Em meio às vastas areias do Sahel, uma das regiões mais
áridas e perigosas do planeta, traficantes de vidas operam nas sombras. Ali,
refugiados e migrantes que almejam chegar à Europa em busca de vida nova
enfrentam a violência de milicianos, exploradores de uma terra devastada por
guerras e desigualdades. Essa luta por sobrevivência está no centro do
romance Contrabandistas de sonhos e traficantes de vidas,
de Marcos Emílio Frizzo. Em uma linha tênue entre ficção e
realidade, a história segue os caminhos tortuosos de um dos conflitos
contemporâneos mais cruéis: o tráfico humano e a crise migratória na África.
Após quase duas décadas dedicadas ao trabalho humanitário no
Norte africano, o médico italiano Carlo precisa retornar a Roma para lidar com
a morte do pai, um rico empresário. Ele testemunhou tragédias da vida no
deserto e dos que cruzam o Saara em busca de oportunidades e, ao retornar à
Europa, também se deparou com a perversidade de uma sociedade reacionária e
preconceituosa. O choque de realidades o obrigou a encarar a vida que tentou
abandonar, como herdeiro de uma família investidora da indústria bélica e que
contribui para a perpetuação destes cenários.
Em um paralelo que separa os dois mundos, cada qual com suas
mazelas, o autor explora a relação entre eles: o contexto histórico do
colonialismo e o papel dos países desenvolvidos na manutenção da pobreza e dos
conflitos na África. Mostra que as origens da desigualdade no mundo não estão
apenas associadas à economia ou política, mas a uma rede complexa de
interesses. É o que mantém viva a miséria hereditária no mundo, ou seja, a
pobreza intelectual e de valores que segue alastrando violência, guerra e escravidão
de geração a geração.
[...] Já existia a tradição de comércio de mercadorias no
Sahel. Na ancestralidade de povos nômades e seminômades estava o conhecimento
para o transporte de carga em rotas que margeiam e cruzam o deserto. Então foi
o caso de unir a oferta com a demanda. A carga hoje em dia é constituída de
seres humanos provenientes de países devastados pela miséria. E a motivação
para esses pobres infelizes são seus sonhos de viver em um mundo melhor. (Contrabandistas
de sonhos e traficantes de vidas, pág. 74)
Contrabandistas de sonhos e traficantes de vidas é
resultado de estudos sobre questões migratórias e causas do empobrecimento da
África, após experiências do professor universitário no exterior. Quando morou
em Madri e Roma, testemunhou episódios xenofóbicos contra imigrantes que o
impactaram profundamente; assim como quando esteve em regiões remotas do Sahel
e pôde observar o cotidiano de grupos isolados.
Narrado em terceira pessoa, o enredo se divide em sete
capítulos com uma escrita sensível e poética. A proposta do autor Marcos
Emílio Frizzo é provocar o leitor não só a pensar sobre a exploração
humana nos mais diversos níveis e sentidos, mas no que cada um faz para mudar
essa realidade, independentemente da parcela de contribuição. “Acredito que a
literatura seja mais do que apenas um meio de distração, mas uma poderosa
ferramenta de informação e de capacitação para entendermos o complexo mundo
contemporâneo”, finaliza.
Lançamento no Instituto Ling
No lançamento de “Contrabandistas de sonhos e traficantes de
vidas”, dia 14 de dezembro, das 10h30 às 12h30, haverá uma apresentação do
contexto da obra e, em seguida, o autor responderá as perguntas da plateia.
Após essa atividade, o público será convidado para a sessão de autógrafos no
saguão do Instituto
Ling, centro cultural que reúne cursos, eventos, galeria, espaços
multiuso e gastronomia, em Porto Alegre (RS).
Ficha técnica:
Marcos Frizzo / Foto: Divulgação
Sobre o autor:
Marcos Emílio Frizzo é ítalo-brasileiro, nascido em
Porto Alegre. É biólogo bacharel em Fisiologia, com mestrado em Neuroanatomia,
doutorado e pós-doutorado em Neurociências. Atua como professor Titular do
Departamento de Ciências Morfológicas, na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul.
Também é pesquisador das questões migratórias no mundo e as
causas históricas do empobrecimento da África. A paixão por viagens e pela
academia o impulsionou a adentrar na literatura; reuniu conhecimentos,
observação in loco e pesquisas relacionadas a questões humanitárias e sociais
para escrever os romances As Veias Escuras do Saara e Contrabandistas
de sonhos e traficantes de vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário.