A jornalista investigativa Vanessa Halen
precisa lidar com o luto pela morte de Leila, tia-avó e única familiar que
realmente impactou sua vida. Porém, ao começar a explorar a história da tia,
Vanessa será confrontada por segredos e mistérios que nunca poderia imaginar. É
assim que a escritora paulistana Patricia
Tischler apresenta o seu primeiro romance, “Vanessa Halen: tudo o que não quis mas já é” (135
págs.).
A obra gira em torno de traumas e do reflexo
que os “carmas familiares” têm em diferentes gerações, assim como da capacidade
de cada um construir o seu próprio caminho a despeito deles, ainda que aos
trancos e barrancos. Em contraponto à dor vivenciada pela personagem, um
passeio por seus afetos revela mais sobre a personalidade de Vanessa. Seja nas
lembranças sobre a tia Leila ou na relação com a amiga Marta.
Com um enredo dinâmico, que se passa tanto em
São Paulo, capital, quanto em Florianópolis (SC), e que mescla as investigações
sobre a vida pregressa da tia-avó com a descoberta de um novo amor, o livro
aborda a história de mulheres que fazem escolhas difíceis e incomuns, na
tentativa de serem felizes à sua própria maneira, sem a necessidade de se
conformar ao que é esperado delas.
“Neste livro, crio personagens que procuraram
não se render à posição de vítima. Que passaram pelos ciclos de traumas,
compreenderam serem eles repetições do que viera antes, e fizeram deles o
símbolo do que não querem mais perpetuar”, explica a autora, que se descreve
como “nômade, ex-yogi, fotógrafa entusiasta, funcionária do Itamaraty e
escritora”. Inicialmente, com um blog sobre suas viagens, a autora, que
atualmente vive na Dinamarca, começou a buscar sua voz na escrita por vários
caminhos até chegar em seu primeiro livro e também na newsletter In-Sight, onde
divulga textos diversos.
Em “Vanessa Halen: tudo o que não quis
mas já é”, Patricia explora também a realidade de pessoas, como a
protagonista, que por causa do histórico familiar, nunca tiveram um lar e
pela primeira vez se vêem diante da necessidade de criar raízes. Para a autora,
as relações intergeracionais têm um grande papel nas escolhas das personagens,
que não conseguem se permitir relacionamentos saudáveis por medo de reproduzir
o que elas mesmas vivenciaram. “Gosto de explorar a ideia de ciclos, que
se reproduzem e perpetuam, mas sempre com algumas diferenças.”
De Van Halen a Eric Clapton: conheça a
história do livro
Ao retornar ao Brasil para receber a herança de
sua amada tia Leila, Vanessa Halen se depara com os objetos e memórias contidos
naquele apartamento que foi como uma segunda casa e que agora é seu. Enquanto
organiza os pertences da tia-avó, acumulados ao longo de 86 anos de vida,
Vanessa descobre um armário misterioso, cujo conteúdo desencadeia uma
investigação sobre a vida daquela que foi a sua parente mais querida e que ela
descobre não ter conhecido tão bem quanto pensava.
Vítima de um ciclo de abusos, desde a criação
fragmentada por uma mãe ausente que só proporcionou um nome de trocadilho que
irrita Vanessa (uma alusão à banda de hard rock norte-americana Van Halen) e um
pai abusivo e moralmente questionável, Vanessa encontra em tia Leila a
referência familiar que molda sua personalidade. A amizade com a tia é
evocada em diversas passagens do livro, que enfatizam o amor que as duas
compartilharam. Com o faro aguçado de jornalista, Vanessa empreende uma jornada
para preencher as lacunas que não conhecia sobre Leila, enquanto descobre mais
sobre si e seus afetos.
