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14 julho 2024

Entrevista: Solange Ocker

 


A escritora Solange Ocker nasceu e cresceu na vila Armação da Piedade, em Santa Catarina, composta por famílias pescadoras. À beira do mar, o local foi primeiro construído por portugueses durante a colonização, mas agora são os trabalhadores da pesca que vivem ali. Esta comunidade, repleta de história, tradições e também perdas, foi retratada no livro Não se esqueça de mim!, escrito pela autora como uma forma de homenagear suas raízes.

Na obra, ela atravessa complexidades presentes na região e que dialogam com os contextos sociais conhecidos por muitas pessoas, principalmente mulheres, em todas as regiões do país. "A essência das experiências vividas aqui, as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, a força das relações familiares e comunitárias, a luta pela sobrevivência e a constante presença da saudade são temas universais que ressoam com muitas outras comunidades e realidades no Brasil”, explica.

Além de detalhar o sentimento constante de perda presente nesses moradores, também retrata a luta das mulheres por se firmarem em uma profissão majoritariamente exercida por homens. Com uma protagonista responsável por assumir o comando do lar depois do desaparecimento do marido, a autora ficcionaliza a experiência feminina que muito conheceu durante a vida na vila.

Leia abaixo a entrevista completa:


No romance “Não se esqueça de mim!”, você retrata não só a vida e os desafios nas pequenas comunidades pesqueiras, mas também as muitas vidas perdidas de trabalhadores no mar e as famílias que ficaram com o fardo da saudade. Por que decidiu abordar esta questão? De que forma esta realidade se conecta com você?

Solange Ocker: Nasci e cresci nessa comunidade pesqueira. Desde cedo testemunhei a dureza da vida no mar, mas o que mais intensificou essa percepção foi ter casado com um pescador. As longas ausências e o medo constante pairavam sob mim e todos aqueles que esperam seus familiares em terra firme.

Certa feita, um acidente marcou profundamente nossa comunidade. Um barco com todos os tripulantes desapareceu. Nenhum deles foram encontrados. Percebi que, em um lugar pequeno, que vivencia as mesmas expectativas e rotinas, a dor de uma família é a dor de todos.


A trama da obra se passa em Santa Catarina, na turística cidade de Governador Celso Ramos – inclusive lugar em que você cresceu com a sua família. Por que decidiu escrever sobre a vila da Armação da Piedade? Como o contexto específico da vila consegue se aproximar das realidades de brasileiros de outras regiões e estados?

Solange Ocker: Escrever sobre a Armação da Piedade é uma maneira de homenagear minhas raízes e compartilhar a riqueza cultural desse lugar. A essência das experiências vividas aqui, as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, a força das relações familiares e comunitárias, a luta pela sobrevivência e a constante presença da saudade, são temas universais que ressoam com muitas outras comunidades e realidades no Brasil.


De que maneira os temas de empoderamento feminino e assédio sexual são abordados através das experiências das personagens Amélia e a mãe, no contexto dos anos 1960 e 70?

Solange Ocker: A mãe de Amélia simboliza uma geração de mulheres que tiveram menos oportunidades, pois viveram em um tempo marcado por normas patriarcais rígidas. Mulheres que sofriam em silêncio, carregando as cicatrizes do assédio e da submissão esperada pela sociedade da época.

Entretanto, mesmo em meio à opressão silenciosa, as personagens lutaram com coragem em busca de voz e liberdade. Elas personificam a resistência e a determinação, reforçando sobre a importância de combater as injustiças de gênero em todas as suas formas.


A cultura açoriana e os locais emblemáticos de Governador Celso Ramos, como a Igreja Nossa Senhora da Piedade, estão muito presentes na trama. Para você, qual a importância de abordar a presença colonizadora portuguesa na região e como essa herança cultural influencia a identidade dos personagens e a dinâmica da comunidade no romance?

Solange Ocker: A abordagem da presença colonizadora portuguesa da herança cultural açoriana é fundamental para contextualizar a identidade dos personagens e a dinâmica da comunidade. O livro ressalta essas heranças diretamente na personalidade e nos valores dos personagens. A fé, a resiliência e a valorização das famílias, por exemplo, são aspectos centrais que derivam dessa cultura.


Qual a importância da preservação da cultura açoriana para o país; e como você acha que a literatura contribui para o processo de proteção dessa memória?

Solange Ocker: A cultura açoriana é uma parte fundamental da identidade cultural de muitas comunidades no Brasil, especialmente no litoral sul do país. A literatura tem o poder de documentar e registrar essa herança e manter viva a história e as tradições que moldaram essas regiões.



Sobre a autora: 

Solange Ocker é professora e empreendedora, natural de Governador Celso Ramos, cidade do litoral catarinense. Formada em Língua Portuguesa e Literatura, com pós-graduação em Literatura Infantojuvenil, mergulha no mercado do livro com Não se esqueça de mim!, romance regional que aborda com sensibilidade as vidas perdidas ao longo das décadas, na atividade pesqueira. 

Instagram da autora: @solangeockerr

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