“Amanhã tardará” (Editora Planeta do Brasil, 320 págs.) é
o primeiro romance e segundo livro do escritor cearense Pedro Jucá,
nome que ascende na literatura brasileira contemporânea. Inaugurando linha de
autores nacionais do selo Tusquets, da editora Planeta, a obra traz uma
profunda reflexão sobre as complexidades das relações familiares e as marcas
indeléveis que a infância deixa sobre o desejo, a sexualidade e a percepção do
tempo.
Em outubro, o autor continua sua turnê de eventos de
lançamento – que já passou por Rio, São Paulo, Fortaleza e Curitiba –, marcando
presença na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip 2024) e em Lisboa,
Portugal. Na Flip, participa da mesa “Afetos”, que irá abordar as relações
afetivas na literatura e seus reflexos nos escritores e leitores. O evento
acontece na Casa Estante Virtual, no dia 10/10, às 14h, com participação das
escritoras Lorena Portela e Taylane Cruz, e mediação do Pedro Azevedo, curador
da Estante Virtual. Já no dia 17/10, Pedro lança a obra no Wel Well (@welwell.lisbon),
em Lisboa, Portugal, a partir das 17h. Na ocasião, haverá uma conversa com a
escritora Nara Vidal.
Um relato arrebatador sobre as relações familiares e a
condição humana
A trama gira em torno de Marcelo, que, com a iminência da
morte do pai, retorna dos Estados Unidos para a pequena e fria cidade de
Ourives, onde cresceu. Lá, ele se vê forçado a confrontar o passado e as
dolorosas memórias familiares, incluindo a ruptura com a irmã e as relações que
moldaram sua personalidade. A tragédia arrasta a família inteira para um
sofrimento profundo e nunca expurgado. Às margens desse excesso de silêncio,
temas como trauma, finitude e sexualidade assombram cada personagem da trama e
os encaminha para um desfecho que, de tão inevitável, só consegue ser
surpreendente. Do início ao fim do livro, o leitor encara um romance de
formação com aspectos psicológicos delineados e incisivos.
Em uma narrativa densa e introspectiva, mas fluida, e com
influências da psicanálise, Pedro Jucá explora temas universais como o trauma,
o comportamento humano e a imponência da passagem do tempo. O livro,
cuidadosamente construído, promete cativar os leitores com sua abordagem
sensível e profunda das cicatrizes emocionais que carregamos ao longo da vida.
Para o autor, a obra é uma história sobre os laços
familiares com todas as suas complexidades, nuances, contradições,
incongruências, inconsistências e descompassos. “É sobre como família é
brutal”, sentencia, fazendo eco ao narrador da história, e complementa: “Sobre
nosso destino sublime e infernal de carregar indeléveis, na memória e no corpo,
os traços da primeira infância”.
“Amanhã tardará” é dividido em seis partes. Em
cada uma delas, há duas linhas temporais: presente e passado. No tempo
atual, o narrador descreve o retorno a casa em Ourives, uma vila cortada pelo
rio que nomeia o local. Ali reencontra a família nuclear, pai e mãe em idade
avançada, lidando com enfermidades. Ao retratar os anos já vividos, retoma a
própria infância e o início da juventude, incluindo nesse mote, além dos pais,
a irmã – uma das personagens principais da trama – e parentes próximos.
À medida que o enredo avança, acompanhamos o passar dos dias
de uma família que, mergulhada na dor, não consegue se estruturar para lidar
com os infortúnios e, cada um à sua maneira, entrega-se a um processo solitário
de autodestruição. Marcelo, a lente que guia o leitor na história, descreve com
crueza desconcertante os mecanismos pelos quais inflige dor a si
mesmo.
A estrutura psicológica arquitetada e as metáforas empregadas pelo escritor são destaques da obra. Com maturidade, Pedro explora os sentimentos de cada personagem, concedendo-lhes uma diversidade emocional ampla e complexa. Pouco a pouco, o escritor vai encaixando as peças do enredo para, no fim, o leitor compreender a causa – e as consequências – dos atos do protagonista. O livro se conclui como um relato arrebatador e desconcertante da condição humana, posicionando Pedro Jucá entre um dos nomes expoentes da nova geração da literatura brasileira.
O livro vai escrevendo a gente
Pedro Jucá nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1989. Morou na capital cearense até 2018, quando migrou para o Paraná, no sul do país. O motivo da mudança foi profissional: havia sido aprovado no concurso para Procurador do Estado, morando inicialmente em Paranaguá, no litoral, e depois em Curitiba, onde permanece até hoje, vivendo com seus três gatos: Willow, Hopper e Nimbus.
O cearense é formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC), pós-graduado em Escrita Criativa pela Universidade de Fortaleza (Unifor), e pós-graduando em Psicanálise, Arte e Literatura pelo Instituto ESPE.
Ainda que atue profissionalmente na área jurídica, ao
escolher se dedicar nos últimos anos a formações relacionadas às artes, em
especial à escrita, Pedro busca explorar outros talentos. Crescido numa família
de artistas, o autor acredita que suas primeiras influências vieram de
quem o rodeava quando pequeno. “Vovô escreveu livros técnicos e redigiu
poemas; vovó era formada em acordeon, cantava, tocava piano; mamãe foi
professora de dança a vida inteira; meus tios todos têm veia artística e, do lado
do meu pai, vovó sempre leu muito”, explica.
Sua primeira publicação veio a partir da sensibilidade de
sua avó. Quando Pedro fez 18 anos, ela compilou as histórias que ele escrevia
quando menino num livrinho feito artesanalmente. Passadas a infância e
adolescência, quando escreveu contos avulsos para premiações literárias, só
retornou definitivamente ao universo literário em 2020, na época da pandemia, e
considera esse o grande projeto da sua vida: se dedicar à escrita.
E a escolha deu frutos. Na breve carreira, já foi
contemplado com prêmios como o Prêmio Ideal Clube de Literatura, Prêmio Off
Flip e Prêmio de Literatura UNIFOR. Do processo de isolamento nasceu o livro de
contos Coisa Amor (Editora Urutau) e também os primeiros rascunhos de “Amanhã
Tardará”, que levou mais de quatro anos para ser finalizado.
Atualmente é agenciado pela Agência Riff e escreve crônicas para o portal
Curitiba Cult.
A estreia do romance, agora em 2024, tornou-se um marco em
sua carreira literária. “A obra me transformou num escritor mais maduro, com
maior segurança e desenvoltura para, inclusive, saber abrir mão de
trechos, conceitos, ideias e palavras, tudo em prol do efeito final”, revela
Pedro. O jovem autor ainda comenta sobre o impacto do livro em sua vida pessoal
e a tomada de consciência de que uma das questões principais da obra, a
respiração, tinha correlação direta com sua experiência com a ansiedade. “A gente
escreve o livro, e, de alguma maneira, o livro vai escrevendo a gente também”,
sentencia.
Pedro Jucá / Foto: Roberto Geraldo Filho |
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