Entrevista: Rosa Scarlett - Tomo Literário

 


Rosa Scarlett é roteirista, escritora e assistente social. Mulher negra e moradora da periferia, está lançando seu mais novo livro Rasgaram o livro do Edu, publicado pelo Grupo Caravana Editorial.

 

É também autora dos livros Belo despertar, Nas tramas das famílias, Momento de poesia, Contos pra libertar, co-autora do Planner ciclos e Estação alegria.

 

Seu contato com a literatura se deu com os livros didáticos. O desejo de escrever permaneceu em Rosa por muito tempo. Se tornou esposa, mãe e decidiu ser escritora.

 

Seu novo livro conta a história de Edu, filho único e apaixonado por livros Edu só quer ter paz para a leitura, mas não tem apoio dos pais que acreditam que seu hobby virou vício. Quando sofre um ataque racista na escola, não consegue pedir ajuda porque duas irmãs aparecem em sua casa, o perseguem e recebem toda a consideração dos pais. Edu precisa decifrar o mistério envolvendo as irmãs e aprender a se defender.

 

Histórias como as de Edu acontecem na vida real. De acordo com reportagem do G1 “mais de 3 mil denúncias de discriminação em escolas estaduais de São Paulo foram registradas somente em 2023.”

 

E como fica o emocional das crianças e adolescentes? Rasgaram o livro do Edu proporciona refletir sobre a subjetividade de adolescentes negros, a responsabilidade das escolas, das famílias e do poder público.

 

Na entrevista concedida ao Tomo Literário a escritora Rosa Scarlett conta sobre seu contato com a literatura, fala sobre o novo livro, comenta sobre os personagens negros na literatura brasileira, fala sobre liberdade, autores que a influenciaram na escrita e muito mais.

 

 

Tomo Literário: Como foi o seu primeiro contato com a literatura e como decidiu se tornar escritora?

 

Rosa Scarlett: Meu primeiro contato com a literatura foi através dos livros didáticos, neles conheci grandes nomes como Cecília Meireles e Vinicius de Moraes e me apaixonei. Depois tive acesso aos livros Para gostar de ler com as crônicas de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. Fiquei tão apaixonada pela escrita que escrevi meu primeiro texto com 10 anos, fui escrevendo, recebendo apoio dos amigos que diziam que eu deveria ser escritora. Mas em algum momento da adolescência achei que era uma carreira impossível para mim. Na época, não existia celular, nem internet. No bairro em que eu morava não havia livraria, nem biblioteca. Parei de escrever, segui por outros caminhos e me tornei assistente social, esposa, mãe... Todavia, a imaginação fértil e o desejo de escrever permaneceram em mim por algumas décadas. Então, depois de mais de quarenta anos de vida, com mais recursos tecnológicos, financeiros e emocionais, sai do armário e decidi ser escritora.

 

Tomo Literário: Você está lançando “Rasgaram o livro do Edu”, pelo Grupo Editorial Caravana. Como surgiu a ideia do livro?

 

Rosa Scarlett: A ideia surgiu de forma despretensiosa, eu queria escrever uma história divertida sobre um adolescente negro apaixonado por literatura e que precisava investigar o aparecimento de duas irmãs. Sendo negro, ele sofria racismo. Só com o passar do tempo, me dei conta do quanto a história é um tema importante e atual. Na verdade, o livro de alguma forma também fala sobre mim. O livro não é autobiográfico, mas é claro que também já sofri racismo na escola.

 

Tomo Literário: O livro aborda discriminação em escolas, como foi retratar essa situação de discriminação que recai sobre um aluno negro?

 

Rosa Scarlett: Foi forte, mas também divertido porque o livro fala muito do emocional do Edu. Ele é o narrador, é muito inteligente, um amante das palavras, um leitor voraz e por vezes sarcástico. Mas, no final do livro chorei a dor do Edu e a minha também. 

 

Tomo Literário: O que você acredita que pais e professores podem fazer para que não haja discriminação no ambiente escolar?

 

Rosa Scarlett: Educação é a grande chave. Crianças e adolescentes precisam ser educados para não perpetuar preconceitos. E aí, pais, educadores e agentes públicos também precisam mudar, precisam buscar educação, conhecimento e letramento racial. Não adianta a gente falar que não tem preconceito e continuar tendo verbalizações e ações racistas. Para a sociedade mudar, precisamos ser antirracistas e assim a escola muda também. Acredito que o ambiente escolar reproduz o mundo lá de fora e ao mesmo tempo contribui para a continuidade ou mudança desse mundo.



