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12 outubro 2024

Entrevista: Zulmira Correia

 


Em seu terceiro livro, a escritora Zulmira Correia (@zulmiracorreia_) utiliza-se de ilustrações e da poesia para abordar temas como memória, a casa, a passagem do tempo, o cotidiano e a rapidez das coisas, apresentada como uma analogia presente em seu título. “A duração entre um fósforo e outro” (120 pág.) foi a obra vencedora da categoria poesia do Tato Literário - 1º Prêmio com.tato de Literatura Independente, promovido pela com.tato, marcando a estréia do selo Tato Literário, que é destinado aos contemplados da premiação. 


Na obra, a autora utiliza-se de uma linguagem que se cruza entre a prosa poética e o verso livre, nos levando, de forma experimental, a acompanhar os processos mentais narrativos de uma mulher que se encontra em um momento de transição: desocupar a sua casa da infância para vendê-la em dois dias, mas esse tempo acaba se dissociando na medida em que o texto se amplia. 


Zulmira Correia é escritora, designer, artista e pesquisadora. É de Crato, Região do Cariri, Ceará. Vencedora do V Prêmio Cepe Nacional de Literatura, da Companhia Editora de Pernambuco, na categoria poesia, com o livro de estreia “As cartas de Maria”, sendo a autora mais jovem e única nordestina a levar o prêmio na edição, em 2020. Voltou a publicar em 2023, com o segundo livro “Abissal”, pela Editora Patuá.


Confira abaixo a entrevista completa com a autora



Por que você escolheu abordar temas relacionados à memória e ao tempo?


Zulmira Correia: Memória é sempre um tema presente no que escrevo. Além disso, o livro é uma narrativa experimental que mistura o diário com a prosa poética. Justamente por causa da forma do diário, que me utilizo das datas, horários, a escrita rápida sem pontuação. O livro é um registro da rapidez com que a narrativa se desenvolve. Pensar nessa composição, é uma maneira de experimentar a forma do texto, uma composição visual, que conecta texto e projeto gráfico autoral.



Como foi o processo de escrita do livro?


Zulmira Correia: Antes de ser “a duração entre um fósforo e outro”, o livro se chamava “sem ponto, sem vírgula”, justamente pela sua escrita breve, sem pontuação. Comecei essas escritas no bloco de notas do celular, entre viagens, entre olhares silenciosos, lembranças…  Às vezes as poesias chegavam tão rápido, que o bloco de notas era/é meu instrumento de escrita mais eficaz para não perder minhas metáforas. Eu esqueço tudo muito rápido, e escrever no bloco de notas, foi a solução para não esquecer. Escrever para não esquecer…  



Quais são as principais mensagens que são transmitidas pelo livro?


Zulmira Correia: Os processos de retorno, não importa qual sejam, são sempre desafiadores. Olhar para a casa vazia, para os cômodos antigos, para as memórias, é sempre uma forma de resgate. Mas, muitas vezes, resgatar memória é doloroso. Nesses processos, onde me encontro de volta? 



Você traz parte das suas memórias de alguma forma nos poemas do livro?


Zulmira Correia: Como foi dito na sinopse, eu, na maioria, acabo me incorporando na personagem. Uma das bases da escrita desse texto foi justamente uma ocasião em que retornei à casa do meu avô, uma casa de infância. Muita coisa havia mudado de lá para cá, e pouco do que existe hoje, figura nas memórias que eu tinha do lugar. A cadeira dele permanecia, mas só ela. Eu falei tanto dessa cadeira no livro… a cadeira, talvez tenha sido um dos elementos mais presentes, porque dela eu fui levada para outras metáforas. O quanto mudei também? O quanto permaneci? A cadeira é permanência, mas o que ainda permanece em mim? No final, a casa é só mais um lugar desconhecido. E eu também.



Como você define seu estilo de escrita? 


Zulmira Correia: Eu gosto do meu estilo de escrita, ele é simples, mas intenso. A mistura entre vazios, poucas palavras, e ao mesmo tempo, textos cheios, longos, diálogos, se faz como um experimento de respiro. Imagine a leitura como um respiro: textos mais cheios te fazem prender o fôlego, passagens mais curtas liberam oxigênio do peito.



Que tipo de estrutura você adotou nesta obra?


Zulmira Correia: No caso desse livro, especificamente, acredito que consegui ter uma linguagem ainda mais autoral, porque também fiz o projeto gráfico. Nesse encontro, misturei narrativas visuais e textuais a partir da ideia do diário: daqui surge uma escrita manual, intervenções no texto, como rabiscos, desenhos, riscos. Acessar esse livro, é acessar um diário, registros íntimos e subjetivos. Sou eu. 



Você escreve desde quando?


Zulmira Correia: Minha mãe é professora, então sempre fui influenciada a ler e escrever. Mas, escrever, escrever, pensando no livro como objeto final, aos 13 anos. Era um livro de ficção, que foi amadurecendo ao longo dos anos, na mesma medida em que minha escrita amadureceu. Eu guardo ele com carinho, porque quero publicar em breve.



Qual é seu próximo projeto de escrita?


Zulmira Correia: Meu próximo projeto de livro é um romance, mas tenho algumas ideias em processo de escrita. Me interessa publicar ficção/fantasia. Gosto da possibilidade de experimentar vários gêneros textuais. 



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