Rodrigo Goldacker (@rodrigoldacker) escreve intensamente
desde os doze anos. Em seu perfil no Medium são mais de mil e
quinhentos seguidores e uma centena de textos que foram publicados desde 2016.
Rodrigo é um dos cinco finalistas da primeira edição do Prêmio Amazon de
Literatura Jovem com a ficção “Eu Só Existo às Terças-Feiras”, selecionado entre quase
700 livros. O vencedor do prêmio será anunciado no dia 27 de maio. A obra, por
ser finalista, está sendo adaptada para audiobook.
“Eu Só Existo às Terças-feiras” foi finalizado em
outubro de 2017 e havia sido previamente inscrito no Prêmio Kindle em 2022.
Influenciado pelo processo de individuação, conceito recorrente na obra do
psiquiatra Carl Jung, o livro surgiu como uma expansão de uma autobiografia escrita
por Rodrigo em 2015. “Praticamente impublicável” com conteúdo denso e mais de
150 mil palavras, o autor transformou seus relatos em uma nova história a
partir de metáforas, algumas mais diretas, outras sutis, sobre um período
essencialmente marcado por processos de perda e adaptação mental.
O romance psicológico desenvolve uma premissa curiosa e criativa
enquanto tece sua trama de suspense com constantes reviravoltas. Viktor é um
adolescente que cursa o colegial e há alguns anos lida com uma cisão de
personalidade. Em seu corpo habitam sete indivíduos distintos. Um para cada dia
da semana e é com a nomenclatura de cada período que os fragmentos são
batizados.
Quem conta essa história é a personalidade que, como o título
declara, só existe às terças-feiras. Os leitores irão testemunhar as paranoias
de um narrador confuso, que precisa preencher as lacunas do que ocorre entre
cada “apagão” de uma semana – enquanto desvenda como agem e quais são as
intenções dos outros indivíduos que compõem Viktor. Em ritmo divertido, uma
conspiração (pessoal e) familiar se manifesta colocando em risco a existência
do protagonista, Terça.
Rodrigo é filho de mãe bipolar e desde cedo precisou lidar com
conflitos familiares e algumas responsabilidades afetivas impostas pelas
circunstâncias. Assim, o interesse do autor pela psicologia para além da
curiosidade dá sinais perceptíveis em sua escrita. Ele carrega nas costas uma
bagagem não compatível com sua pouca idade. Os temas versados em “Eu Só Existo às Terças-Feiras” incluem a condição
humana, crises existenciais, famílias disfuncionais e a finitude da vida.
Rodrigo Goldacker / Foto: Divulgação
Escritor versátil e de obras plurais
Redator que “vive das palavras”, Rodrigo é graduado em Publicidade
e Propaganda pela Faculdade Cásper Líbero. Seu currículo acadêmico apresenta
ainda uma especialização em UX Writing, pelo Instituto de Desenho Instrucional
e mestrado em Comunicação, também pela Cásper. É natural de São Paulo, capital,
e desde a infância já carregava certa convicção do que gostaria de ser e do que
fazer. “Sempre quis ser escritor e comecei a fazer isso de um jeito bem
obsessivo. Passei minha adolescência, juventude e vida adulta todas
escrevendo”, conta.
Suas principais referências são cimentadas na filosofia do século
XX. “Albert Camus, Carl Jung e Judith Butler são três bases importantes para
mim em pensamento e que acabam aparecendo muito em tudo que escrevo,
principalmente nos ensaios, mas isso também ‘vaza’ para as poesias e romances”,
aponta. Ele ainda cita o porta-voz da geração beat, Jack Kerouac, como uma
referência para sua formação, e escritores como Hermann Hesse, Roberto Bolaño,
Haruki Murakami, Clarice Lispector, Fernando Pessoa e Franz Kafka.
Sua literatura, apesar de não ser necessariamente autobiográfica,
carrega marcas de sua história, como “Verde Verdade” (301 pág., 2023),
obra que Rodrigo qualifica como uma desconstrução e atualização dos romances de
estrada, inspirado na literatura beatnik. Escrito quando tinha 18 anos, o livro
é uma homenagem àquele que seria seu leitor ideal, o avô, já falecido. Sua
história, que fala do encontro entre dois andarilhos que se conectam, tem
raízes profundas no relacionamento do escritor com o familiar na infância.
O autor ainda prepara novos lançamentos, como é o caso de um livro
de poesia que compreende poemas escritos entre os anos de 2022 e 2023 (e
acrescenta outros, nomeados como “excessos” por terem sido compostos
anteriormente) previsto para ser lançado pelo NADA∴Studio
Criativo; “Ensaio das Expectativas Míticas” e um romance experimental chamado “O
Prisioneiro e os Outros”.
Adentrando o mercado digital e artístico
Como redator inserido no mercado digital, Rodrigo também escreve
sobre o modo como a comunicação e a tecnologia são capazes de afetar o tecido
social através da política e religião. Em “NFT’s,
influencers e a música [...] do artista [...]”, por exemplo, o escritor
reflete sobre comunicação, tecnologia e cultura através de um caso de
propriedade intelectual que compreende alguns dos métodos do mundo conectado. O
texto técnico, que começa lidando com criatividade, impedições e mercado artístico,
deságua em como pontos e palavras, teoricamente habituais, exigem do indivíduo
alguma fluência e atenção para oportunidades levantadas no mundo
conectado. Foi seu primeiro livro físico publicado, em 2022, através da
editora Casatrês.
O ensaio, originalmente no Medium, trata sobre
personalidades artísticas e todo tipo de capital simbólico social e cibernético
atrelado a obras e criadores. O “pitch” para começar a escrever veio de um
artista que assinava sua música ambiente com uma sequência de caracteres
impronunciáveis e sequer “digitáveis”.
Rodrigo questiona: “Por que escolher fazer algo assim? Por que
complicar ‘de propósito’ para restringir o acesso?” As perguntas persistem até
oportunas reflexões sobre o atual mercado de influência e o modo como a
informação e aptidão digital, que parecem tão óbvias, ainda são capitais
restritos, mas não precisamente relacionados ao dinheiro.
Uma escrita que busca honestidade emocional
Mesmo escrevendo em diferentes formatos, Rodrigo entende que sua
mensagem procede um inconsciente coletivo e atemporal. Familiar a qualquer
leitor. “Eu quero falar sobre sentimentos e experiências, mesmo quando forem
ruins, do jeito mais honesto e vulnerável possível. Honestidade emocional é
algo que eu acho importante e que eu tento trazer pra minha escrita, não só na
poesia e na ficção, mas até nos ensaios”. Abordar existencialismo e demais
questões filosóficas, por dedução, pode parecer fatigante, porém, a narrativa
característica do autor, que busca pontos semelhantes à vida comum, é capaz de
tornar a experiência fluida e prazerosa.
Para “Eu Só Existo...” existem possibilidades abertas em grandes
casas editoriais acerca do futuro da obra. O escritor, porém, está focado em
continuar produzindo. “Quero continuar escrevendo poesias, contos, ensaios,
textos mais técnicos e histórias de ficção. Em algum momento penso também na
escrita de coisas mais autobiográficas, mas ainda me questiono sobre como fazer
isso dadas as questões sensíveis que envolveria” afirma.
Rodrigo também está se aventurando pela literatura de gênero. Desde 2018 vem
trabalhando em um livro de terror, que está com o primeiro ato pronto, mas como
se trata de um projeto mais ambicioso, não existe perspectiva para a sua data
de lançamento.
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