Como você tem observado a representação de personagens negros na literatura brasileira?

 

Rosa Scarlett: Percebo grandes avanços, pois hoje existem escritores negros em evidência como Conceição Evaristo e Jeferson Tenório; e porque existem movimentos importantes para dar visibilidade a escritoras do passado (ainda presentes) como Maria Firmina dos Reis e Carolina Maria de Jesus.


Tomo Literário: Desde que começou a escrever até o lançamento, qual foi a etapa mais complexa?

 

Rosa Scarlett: Acho que o mais complexo é ter que ocupar várias frentes de trabalho como divulgação, vendas e organização do lançamento. Mesmo com uma editora de maior porte, atualmente os escritores precisam fazer mais do que escrever. Fico feliz por ter algumas habilidades, mas lamento por escritores que são tímidos e nem se imaginam gravando um vídeo falando sobre seu livro.  

 

Tomo Literário: Você também é autora dos livros Belo Despertar, Nas Tramas das Famílias, Momento de Poesia, Contos pra Libertar, co-autora do Planner Ciclos e Estação Alegria. Qual dos livros você diria que representa mais o seu estilo de escrita? Por que?

 

Rosa Scarlett: Essa é a pergunta mais difícil, rssss. Amo poesia, mas Contos pra Libertar me representa mais até o momento. Gosto de escrever textos curtos e sobre temas fortes, mas de forma delicada. Bem, é o que tento fazer. Rasgaram o livro do Edu é o meu primeiro romance e foi bastante desafiador. 



Tomo Literário: O que te motiva a escrever?

Rosa Scarlett: O desejo de compartilhar minhas ideias, minha indignação, meus risos, meus sonhos e se possível, o meu amor.

 

Tomo Literário: Vou pegar um gancho no título do seu livro “Contos para Libertar” e fazer a seguinte pergunta: para você, o que é ser livre?

 

Rosa Scarlett: Liberdade da forma mais ampla é algo que estamos longe de conhecer, não há como falar em liberdade numa sociedade com tanta desigualdade e com tantos preconceitos. Ainda temos guerras, fome e miséria no planeta. Não dá pra pensar em liberdade de uma forma mais ampla quando uma mulher é morta simplesmente porque terminou um relacionamento. Mas precisamos sonhar e lutar pela liberdade, essa foi minha singela contribuição quando escrevi Contos pra Libertar. Do ponto de vista pessoal, eu me sinto livre quando escrevo.


Tomo Literário: Quais são os escritores que, de alguma forma, influenciaram o seu processo de escrita?

 

Rosa Scarlett: Acho que ainda não sei a resposta. Vou falar de gente que eu gosto, tá? Quando era garota, amei conhecer Cecília Meireles. Era ou sou rsss, apaixonada por Rubem Braga. Sou muito fã da Conceição Evaristo, amei ler Torto Arado do Itamar Vieira Jr. Porém, me sinto muito pequena diante de todos os escritores que admiro, espero que algum dia, alguém consiga fazer essas análises sobre o meu texto. Eu não consigo.

 


Tomo Literário: Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária?

 

Rosa Scarlett: Não e não. Escrever pra mim é um luxo, sou mãe de menino, de cachorro, assistente social, companheira e muitas coisas. Escrevo porque preciso, além disso sou geminiana com ascendente em gêmeos rssss.

Mas vou deixar aqui o link de uma poesia que fala muito de mim e da minha escrita. Me rendeu o terceiro lugar no Concurso de Poesia da Scriv.

https://scriv.com.br/rosa-scarlett/esc-250286054


Tomo Literário: Que livros você recomendaria aos leitores do site?

Rosa Scarlett: Meus? Rssss, todos, mas em especial Rasgaram o livro do Edu. Meu lançamento.

 

Tomo Literário: Vamos fazer um “isto ou aquilo” e você complementa com o que achar necessário.

Escrever histórias curtas ou histórias longas?

Rosa Scarlett: Curtas

Prosa ou poesia?

Rosa Scarlett: Prosa

Cinema ou literatura?

Rosa Scarlett: Literatura

Ler o livro físico ou ler e-book?

Rosa Scarlett: E-book

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário.

Pages