Um pai autoritário, uma mãe
submissa e seus quatro filhos. Discretas perversidades, diferenças suprimidas e
frustrações disfarçadas nas relações entre eles são os ingredientes desta
história, aparentemente serena, que é a contundente radiografia de uma família
suas feridas adormecidas, vulnerabilidades, contradições e fraquezas.
Em capítulos breves e quase
independentes, alternando presente e passado, Sara Mesa compõe o mosaico desse
núcleo familiar cheio de segredos e zonas de sombra. E mostra uma família que
se revela aos poucos, em suas brechas, códigos clandestinos, fingimentos e
mentiras, por meio de seus personagens que alternam autoritarismo, obediência,
vergonha e silêncio. Retornando ao espaço literário já característico de sua
prosa, a autora se alimenta das ambiguidades e estranhezas humanas, provocando
o leitor e suas expectativas morais e afetivas.
Aqui, constrói-se de modo
singular a infelicidade que tão bem sabem criar certas famílias e não se deixa
passar despercebido o apuro semântico que evidencia: em A família,
a linguagem opera como ferramenta de controle. É assim que eu gosto, Martina,
que você fale corretamente , diz Pai a uma de suas filhas a certa altura do
romance.
Enquanto passamos por entre os
cômodos desta casa, fica difícil resistir a olhar por debaixo do tapete,
através da fenda aberta da porta, em direção ao que não parece conveniente. Ao
escutar com atenção, uma pergunta ecoa: o que você faz quando ninguém está te
olhando?
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Sobre a escritora:
Sara Mesa nasceu em Madri, em
1976, e mudou-se para Sevilha ainda criança. É autora dos romances El
trepanador de cerebros (2010), Un incêndio invisible (2011), Cuatro por cuatro
(2012, finalista do prêmio Herralde de Novela), Cicatriz (2015, prêmio El Ojo
Crítico de Narrativa) e Cara de pan (2018). Também assina a aclamada coletânea
de contos Mala letra (2016) e o breve ensaio Silencio administrativo (2019).
Suas obras mais recentes são Um amor (Autêntica Contemporânea, 2023) e A
família (ganhador, em 2022, do prêmio Cálamo Extraordinario e, em 2023, do
prêmio Andalucía de la Crítica). Seus livros foram traduzidos para 14 idiomas.
Sara Mesa / Foto: Reprodução |
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