[Resenha] Colecionador de pedras - Sérgio Vaz - Tomo Literário

[Resenha] Colecionador de pedras - Sérgio Vaz

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Colecionador de Pedras, livro do poeta Sérgio Vaz, foi publicado pela Global Editora em 2021 (266 páginas).
 
A apresentação da obra é feita por Ferréz, que é romancista, contista e poeta escritor que aborda a periferia em suas obras e retrata a vida de gente marginalizada.
 
Sérgio Vaz, que já publicou pela Global Editora os livros “Flores de Alvenaria”, “Flores da Batalha” e “Literatura, pão e poesia”, tocando os leitores com seus textos que tratam de temas diversos. É criador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) e um dos criadores do Sarau da Cooperifa, um movimento que transformou um bar da periferia da zona sul de São Paulo em centro cultural. 
 
No livro “Colecionador de Pedras”, o leitor vai encontrar poesia que trata da invisibilidade de quem vive nas ruas, sobre o poder da palavra do poeta, sobre a visão de diferentes pessoas acerca da definição do que é felicidade. Há na palavra encantamento e uma demonstração crua da realidade.
 
Com a escolha de palavras certas para atingir o leitor, o poeta nos leva a ver a estranheza do mundo, porque precisamos que seja posto fim às guerras. Trata ainda da liberdade de pensar. E manifesta de forma contundente que a poesia não se cala. E não deve se calar mesmo! E assim deve ser a arte, deve provocar o leitor, deve tirá-lo da zona de conforto, apesar de trazer um acalento em outros momentos.
 
Na obra há poemas com o uso de metalinguagem em que a própria poesia e a literatura são temas. O fazer poético se revela assim no meio pelo qual o poeta explica para si e para os leitores o momento catártico que permeia a sua criação.
 
Se os monstros da infância eram destruídos, hoje dominam o universo e matam de fome. A infância é lugar de sonho. E, o sonho, aparece em outros poemas, inclusive para firmar que “no sonho, os homens não eram escravos”. A força da palavra se revela ao leitor na subjetividade, nas entrelinhas, nas metáforas, nas menções diretas e nas indiretas que estão nos versos alinhavados por Sérgio Vaz.
 
Também estão presentes nos poemas as alegrias, as angústias, as dores, as ausências, a solidão, as diferenças sociais e as diferenças de tratamento dada a quem pertence a classe menos favorecida e aqueles que vivem num mundo abastado, cheio de privilégios. O poeta nos coloca em sintonia com a história e com as vivências de pessoas marginalizadas, que são muitas vezes invisíveis para as grandes estruturas.
 
Há critica nas poesias, há leveza, há inputs para que os leitores reflitam sobre a realidade política e social que nos cerca.
 
A alienação, a felicidade, o encantamento surgem em outras tantas poesias presentes no livro.
 
“No silêncio da noite,
um grito.
No grito da noite,
o silêncio.”
 
Sérgio Vaz consegue apresentar muito bem aos leitores poesias que tratam de sentimentos e que tocam na subjetividade humana. Toca, portanto, de modo diferente cada leitor que toma contato com seus textos. O sentimento de cada pessoa pode ser despertado pelas palavras do poeta, que conseguem penetrara a profundeza dos sentimentos dos leitores. Não dá para passar pelas páginas do livro sem se questionar.
 
Além de tratar muito bem a subjetividade, consegue tratar de forma igualmente magistral a visibilidade de coisas concretas. O poeta, portanto, lida bem tanto com o intangível, quanto com aquilo que se torna tangível na vida.
 
Toca o leitor por diferentes visões, provoca reflexões, proporciona uma experimentação de quem lapida palavras, que grita contra absurdos da vida real de forma lírica e contundente. E o lírico, nesse caso, é uma forma de dizer tudo o que precisa ser dito, de forma bela (é bem verdade), mas que não deixa de perder o seu poder de manifesto.
 
Sérgio Vaz registra a sensibilidade, e com sensibilidade consegue colocar o dedo na ferida.
 
No livro também há poemas que abordam personagens fictícios (como os heróis que povoam o imaginário infantil) e heróis de verdade, como João Cândido. Os heróis reais, se não conhecidos, precisam ser levados ao conhecimento público para que entendamos a sua história, que faz parte da história do nosso país. Se por ventura, alguém não souber, digo aqui que João Cândido ficou conhecido como “Almirante Negro”. Foi militar da marinha e liderou a Revolta da Chibata – motim organizado pelos marinheiros motivado pela insatisfação com os castigos físicos que sofriam. Um líder negro.
 
“No Brasil,
a África escorre na pele,
nos olhos, na alma e nos pés
desse povo que une
nesse quilombo chamado periferia.”
 
No livro encontramos grandes poesias que nos fazem emocionar e nos indignar. Cumprem o papel da arte de provocar na medida certa, de provocar a lógica instaurada, de usar a leveza da poesia para sacudir o leitor.
 
Colecionador de Pedras é um livro no qual a palavra vem sempre bem colocada, com um propósito, não está ali de forma esvaziada.



Sobre o autor:
 
Sérgio Vaz é considerado o poeta da periferia. Mora em Taboão da Serra (Grande São Paulo) e, além de escrever, é agitador cultural nas periferias do Brasil. É criador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) e um dos criadores do Sarau da Cooperifa — movimento que transformou um bar da periferia da zona sul de São Paulo em um centro cultural. O projeto também promove o encontro de leitores e escritores, além de divulgar a poesia nas escolas. Improvisa uma sala de cinema na laje do boteco e abre espaço para a produção cinematográfica alternativa das quebradas. Um projeto de sucesso, que influenciou e deu origem a quase 50 saraus, além da publicação independente de mais de 100 livros.

A movimentação ganhou respeito e reconhecimento da comunidade e também já há muito tempo reverberou fora dela. Sérgio Vaz já recebeu os prêmios Unicef (2007), Orilaxé (2010), Trip Transformadores (2011),  Governador de São Paulo, nas categorias Inclusão Cultural e Destaque Cutural (2011), Heróis invisíveis e Hutúz. Em 2009 foi eleito pela revista Época uma das cem pessoas mais influentes do Brasil.

É autor do Projeto Poesia Contra a Violência, que percorre as escolas da periferia incentivando a leitura e criação poética como instrumento de arte e cidadania. Tem várias participações poéticas em CDs de RapSabedoria de VidaGOG509-EDi FunçãoVersão PopularPeriafricania, entre outros. Por conta de suas atividades nas comunidades carentes, ganhou o título de Poeta da Periferia.

Pela Global Editora, publicou as obras Colecionador de Pedras, Literatura, pão e poesia, Flores de Alvenaria e Flores da Batalha. Tem mais cinco livros independentes publicados: Subindo a ladeira mora a noite (1988), A margem do vento (1991), Pensamentos vadios (1994), A poesia dos deuses inferiores (2005), Cooperifa – Antropologia Periférica (2008). 
 
Ficha Técnica:
Título: O colecionador de pedras
Escritor: Sérgio Vaz
Editora: Global
Edição: 3ª
Ano: 2021
Páginas: 266
ISBN: 978-65-5612-094-2
Assunto: Poesia brasileira

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