Durante a resolução de burocracias do processo
de luto, Vanessa conhece Eric, que trabalha em um Poupatempo e a coincidência
do nome “criativo” de ambos gera uma primeira conexão. Assim como a jornalista,
Eric carrega o fardo de um nome famoso nos seus documentos: Eric Clapton
Guimarães e Souza. De um flerte inicial despretensioso a uma relação que se
desenvolve em meio aos traumas e limitações de ambos, Vanessa começa a abrir
sua vida complicada para Eric enquanto vai aprendendo com o que se parece o amor.
Em pouco tempo, pequenos aspectos de uma rotina
amorosa se estabelecem. O retorno ao bar do primeiro encontro, os desenhos de
Eric durante cada conversa. O relacionamento com Eric avança paralelo ao
processo de luto de Vanessa. Um mix de sentimentos que se revela a cada etapa.
Mas dar esse passo não é um processo fácil. Com uma relação anterior originada em violência, Vanessa precisa lidar com outros tipos de luto, além da perda de sua tia querida. Para isso, também conta com a amiga Marta, que a acompanha durante suas investigações sobre o passado da tia. A relação com a amiga de longa data é um suporte durante um momento difícil, mas também ilustra a possibilidades de novos começos quando Marta conta a Vanessa que está grávida.
Patricia Tischler / Foto: Divulgação
O primeiro romance de Patricia Tischler
Nascida e criada em São Paulo, Patricia já
morou em Brasília, Florianópolis, Madri, Londres, Tallinn (entre outras) e
atualmente vive em Copenhague. Após deixar a carreira na yoga para trás,
encontrou na escrita (de roteiros e, agora, literária) uma maneira de canalizar
suas áreas de interesse variadas.
Com o histórico na ginástica durante a
juventude e posteriormente a yoga, a relação com a escrita foi postergada por
muito tempo. Aos 30 anos, já funcionária do Itamaraty, Patricia teve a primeira
missão no exterior em Hanoi, Vietnã, e sentiu a necessidade de compartilhar
essa experiência com família e amigos. Fotos e relatos por e-mail deram origem
ao primeiro blog da autora.
Patricia sempre foi uma leitora ávida de
ficção, dos policiais aos romances históricos, e ao longo da vida fez diversas
tentativas de começar a escrever, mas terminava explorando essa sua necessidade
por “mundos inventados” apenas em suas leituras.
Após se dedicar ao estudo de roteiro em
instituições como o Sesc-SP, New York Film Academy e London Film Academy,
Patricia sentiu dificuldade de encontrar parceiros para produzir suas histórias
por meio do audiovisual. Foi então que começou a fazer o curso de narrativas da
escritora Ana Rüsche, com quem já estuda há dois anos, e se encantou com a
liberdade dada pela escrita em prosa. “Descobri na escrita de ficção uma forma
de mostrar as minhas investigações, experiências e descobertas.”
“Vanessa Halen: tudo o que não quis, mas já é” é
o primeiro romance de Patricia e levou pouco mais de dois meses para ser
concluído. “Impressionada com as possibilidades que se abriam, tanto para
contar as histórias que eu queria, como para divulgar meus textos, nem bem
terminei um e já comecei a converter alguns projetos de audiovisual para a
narrativa”, conta a autora que já está com vários projetos na fila, como o
segundo romance, e o livro de contos “Tragédias Paulistanas", que teve um
texto publicado na edição de setembro/outubro da revista The Bard.
Confira trechos do livro:
“Acho que o hábito de escrever cartas foi o que me fez desenvolver um estilo de escrita meio pessoal, quase conversando com o leitor. Tive editores que tentaram me corrigir, fazer do meu jornalismo algo impessoal e menos tendencioso, como se isso fosse possível. Existem tantas realidades quantos pares de olhos que a observam.”
“Sempre penso em sexo com um novo parceiro como uma dança com um par com quem jamais dancei. Os passos, mesmo que ambos os saibamos, normalmente saem meio desconjuntados no início. E é preciso ter um certo senso de humor para persistir naquela coreografia confusa.”
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quis mas já é” pelo site: https://amzn.to/4ffhHpD
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