Em “Conto ou não conto”, publicado pela editora Paraquedas, a
autora convida o leitor a refletir sobre temáticas como medo, indignação,
preconceito, amor, envelhecimento e desigualdades
Após participar de antologias
com outros escritores ao longo de sua carreira, a pesquisadora e escritora
paulistana Ana Helena Reis (@pinceldecronica)
lança o primeiro livro solo, chamado “Conto ou não conto?” (Editora
Paraquedas, 124 págs.). A obra pauta a observação do cotidiano ao longo de 34
contos que mergulham em reflexões acerca de relações afetivas, dilemas sociais
e conflitos interiores. Adotando hibridez nos formatos e temas ao longo da
obra, a autora intercala assuntos leves, por vezes nostálgicos, com outros mais
profundos e densos, buscando equilíbrio e fluidez na obra, que perpassa
assuntos como o medo, a indignação, o preconceito, o amor, o envelhecimento, a
intolerância e as desigualdades.
O livro será lançado no dia 9 de
abril, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Villalobos (Av. Dra. Ruth
Cardoso, 4777, segundo piso), localizado no Jardim Universidade Pinheiro, em
São Paulo, capital.
O livro é uma coletânea de contos variados, que tem como fio condutor o olhar da autora para situações cotidianas que podem despertar memórias afetivas e reflexões. “De uma forma às vezes irônica e divertida, outras vezes dramática ou surpreendente, minha ideia é despertar o leitor para os conflitos interiores que enfrentamos”, explica. “Escolhi esses temas porque creio que eles fazem parte dos nossos questionamentos, nossos sentimentos muitas vezes inconfessos.”
A escrita de Ana Helena tem como principal característica a fluidez do texto. A autora busca uma linguagem pouco rebuscada, “com um toque de ironia que imprime leveza ao texto, mesmo quando o tema é, por si só, mais dramático”. “Gosto de narrativas que deixam em suspenso a resolução da trama, que às vezes se revela ao final, às vezes fica subentendida, para a interpretação do leitor”, evidencia.
A abertura da coletânea com o
conto "Medo da Chuva" (pág. 12 e 13) faz com que o leitor entre em
contato com o lado mais inocente de sua criança interior, e seja surpreendido
ao se deparar com os contos seguintes. Em uma conversa entre mãe e filha,
a garotinha tenta convencer a mãe a deixá-la brincar na chuva, com argumentos
em uma linguagem que transparece a essência sonhadora infantil, transportando o
leitor para uma época da vida mais inocente e nostálgica.
Ao adentrar, porém, no segundo
conto, “Casamento de risco” (pág. 13 a 17), a atmosfera é modificada. Logo de
início a personagem principal, Olívia, encontra-se em uma sessão de terapia
tentando descobrir o que aconteceu com sua mãe no passado e o porquê de não
conseguir se entregar por completo ao marido. Ao longo da narrativa, vão sendo
apresentados dilemas e flashes de memórias da paciente criando, assim, um
quebra-cabeças que prende o leitor até sua resolução.
Nas páginas seguintes, o leitor
passa a se deparar com contos em diferentes vozes narrativas. “Maria, que
merece viver e amar…” (pág. 38 a 41), escrito em formato epistolar, reflete
sobre a violência contra a mulher. Já no conto que nomeia o livro, “Conto
ou não conto?” (pág. 42 e 43), a escritora adota um fluxo de consciência para
evidenciar o dilema da narradora sobre a decisão de dar ou não uma importante
notícia que poderá abalar sua família. Destaca-se ainda o conto “Arrimo de
Família" (pág. 44 e 45), escrito em versos rimados, narrado a partir da
perspectiva de um cão de rua.
Ana Helena Reis / Foto: Divulgação
Escrever literatura: um ofício
inesperado
Pesquisadora do comportamento
humano. Investigadora de si mesma. Escritora do cotidiano. Ilustradora de
devaneios. É como se define Ana Helena Reis, que, aos 73 anos, conta com uma
carreira profissional consagrada: formada em administração de empresas pela
EAESP/FGV e mestre pela FEA/USP, é empresária, já publicou diversos livros
acadêmicos, papers e trabalhos de pesquisa. Também conta com uma extensa vida
acadêmica, tendo sido professora da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC) na Faculdade de Economia e Administração durante 15 anos.
Sua área de especialidade em
pesquisa é comportamento do consumidor - a observação, investigação e análise
do comportamento das pessoas sempre foi um fascínio. “O próprio objeto do meu
trabalho me proporcionou a oportunidade de desenvolver a escrita criativa - que
inicialmente era um hobby e foi se tornando cada vez mais uma atividade
paralela”, conta. “A pandemia foi providencial para que eu migrasse totalmente
da escrita profissional para a literária, desde então minha atividade
principal.”
Embora escreva desde sempre,
vide seus “diários infindáveis” da adolescência, começou a dedicar-se com mais
afinco à literatura em 2019, quando passou a publicar contos, crônicas e
resenhas no blog Pincel de Crônica.
Foi esse blog, cujo nome faz referência à pintura, sua outra paixão, que deu
substância para a criação do livro, também influenciado por autores que
consome: cronistas e contistas como Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade,
Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector e Luís Fernando Veríssimo; e, de forma
mais ampla, Saramago e García Marquez.
“A escrita de contos está sendo
muito transformadora para mim. Criar personagens e situações de ficção é como
uma catarse de tudo o que foi sendo acumulado nas minhas lembranças afetivas,
porque o escritor, mesmo quando trabalha com a ficção, está colocando uma parte
de si naquele texto. Isso acredito que é muito libertador e fez fluir muitos
guardados da minha caixa de pandora.”
Confira um trecho do livro do
conto “Surprise!”:
“E assim foi em frente, até que
todas as sugestões foram descartadas. Pensou com suas teclas: “Alguma coisa
está errada com os algoritmos deste site... Ou fui eu que errei na hora de
descrever minha mulher ideal?”. Releu as informações incluídas, não viu nada de
errado. Certamente, o conjunto da obra tinha alguma coisa dissonante. Seria um
problema com seu próprio perfil? Por isso não atraía a mulher ideal?
Pensou, ponderou e decidiu
tentar uma pequena alteração para ver se teria mais sucesso. Mas o que poderia
mudar, já que, a princípio, tudo o que estava ali parecia essencial?”
Adquira “Conto ou Não Conto”, de
Ana Helena Reis, disponível no site da editora Paraquedas: https://www.lojadaclara.com.br/marca/Paraquedas.html
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