Todo gato
deveria ter uma bruxa para chamar de sua. É o que afirma a escritora Índigo Ayer em Sete bruxas e um gato temporário,
lançamento da Galera Jr., selo do Grupo Editorial Record. Primeiro do gênero
literário cozy fantasy publicado
no Brasil, o livro narra as aventuras de Bijoux, um felino preto, enquanto ele
atravessa da capital paulistana ao interior da Bahia em busca de uma
feiticeira que o adote como bichinho oficial de estimação.
Mas o animal nem imagina as verdadeiras intenções das bruxas
contemporâneas que vivem no país. Essa imersão bem-humorada no mundo místico,
que desfaz estereótipos sobre este personagem clássico visto como o fiel
companheiro das feiticeiras, convida os leitores a conhecerem a magia da
literatura fantástica com um toque de brasilidade.
Nesta entrevista, a autora e gateira, que já soma 36 livros
escritos e diversos prêmios, fala sobre o pioneirismo do estilo da obra, o
processo criativo por trás da ambientação no Brasil e a importância das
narrativas que celebram a relação entre animais e seus humanos. Confira na
íntegra:
"Sete bruxas e um gato temporário" é o primeiro livro
do gênero “cozy fantasy” publicado no Brasil pelo selo Galera Jr. Esse estilo
propõe uma leitura fantástica por meio da sensação de aconchego e está em alta
no mercado literário internacional. Como você diferencia esse gênero de outras
abordagens fantásticas, e por que escolheu trabalhar com esse tipo de
narrativa?
Índigo Ayer: Cozy
fantasy tem conquistado leitores por ser um tipo de escrita
muito mais focado nos relacionamentos entre personagens, na trajetória
emocional e na ambientação das histórias. O leitor fica com vontade de morar
naquele mundo. Quando criei a história de um gato que deseja mais do que tudo
ser adotado por uma bruxa, o formato do cozy
fantasy se encaixou como uma luva. O curioso foi que eu só fui
descobrir a existência desse termo depois que o livro estava pronto.
O carismático Bijoux é o personagem central desta trama de
fantasia. O felino cansou de trabalhar como cobaia de bruxas e decide que agora
quer ter um lar e ser o companheiro oficial de uma feiticeira. Como é o
processo criativo de retratar um gato preto, personagem clássico nas histórias
de fantasia e bruxaria, como protagonista do livro?
Índigo Ayer: O truque é partir de um estereótipo e
subvertê-lo por meio do comportamento do próprio personagem. Bijoux é um gato
emotivo, fofo, romântico e amoroso. Conforme fui desenvolvendo sua história, vi
que ele era o oposto do clichê que deu origem a ele. O mesmo aconteceu para as
bruxas do livro. Elas são mulheres contemporâneas, que moram na cidade e se
vestem como pessoas comuns. Embora algumas sejam um pouquinho excêntricas, como
é o caso da bruxa Valquíria, que mais parece uma pop star.
Um dos
pontos altos do livro é a ambientação no Brasil: você leva o Bijoux a percorrer
desde a capital paulistana até o interior da Bahia em busca de uma casa e
tutora. Qual a importância, na sua visão, de incorporar a magia do mundo
místico e fantástico à literatura e realidade nacional?
Índigo Ayer: O Brasil é um país riquíssimo em misticismo,
crendices, superstições e mistérios religiosos. Temos nossas próprias bruxas e
nossa própria magia. Eu, como autora brasileira, me sinto muito mais à vontade
bebendo das nossas fontes, que são bastante abundantes. Acho que é por isso que
as bruxas desse livro geram tanta identificação. Elas refletem características
da nossa cultura. Isso dá um charme especial ao livro. Não é o tipo de bruxa
importada. Elas têm um elemento genuinamente brasileiro.
Além de
escritora, você é gateira e defensora do direito dos bichinhos de terem um lar
para chamar de seu. Como essa reflexão sobre a causa animal inspirou a criação
da história e do Bijoux?
Índigo Ayer: A relação entre humanos e bichos de
estimação é algo que aparece na minha obra desde o meu primeiro livro, “Saga
animal”, que conta a história de um menino que quer ter um bicho de estimação e
a mãe não deixa. Agora, 36 livros depois, é a história de um gato em busca de
uma bruxa que o adote. É um tema recorrente que eu já abordei de inúmeras
maneiras. São histórias de afeto, cumplicidade e de se colocar na pele do
outro. Essas são as histórias que tocam meu coração.
Além de entreter, a literatura infantojuvenil muitas vezes
carrega consigo lições importantes para os jovens leitores. Quais são as
principais mensagens ou valores que você deseja transmitir por meio das
aventuras do Bijoux?
Índigo Ayer: Essa é uma resposta que cabe às leitoras e
aos leitores. Eles é quem vão dizer.
Índigo Ayer / Foto: Marcus Leoni
Sobre a autora:
Índigo
Ayer é escritora e roteirista há mais de 20 anos, com 36 livros publicados para
crianças e adolescentes. Foi vencedora do 1º Prêmio Literatura Para Todos, do
Ministério da Educação, na categoria contos com o livro Cobras em Compota, que teve
tiragem de 300 mil exemplares e foi distribuído por bibliotecas de todo o
Brasil. O livro A
maldição da moleira, que descreve o que se passa dentro da cabeça
de um bebê, foi finalista do prêmio Jabuti.
Escreveu cinco séries e dois longas-metragens inspirados em
livros de sua autoria. Em 2021, recebeu o Prêmio por Histórico de Realização na
Área – Literatura – PROAC, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. E,
no ano de 2022, inaugurou o “Retiro de Escrita para Criadores e suas Criaturas”
no sítio onde vive, em São Lourenço da Serra (SP). Índigo também é formada em
jornalismo pela Minnesota State University (EUA) e já trabalhou como
jornalista, publicitária e tradutora.
Site
da autora:www.livrosdaindigo.com.
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