Rituais longínquos, maldições
pregadas na parede e amigos monstruosos. Um ônibus para lugar nenhum, um metrô
infinito e uma coleção sanguínea. Esses são cenários que atravessam “Relógios
partidos” (Editora Litteralux, 114 páginas), o primeiro livro da
roteirista carioca Luiza Conde (@luizacma). Com
uma carreira profícua no roteiro, Luiza agora se lança na literatura fantástica
com 12 contos sobre o tempo e os principais medos que acometem a humanidade:
envelhecer, ficar só, errar, escolher, morrer, viver. A autora
fará uma sessão de autógrafos no dia 10 de outubro, na Festa Literária
Internacional de Paraty (Flip) 2024, no espaço para autores independentes
promovido pela feira, às 14h.
A obra tem texto de orelha
assinado pelo escritor e pesquisador Leonardo Villa-Forte. Dividido em três
partes que remetem ao passado (“Tempos que foram”), presente (“Tempos que são”)
e futuro (“Tempos que podem ser”), “Relógios partidos” é
influenciado pelas obras de autoras que conversam com o insólito e o terror,
como Mariana Enriquez, Lygia Fagundes Telles, Silvina Ocampo e Socorro
Acioli.
“O tempo sempre foi uma ideia fascinante para mim, desde pequena. Sempre amei histórias de viagem no tempo, com as suas intrincadas regras de funcionamento e os seus paradoxos”, conta Luiza. Em “Relógios partidos”, o tempo pode ser medido pelas noites passadas em claro desejando um bibelô, os anos lamentando escolhas não feitas, as badaladas defeituosas de um sino, os vagões de um trem, as horas dedicadas a construir uma máquina do tempo ou a duração de uma jornada para um destino desconhecido. “Acho incrível que consigamos dar formas ao futuro, algo que ainda não existe”, explica, justificando a temática escolhida. “E que tenhamos um passado coletivo compartilhado que nos impacta mesmo que não o tenhamos vivido.”
“Relógios partidos” nasceu
de uma oficina de escrita de contos ministrada por Leonardo Villa-Forte. O
processo de escrita e reescrita foi atravessado por duras perdas na vida da
autora: primeiro o pai, depois a mãe. No livro, a morte aparece como um
catalisador de transformações internas e externas nas personagens. “O livro
traz uma mensagem de não conformismo, tanto de um ponto de vista individual, de
romper com os papéis que somos obrigados a performar socialmente, com o que é
esperado de nós; quanto coletivamente de ruptura com o status quo”, define a
escritora, frisando que a obra sustenta algo que lhe é muito caro
artisticamente. “A ideia de que a arte deve causar algum tipo de incômodo, de
desconforto, de deslocamento, porque isso gera reflexão e investigação”,
aponta.
Processos de escrita e
projetos futuros
Nascida no Rio de Janeiro em
1989, Luiza é formada em Letras — Português e Russo pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) e trabalhou no mercado editorial por dez anos. Mas
desde cedo soube que queria escrever: “Sempre adorei ler, e já pequena veio
essa vontade de contar as histórias que surgiam na minha cabeça. Escrevi meu
primeiro livrinho aos 9 anos. Mas foi com 13, depois de ler ‘Crime e Castigo’
[de Fiódor Dostoiévski], que a ideia de ser escritora de fato surgiu”, recorda.
Entre os autores que inspiram sua escrita, a autora vai de clássicos, passando
pela ficção científica e o realismo mágico latino-americano, citando Machado de
Assis, Jorge Luis Borges, William Faulkner, Sylvia Plath, Clarice Lispector,
Adolfo Bioy Casares, Ursula K. Le Guin e Isaac Asimov.
Luiza trocou o mercado editorial
pelo audiovisual aos 27 anos, área em que atua até hoje. Como roteirista,
trabalhou nas séries “Sem filtro” (Netflix), “Vai que cola” (Multishow) e
“Detetives do prédio azul” (Gloob), e é coautora do longa “Jogada ensaiada”
(Vitrine Filmes), vencedor do Prêmio Cabíria na categoria Argumento de longa
infantojuvenil em 2021.
O futuro de Luiza Conde está
cheio de estreias. Ela também pretende começar a escrever seu primeiro romance,
“A Hóspede”, em breve, além de lançar uma nova coletânea de contos fantásticos,
dessa vez com a temática dos labirintos. Em 2025, estreia a primeira peça que
assina como dramaturga, “Memórias da superfície”, uma sátira sobre
influenciadores e a nossa relação com redes sociais.
Luiza Conde / Foto: Divulgação |
Confira um trecho do livro
(pág. 69):
“Sou capaz de jurar de pés
juntos que o monstro que vivia debaixo da minha cama era bastante amigável. Mas
na primeira noite em que eu dormi sozinha na casa, sua aparição provocou em mim
uma reação bastante insensata, e até (tenho vergonha de admitir agora depois de
tantos anos) um pouco ridícula.”
Adquira “Relógios partidos”, de Luiza Conde, no site da Editora Litteralux.
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