazônia brasileira, às margens do Rio Tiquié. Já os Ajuru, que também podem ser identificados como Wajuru, são indígenas que habitam o noroeste do estado brasileiro de Rondônia, próximo à Bolívia. Por sua vez, os Macurap ocupam o sul de Rondônia. O povo També vive no nordeste do Pará e no noroeste do estado do Maranhão e os Karajás habitam as margens do Rio Araguaia e da Ilha do Bananal, nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Pará.


A leitura é fluída, os textos são curtos e o estilo empregado é de fácil entendimento. Como é voltado para o público infantojuvenil os textos permitem que, inclusive, o livro seja trabalhado em sala de aula por professores, para falar sobre mitos, narrativas produzidas pelos povos indígenas e estrutura de textos narrativos, exemplificativamente.


Foi uma experiência literária interessante, marcada pela presença de uma visão de oralidade, já que os povos indígenas costumam usar a forma oral para transmissão de suas histórias, mitos e lendas. Daniel Munduruku mantém esse viés quando da construção dos textos.


O livro é uma excelente forma de expandirmos a nossa visão sobre os povos indígenas e romper com qualquer tipo de estereótipo que se vê expresso em alguns textos literários. Estamos falando de uma obra genuinamente indígena produzida por um autor também indígena.


As ilustrações de Maurício Negro dão um toque especial ao livro e ampliam a imaginação do leitor aceca das histórias que são contadas.


Excelente obra da Global. Recomendo.


Sobre o autor:


Daniel Munduruku (Belém, 28 de fevereiro de 1964) é um escritor e professor paraense, pertencente ao povo indígena Munduruku. Autor de 65 livros publicados por diversas editoras no Brasil e no exterior, a maioria classificados como literatura infanto-juvenil e paradidáticos. É Graduado em Filosofia e tem licenciatura em História e Psicologia. Tem Mestrado e Doutorado em Educação pela USP - Universidade de São Paulo e Pós-Doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar.


Já recebeu vários prêmios nacionais e internacionais por sua obra literária : Prêmio Jabuti CBL - Câmara Brasileira Do Livro (2004 e 2017); Prêmio da Academia Brasileira de Letras (2010) - ABL; Prêmio Érico Vanucci Mendes - CNPq; Prêmio para a Promoção da Tolerância e da Não Violência - UNESCO, Prêmio da Fundação Bunge pelo conjunto de sua obra e atuação cultural, em 2018 Em 2021 foi condecorado pela OAB/SP como personalidade literária, entre outros. Muitos de seus livros receberam selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ. Ativista engajado no Movimento Indígena Brasileiro, reside em Lorena, interior de São Paulo, desde 1987. Cidade onde é Diretor-Presidente do Instituto Uka e do selo Uka Editorial.  Também é membro-fundador da Academia de Letras de Lorena. Foi cofundador da primeira livraria online especializada em livros de autores indígenas e promove há 20 anos, o Encontro de Escritores e Artistas Indígenas no Rio de Janeiro em parceria com a FNLIJ. Em 2021 concorreu à Cadeira 12 da Academia Brasileira de Letras. Em 2022 venceu o prêmio Empreendedor Social do Governo do Estado de São Paulo. Em 2023 recebeu o prêmio Mestres da Periferia, no Rio de Janeiro. Em 2023/24 atuou na novela das 21 horas da rede Globo interpretando o pajé Jurecê em Terra e Paixão.


Ficha Técnica:


Título: A Caveira-Rolante, a Mulher-Lesma e outras histórias indígenas de assustar

Escritor: Daniel Munduruku

Ilustrações: Maurício Negro

Editora: Global

Ano: 2010

Edição: 1ª

Página: 47

Assunto: Contos indígenas

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