Poeta fluminense lança “está na
hora de me tornar um homem sério”, pela Editora Minimalismos
Sexualidade, morte,
amadurecimento, religião e identidade. Estes são só alguns dos temas tratados
pelo poeta fluminense Leo Nunes (@leonardocnunes)
em “está
na hora de me tornar um homem sério” (90
pág.), livro de poesias publicado pela Editora Minimalismos.
Como um filho bastardo da
geração beat e um possível adepto da geração mimeógrafo, a geração que andava
pelas ruas da cidade de São Paulo fazendo uma poesia libertária, Leo não tem
medo de enfrentar os seus fantasmas para encarar os percalços de uma vida
moderna, principalmente para um homem gay em um espaço urbano. Subversivo, mas
apaixonado, o autor faz uma exploração pessoal dentro da criação e
desenvolvimento de um personagem, e busca encontrar através dessa investigação
os ecos poéticos que ressoam em cada um de nós. Sua escrita resgata temas e
assuntos que o acompanharam ao longo da adolescência e início da vida adulta.
Através dos ecos de uma Ana
Cristina Cesar ou um Roberto Piva, “está na hora de me tornar um homem
sério” adota um tom mais confessional e autoficcional, sendo dividido
em três partes. Na primeira, “pequena trajetória de uma bicha da baixada”,
acompanhamos a trajetória de se descobrir um homem gay e encarar o mundo
conservador de uma região pobre da cidade: “Procurei trabalhar no livro a
jornada de um personagem. Queria poder ler um livro que contasse e trouxesse os
desejos e sabores de um ser muito específico: uma bicha da baixada fluminense
que vai tentar descobrir o mundo”.
Dos encontros com “os meninos da
igreja” a uma tentativa de “administrar uma cadela no cio”, para Leo a poesia é
quase que uma preparação para uma vida que virá. Na segunda parte, “a magia
está aqui”, o poeta nos apresenta um mundo mais convulso e complexo, das
montanhas-russas ao Bate-Bate, das Maratonas ao Sambas, a poesia encontra um
espaço urbano complexo de se aprender, cuja aparência é retratada através das
entrelinhas da poesia.
Por fim, na terceira parte, “a
vida no apartamento 1107”, seguimos com este jovem adulto em seu pequeno
apartamento e fazemos companhia às aventuras íntimas das noites mal dormidas,
dos amores mal passados e das poéticas que atravessam sua vida.
Algumas
das suas principais influências literárias são as obras de Andrea del Fuego e
Victor Heringer. No campo da poesia, Leo passeia por um campo vasto de
referências como Ana Martins Marques, Marília Garcia, Flávia Péret, Lilian Sais
(que fez a leitura crítica da obra), Rafael Zacca, Angélica Freitas, Pedro
Cassel, Ana Cristina Cesar, entre outros nomes. Multidisciplinarmente, tem como
referências cinematográficas Eduardo Coutinho e Agnés Varda.
Leo Nunes / Foto: Divulgação |
Leo Nunes: liberdade e
intensidade, mas um poeta quando dá
Leo Nunes nasceu em Duque de
Caxias, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e “está na hora de me
tornar um homem sério” é o seu livro de estreia. É formado em
Comunicação Social - Rádio e TV pela UFRJ em 2011 e iniciou no mercado
audiovisual em 2010 trabalhando na Conspiração Filmes como assistente de
edição. Desde então vem trabalhando em produtoras de TV e Cinema do Rio de
Janeiro. Atualmente trabalha como Coordenador de Pós-produção na produtora A
Fábrica onde está desde 2017.
Sua motivação ao se firmar no
gênero veio de “querer ver na poesia a realidade, as palavras, os sentimentos
de um homem gay nos anos 2020”. Leo afirma que é “poeta quando dá”. “está
na hora de me tornar um homem sério” nasce dentro de uma oficina de
poesia ministrada por Rafael Zacca, quando tentou “esgotar” o tema da chamada
“viadagem”. “Resolvi então aceitar esse tema e tentar explorar ele ao máximo.
Escrevi o livro ao longo de três semestres de oficina, fui construindo através
das provocações novos poemas que buscavam formar uma imagem. Foi um ano e meio
para conseguir elaborar todo o projeto”, relata.
Sem abandonar os toques
autobiográficos, essenciais para uma poesia visceral como a de “está na
hora de me tornar um homem sério”, Leo compõe neste livro um relato
coletivo de uma experiência muito comum: a de nascer nas margens do país e
precisar enfrentar preconceitos rumo à libertação. Trata-se de uma poesia mais
que urgente, uma poesia latente, que dificilmente não vai encontrar seus pares
pelas noites das cidades.
Sobre
seus projetos futuros, revela: “Nesse momento estou desenvolvendo um projeto
para meu segundo livro de poemas. Dessa vez estou focando no corpo, cidade e
memória”.
Leia um trecho de “está na hora
de me tornar um homem sério” (poema da pág. 74):
[mancha no teto
é acúmulo]
assim como quem fuma guarda
no peito as horas
passadas
não posso consumir nuvens
não poderei crescer esférica
conservo os líquidos
restos fluidos
de outras existências
vigio e protejo
tudo o que sobra dos outros
sou o ponto de resguardo
do desvio
tudo para um dia
desaguar
Para comprar o livro, acesse a página da Editora Minimalismos.
[mancha no teto
é acúmulo]
assim como quem fuma guarda
no peito as horas
passadas
não posso consumir nuvens
não poderei crescer esférica
conservo os líquidos
restos fluidos
de outras existências
vigio e protejo
tudo o que sobra dos outros
sou o ponto de resguardo
do desvio
tudo para um dia
desaguar
Para comprar o livro, acesse a página da Editora Minimalismos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário.