Os personagens clownescos e
imprevisíveis de O Grito do Trovão surpreendem por suas
ações e, por isso, se aproximam de uma realidade onde ninguém tem o controle
dos acontecimentos. Escrito pelo ator e pedagogo Henrique Cesarino
Pessoa os 10 contos, 21 poemas e uma carta presentes na obra constroem
um mosaico complexo e bem-humorado da sociedade.
Entre as histórias, um menino não
compreende a professora quando ela insiste que coloque o número "ao
quadrado" durante uma atividade sobre potência. Ao descer do ônibus, um
homem se coloca em uma série de interações que beiram o absurdo após perguntar
onde fica a praça Ramos. Um jovem decide abrir uma frutaria para ajudar o
Brasil contanto que o empreendimento tenha dois tipos de tomates.
Com linguagem leve e singular, o
escritor reflete sobre temas do cotidiano ao apresentar uma nova possibilidade
de compreender a contemporaneidade a partir das lentes do humor. O lançamento
convida ainda os leitores a perceber os desafios dos artistas no país, além de
percorrer questões como a inadequação, o excesso de racionalidade, o papel da
cultura e a força da liberdade.
Acredito que por ser diferente
Rodolpho era mal compreendido. Um “outsider” justamente por pertencer à
categoria dos que vão mais fundo nas questões do espírito e talvez por isso não
se adaptasse ao cotidiano, como quem luta diariamente com um demônio interno
para perseverar seus propósitos em um diálogo com a realidade. (O
Grito do Trovão, p. 52)
Prefaciado pelo professor de
português Francisco Marto de Moura, o livro começa leve e vai
gradativamente se tornando mais denso na intenção de levar o público a
percorrer um universo insólito com percepções agudas sobre a alma humana. Este
caminho é trilhado até chegar aos contos “Amigo secreto budista” e “Prima Melancolia
e avó Sabedoria”, que têm influência de escritores clássicos como Edgar Allan
Poe e Machado de Assis.
Dividida como um disco de vinil,
composto por lado A e lado B, a obra encerra a primeira parte com uma carta à
classe teatral, onde há um olhar crítico acerca das artes cênicas. Já o segundo
momento da narrativa apresenta poemas sensíveis e concisos, inspirados em
Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e no movimento concretista brasileiro. Entre
versos e prosa, a obra defende uma sensibilidade e autoexpressão que valorizam
o aspecto humano da escrita.
Henrique Cesarino Pessoa / Foto: Divulgação |
Sobre o autor:
Henrique Cesarino Pessoa é ator e
pedagogo formado pela Universidade de São Paulo (USP). Com especialização em
Clown, trabalhou em diversas peças e ganhou prêmios de atuação em diferentes
festivais nacionais. Foi professor convidado na Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) por oito anos e lecionou no Teatro do Gracinha por quinze anos.
Atualmente dirige, leciona e atua no Esporte Clube Pinheiros e no Espaço Rasa,
onde é coordenador do núcleo de humor “Arrasa no Riso”.
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