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05 novembro 2024

Entrevista: Rinaldo Segundo

 


Muitas vezes, pensar e entender emoções pode ser uma tarefa complexa. Foi na tentativa de compreender as suas próprias que o autor e promotor de justiça mato-grossense, Rinaldo Segundo, começou a escrever sobre elas e desses escritos se originou a obra  "Emoções: A Grandeza Humana” (144 páginas, Editora Labrador).Constituído por oito contos contos ficcionais, cada um sobre uma diferente emoção, a obra explora a complexidade humana e também dramas sociais como crianças abrigadas, racismo, diferenças sociais e populismo jornalístico, com os quais o autor teve contato por conta de sua profissão. 


Rinaldo, nascido em Várzea Grande e atualmente residente de Cuiabá, é formado em Economia e Direito com mestrado em Desenvolvimento Sustentável pela Harvard Law School. Como promotor de Justiça, atua na área de homicídios e crimes sexuais contra crianças e adolescentes.


Antes dessa obra, Rinaldo já havia publicado “Sonhando com Harvard”, em que compartilha suas memórias e conta os passos e iniciativas que o levaram a uma das melhores universidades do mundo, além da não-ficção “Desenvolvimento Sustentável da Amazônia” que, por sua vez, trata do aquecimento global e do desmatamento amazônico, discutindo um modelo de geração de riquezas e redução do desmatamento que dialoga com os desafios ecológicos globais. O livro é fruto da pesquisa de Rinaldo enquanto esteve na universidade americana.  Para o futuro, o autor pretende escrever um segundo volume de contos ficcionais. Mais uma vez, relacionado às emoções, porém trazendo um lado mais sombrio delas e levantando temas mais espinhosos.


Confira abaixo a entrevista com o autor:


Você escreveu o livro para entender melhor suas emoções, certo? Você pode falar um pouco mais sobre isso?


Rinaldo Segundo: Descobri o tema das emoções ao buscar identificar as minhas próprias emoções. Convivo com a dor alheia em meu trabalho como Promotor de Justiça, testemunho mães que perderam os seus filhos, crianças sexualmente abusadas e vulnerabilidades sociais. Em alguma medida, tais dores se tornam minhas também, e convertem-se em ilusões e desilusões nos casos em que atuo. 


Como Promotor de Justiça, em um cargo que representa a força estatal, e como homem nascido nos anos 70, cujas emoções eram naturalmente negadas, escrever uma ficção sobre as emoções foi uma libertação. Acho que traduzir a dor alheia, e a minha também, em histórias me tornou mais humano. 


As emoções são também universais. Nossos antepassados as sentiram, nossos descendentes as sentirão. É um ponto comum na experiência humana, embora nem sempre identificadas, reconhecidas e permitidas. Escolhi temas sociais para dialogar com alguns desafios de nossa época.


Como foi o processo de escrita do livro?


Rinaldo Segundo: Estou escrevendo os contos do livro há quatro anos. Como trabalho durante o dia, usei as noites e finais de semana. Agradeço a compreensão da minha parceira neste processo, que foi divertido e também penoso. Divertido, quando encontrei os personagens, os parágrafos e as frases que considerei adequados à história. Penoso, quando a busca da adequação revelou a minha imperfeição.


No fim, vivi cada uma das emoções retratadas nos contos do livro. Apareceu a solidão durante a escrita e a revisão, a alegria do ourives ao moldar uma frase bem-sucedida, a vergonha oriunda da autocrítica quando havia insatisfação, a esperança de terminar a obra quando não conseguia escrever. Raiva? Senti quando as palavras, como um quebra cabeças de um milhão de peças, se escondiam de mim. Com a raiva, vinha o medo, do julgamento do alheio. Mas a paixão por escrever predominou, e sinto-me muito feliz com a publicação do livro. 


Por que você trouxe à tona questões sociais no livro?


Rinaldo Segundo: As questões sociais foram trazidas, pois estão incorporadas em minha vida. Sinto uma necessidade angustiada de falar sobre elas.


Você tem outros livros publicados, um de memórias e outro técnico. Mas essa foi a sua primeira vez escrevendo no gênero de ficção, certo?


Rinaldo Segundo: Sim, foi a minha primeira experiência no gênero ficção. Apesar de escrever contos há algum tempo, só agora me senti confiante para publicar. Gostei muito da experiência.

Escolhi a ficção pela versatilidade. É possível falar sobre tudo, em assuntos diversos, e com sensações diferentes através de personagens. Este recurso é fantástico.  Nós, humanos, adoramos uma boa história também, não é?


E quais são suas principais influências literárias e artísticas?


Rinaldo Segundo: De Lima Barreto, fui influenciado pela sua angústia com as injustiças. Machado de Assis influenciou (ou deveria influenciar) a escrita de quase todo mundo. Gosto muito também do angustiado Hemingway. O conto sobre a raiva foi influenciado pelo “As Neves”, do Kilimanjaro. Ao escrever, pensei muito também nos filmes do Kieślowski. Sempre gostei bastante da trilogia das cores e do decálogo.


Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?


Rinaldo Segundo: Pretendo escrever um segundo volume de contos ficcionais relacionados às emoções, mas agora envolvendo um lado humano mais esquisito e sombrio, com emoções como a tristeza, o ciúme e o desprezo. Quero articular igualmente temáticas sociais e músicas em cada conto. Gosto da ideia de uma música aludindo a um texto. É uma energia boa. Gostaria de escrever um livro de memórias sobre a experiência de trabalhar em crimes sexuais praticados contra crianças e adolescentes. Pretendo expor o bastidor, os desafios, e o abismo que ainda precisa ser superado para proteger e reparar essas crianças e adolescentes.



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https://editoralabrador.com.br/produto/emocoes-a-grandeza-humana/


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