O romance “Entre a vida e a
morte, há vários documentos", publicado pela Editora Paraquedas, do escritor
mineiro Michael Maia (@maicud),
retrata a história de um país que legaliza e controla uma nova descoberta: “a
droga da morte”. O seu problema ou fascínio é que ela permite que todos tenham
uma experiência deslumbrante instantes antes de morrer: rever amigos e parentes
falecidos e, até, quem sabe, Deus.
Depois dessa descoberta e de
um “Grande Surto” em que uma horda de pessoas decide tirar a própria vida
através do uso da droga, o governo regulamenta o uso do narcótico (ou da
ciência, dependendo do ponto de vista). Diante dos impactos disso na sociedade,
o livro retrata também como a nova morte impacta diferentemente as diversas
classes sociais, abrindo espaço para questionamentos. Como o governo escolhia
quem a merecia ou não? Quem eles estavam tentando matar mais rápido? Por que um
prédio de atendimento nunca era visto em bairros mais nobres?
Em seu enredo, o autor traz o casal Luzia
e Tânia que, após serem diagnosticadas com um câncer terminal, decidem
interromper o tratamento e se candidatarem ao uso da droga. A obra acompanha o impacto da decisão em seus
familiares, principalmente, em Antônio, o irmão mais velho que trabalha
justamente na empresa estatal que recebe e regula os pedidos de eutanásia.
Michael formou-se em jornalismo em 2014
pela Universidade Federal de Viçosa e se pós-graduou em Marketing Digital pela
PUC. Porém, após trabalhar na área e sentir certa insatisfação, resolveu
aceitar a proposta do pai de administrar os negócios da família: supermercados,
ramo em que trabalha desde 2018.
Por
que você escolheu a morte e o luto como principais temas da sua obra?
Michael
Maia: Em uma viagem intermunicipal
estava ouvindo música e imaginei a história de duas pessoas tendo experiências
individuais antes de morrer. Pensei que a história poderia ser sobre um casal
após tomar uma substância alucinógena, e essa
uma experiência boa antes da morte. Eu iria descrever as duas
experiências diferentes uma da outra, mas com um mesmo final, o casal morrendo
junto. Então pensei: por que não criar uma história onde uma sociedade convive
com a existência de uma droga que permite uma morte feliz? Eu sempre tive medo
de morrer e confesso que isso até me deu mais curiosidade em criar esta
história, porém para descrever uma sociedade precisei estudar temas de
sociologia para que o assunto não fugisse muito ou que eu não criasse algo tão
inimaginável.
O
que motivou a escrita do livro? Como foi o processo de escrita e quanto tempo
levou para escrever o livro?
Michael
Maia: A ideia apareceu em maio de 2022,
criei um rascunho em tópicos no bloco de notas do celular e mandei para minha
melhor amiga, que de prontidão disse que dali poderia surgir mais que um conto
ou um roteiro para uma história em quadrinhos (que era até uma ideia inicial).
De maio a novembro daquele ano, estudei
temas sobre sociedade, morte e suicídio na perspectiva sociológica. Em
novembro, ainda estava durante o processo de pesquisa quando recebi a notícia
de que uma grande amiga, Rafaela, havia se envolvido em um acidente de carro e
perdido a vida (é ela quem dedico o livro junto a várias pessoas que não me
despedi). A morte da Rafa foi um processo um pouco doloroso pois enquanto eu
estudava sobre o luto, havia passado por dois temas nos quais eu frequentemente
pensava: Quando alguém da nossa idade e proximidade morre, perdemos um pouco de
nós, ficamos desorientados principalmente pelo choque de que sim, somos todos
finitos, nós podemos morrer também. E o outro que me preocupava, era se o luto
poderia virar uma melancolia ou depressão. Durante o processo de luto pela
minha amiga eu fiquei um pouco perdido, abandonei a escrita e fui vivendo a
vida no automático, e acho que é um sentimento mútuo entre várias pessoas que
passam pelo luto.
Antes do processo de escrita eu criei
duas fichas para as personagens principais, Luzia e Antônio, e logo depois
criei um roteiro da narrativa contendo o que eu precisava apresentar em cada
capítulo. Iniciei a escrita em janeiro de 2023 e terminei em maio do mesmo ano.
Por
que você escolheu o gênero adotado?
Michael
Maia: Sempre gostei de fantasia e temas
relacionados com a sociedade, após me aprofundar um pouco nas obras do Saramago
me peguei apaixonado por histórias que se passam em mundos diferentes do nosso,
mas focadas em contar as relações humanas construídas.
Existe
alguma obra ou obras que ajudaram na construção da narrativa?
Michael
Maia: Dois livros me ajudaram a criar a
ideia como um livro de distopia, “1984” do George Orwell por se tratar de uma
sociedade em um governo totalitário e “As Intermitências da Morte” de José
Saramago, livro que me tocou muito, tanto que o reli em menos de um ano. É
incrível como o Saramago desenvolvia uma escrita, um ensaio, com apenas um “e
se?”.
O
que esse livro representa para você? Você acredita que a escrita do livro te
transformou de alguma forma?
Michael
Maia: Durante o processo de escrita,
passando pelo processo de luto eu tentava ao máximo identificar de onde vinha
minha frustração e melancolia, até perceber que certos momentos eu virava o
Antônio, personagem do livro. Terminei fazendo do livro como um processo de
cura.
Quais
são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Michael
Maia: Quero trabalhar em um livro de
terror-comédia com personagens LGBTs, brincar um pouco com temas da comunidade,
puxar um pouco de nostalgia das músicas e vivências dos anos 2010-2015. Por
enquanto estou apenas com a ideia e algumas abas em aberto para as pesquisas,
parte que eu mais gostei de fazer durante o processo do Entre a Vida e a Morte,
Há Vários Documentos.
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