A duração entre um fósforo e
outro (selo Tato Literário, 120 pág.), novo livro de poesia da escritora
cearense Zulmira Correia (@zulmiracorreia__), trabalha a casa, o tempo e a memória a
partir da poesia e de recursos visuais que mesclam ilustrações e rabiscos.
Vencedora do Tato
Literário - 1º Prêmio com.tato de Literatura Independente, promovido
pela com.tato, na
categoria poesia, a obra marca a estreia o selo de publicação Tato Literário,
destinado aos contemplados pela premiação. O texto de apresentação do livro é
assinado pela escritora capixaba Carla Guerson.
No dia 5, às 20h, Zulmira
participa junto com Bárbara Zarif (@barbarazarif)
e Maitê Lamesa (@microsentimavos) de roda de conversa mediada por Thaís
Campolina (@thaiscampolina)
com o tema “Viagem como motor poético”, na Ponta de Lança (@livrariapontadelanca),
localizada na Rua Aureliano Coutinho, número 26, na Vila Buarque.
Ela também lança a obra na 27ª Bienal do
Livro de São Paulo, no dia 8 de setembro, às 14h, no estande do Escreva,
Garota!, onde integra a mesa de debate “Poesia contemporânea feita por
mulheres”, ao lado das poetas Bruna Escaleira e Thaís Campolina. O evento
acontece no Distrito Anhembi, localizado na Av. Olavo Fontoura, 1209, no bairro
de Santana, na Zona Norte de São Paulo.
Por meio de uma linguagem que se
cruza entre a prosa poética e o verso livre, Zulmira nos leva, de forma
experimental, a acompanhar os processos mentais narrativos de uma mulher que se
encontra em um momento de transição: desocupar a sua casa da infância para
vendê-la em dois dias, mas esse tempo acaba se dissociando na medida em que o
texto se amplia. Primeiro pelos minutos, que viram horas, depois semanas. Em
capítulos marcados pela passagem do tempo, a poeta cearense se funde à
personagem neste processo, no qual redescobre memórias, cômodos vazios e caixas
que precisa esvaziar ou encher.
A autoria se utiliza de datas, horários, escrita rápida sem pontuação e elementos estéticos como desenhos e linhas que aproximam a obra à ideia de diário. Repleto de ilustrações, rabiscos e escritos à mão, os versos se fundem a isso intencionalmente. Todo o projeto gráfico de “A duração entre um fósforo e outro” foi pensado e realizado pela própria Zulmira. “Acessar esse livro, é acessar um diário, registros íntimos e subjetivos. Sou eu”, define a escritora.
O tempo, a percepção de sua
passagem e a rapidez das coisas se revelam como o fio condutor dos poemas do
livro. Mas, sutilmente, Zulmira se afasta de marcadores temporais típicos como
o relógio e o calendário e se detém no poder das lembranças e, assim, constrói
um cotidiano perdido. “Eu me utilizo da expressão ‘a duração entre um fósforo e
outro’, como uma unidade de medida temporal”, comenta a poeta.
O que importa, então, é o
processo de descoberta despertado pela necessidade de desocupar uma casa.
Marcado pela subjetividade, em muitos momentos, eu-lírico e autora se fundem na
obra. A poeta afirma que a ideia do livro surgiu da experiência de retornar à
casa de seu avô, local onde passou muitos momentos da infância.
“Os processos de retorno, não
importa qual sejam, são sempre desafiadores. Olhar para a casa vazia, para os
cômodos antigos, para as memórias, é sempre uma forma de resgate. Mas, muitas
vezes, resgatar memórias é doloroso. Nesses processos, onde me encontro de
volta?”, questiona.
“A raiz do que escrevo está no
lugar onde coloco o pé”
Nascida em Crato, região do
Cariri, no Ceará, Zulmira é escritora, designer, artista e pesquisadora.
Graduou-se em Design Gráfico pela Escola de Belas Artes, UFBA (Universidade
Federal da Bahia), é mestra na linha de Design e Artes Visuais pelo Programa de
Pós-Graduação da UFBA/EBA, com direcionamento para livro de artista,
publicações independentes e escrita expandida. Em paralelo, pesquisa os
saberes, práticas e ofícios gráficos do Nordeste, em especial, do Cariri
cearense, com foco em xilogravura e cordel, das cidades de Crato e Juazeiro do
Norte.
Em 2020, venceu o V Prêmio Cepe
Nacional de Literatura, da Companhia Editora de Pernambuco, na categoria
poesia, com o livro de estreia “As cartas de Maria”, sendo a autora mais jovem
e única nordestina a levar o prêmio na edição. “Abissal”, seu segundo livro,
saiu pela Editora Patuá no ano de 2023. Criou, em 2019, o projeto autoral
Respiros Poéticos, RESPO, que expande os campos da arte visual para a
literatura e design. Hoje, o projeto é uma plataforma livre de criação
multidisciplinar e editora independente.
A autora nasceu, cresceu e
permanece vivendo na área rural da cidade, rodeada pela Chapada do Araripe.
Muitas das suas narrativas de escrita estão permeadas por esse espaço. Zulmira
gosta de “colocar o pé no chão e sentir o silêncio para escrever”. “Ter o pé na
terra é quase como plantar raízes. É assim com a escrita. A raiz do que escrevo
está no lugar onde coloco o pé.”
Sobre o Tato Literário - 1º
Prêmio com.tato de Literatura Independente
Realizado em 2023, o Tato Literário -
1º Prêmio com.tato de Literatura Independente, promovido pela com.tato, teve como objetivo
viabilizar a publicação e distribuição de obras inéditas de autores e autoras
independentes. Na categoria Conto, o livro selecionado foi "Beija-flor
de concreto", do autor piauiense Andrey Jandson da Silva (@andreyjandson).
Já na categoria Poesia, "a duração entre um fósforo e outro", da
cearense Zulmira Correia (@zulmiracorreia__) foi a obra vencedora. Ambos estão sendo
publicados
A com.tato é uma agência online
que tem como objetivo fortalecer a imagem de autores, autoras e editoras
independentes por meio de uma comunicação humanizada e autêntica. Criada pela
jornalista Karoline Lopes, a empresa passou a focar somente no mercado literário
em 2022. Conta também com os sócios e jornalistas Marcela Güther e Vincent
Sesering. Acesse: www.comtato.co ou
siga no Instagram (@comtatocomunicacao).
Confira o poema “a história do
canivete” (pág.28):
vovô tirava o canivete do
bolso cortava laranjas
e me entregava as cascas
dizia que as cascas me dariam
as respostas se eu jogasse
elas entre uma quina e outra
do telhado
“Vá, faça uma pergunta. Se
sim, vai ficar pregada na madeira.
Se não, cai.”
“Vou voltar um dia?”
a casca de laranja ficou presa
na ripa
por isso voltei
Adquira “A duração entre um
fósforo e outro”, via site da Com.tato Comunicação:
A duração entre um fósforo e outro – com.tato (comtato.co)
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