Nem sempre
é fácil manter o otimismo durante o enfrentamento de doenças. Isso pode ser
ainda mais desafiador para crianças, que muitas vezes não entendem a gravidade
da situação ou o que está acontecendo. Voluntária na oncologia pediátrica de um
hospital, a escritora Ana Paula de Abreu dedicou tempo a
contar histórias com mensagens de esperança para os pacientes internados.
Quando percebeu como as narrativas transformavam o dia dos pequenos, decidiu
publicar um livro em que a personagem também está na luta contra o câncer
infantil.
Assim
surgiu Cabelo de Estrelas, inspirado nas experiências que a
autora teve ao lado de crianças e suas famílias. Entre as ilustrações sensíveis
em aquarela, pintadas pela artista Ana Cardia, a autora narra a
trajetória de uma menina que se vê no espelho e, por estar com alopecia devido
à quimioterapia, imagina seu cabelo das formas mais criativas, com estrelas,
flores e conchas do mar.
Nesta
entrevista, a especialista em Literatura Infantil e Psicologia Positiva fala
sobre o poder da literatura para ajudar as crianças em momentos difíceis, além
de lições de vida que aprendeu no voluntariado. Confira na íntegra:
Em "Cabelo de Estrelas", você leva uma mensagem de otimismo e
esperança para as crianças com câncer enfrentarem os dias escuros. Na sua
visão, qual o papel da literatura para ajudar os pequenos leitores e suas
famílias nesse momento desafiador?
Ana Paula de Abreu: A literatura ajuda a criança
internada a ter um tempo de lazer, a voltar a imaginar e a ser criança. Sendo a
protagonista uma menina com câncer, o livro também funciona como uma
inspiração, um alento, uma identificação com a criança que pode perceber que
ela não é a única a passar por este desafio, e que este tempo difícil é
doloroso, sim, mas ele também passa. O livro traz uma mensagem de esperança, de
usarmos nossos vagalumes interiores para enfrentarmos os dias escuros.
Você foi voluntária de uma oncologia pediátrica de
um hospital, onde lia histórias para as crianças internadas. Como essa
experiência inspirou a sua trajetória enquanto escritora?
Ana Paula de Abreu: Um dia me chamaram no hospital
porque uma criança tinha lido um livro meu e, como viu que a autora era da
mesma cidade, quis me conhecer. Neste dia, levei meus livros e li as histórias
para ela. A partir disso, comecei a frequentar o hospital semanalmente para ler
para as crianças internadas na ala oncológica. Essa experiência me fez ver a
importância da literatura no âmbito hospitalar. Então, comecei a pensar em
escrever uma história cuja protagonista estivesse enfrentando a doença, assim
como essas crianças.
Você tem pós-graduação em Literatura Infantil e
Psicologia Positiva. Na sua opinião, qual a importância de falar abertamente
com as crianças sobre o câncer infantil, um tema tão difícil de abordar?
Ana Paula de Abreu: Muitas vezes, não abordamos os
temas difíceis com as crianças por receio de como vão receber as informações.
Porém, esse medo nosso gera mais insegurança e ansiedade nelas. Elas sabem que
algo está acontecendo (no caso de uma doença, por exemplo), mas o fato de não
entenderem sobre o problema, aliado ao fato de saberem que estamos escondendo
informações, é muito mais prejudicial do que conversarmos sobre o tema. A
literatura é uma ótima ferramenta para iniciar esse tipo de conversa.
Qual foi a maior lição que você aprendeu ao
interagir com crianças em tratamento contra o câncer, e como essa lição
influenciou sua perspectiva sobre a vida?
Ana Paula de Abreu: Aprendi que as crianças, mesmo
doentes, só querem continuar a ser crianças. Querem poder criar, imaginar,
brincar, mesmo numa cama de hospital. Aprendi que devemos dar valor à nossa
saúde e passar mais tempo com as pessoas que amamos, pois nunca sabemos o que o
futuro nos reserva.
Conte um pouco mais sobre o projeto "Boneca
Esperança”, uma bonequinha de turbante confeccionada para ajudar crianças com
câncer. Como a iniciativa está contribuindo nesse sentido?
Ana Paula de Abreu: A Boneca Esperança é um projeto
que conheci enquanto escrevia o livro, de uma mãe, a Valeria Krelling, que
criou a boneca para ajudar no tratamento de câncer da sua filha. Hoje, a
própria mãe que faz as bonecas passa por um tratamento de câncer de pâncreas.
As bonecas continuam a ser vendidas para ajudar neste tratamento. Para cada
boneca vendida, uma é doada para alguma instituição. A Boneca Esperança aparece
no livro, dando conforto à personagem principal da história.
Sobre a autora:
Ana Paula
de Abreu sempre gostou de escrever histórias, mas só foi transformar a escrita
em carreira após o nascimento da filha, quando se aproximou das narrativas
infantis. Hoje, já tem 14 livros publicados e mais de 600 mil cópias vendidas.
A escritora também é pós-graduada em Literatura Infantil e Psicologia Positiva
e cursa a pós-graduação em Neurociências, Desenvolvimento Infantil e Educação.
Redes
sociais da autora
Instagram: @anaabreuescritora
Site: Ana Paula de Abreu
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