O livro “poemas para Liz”, da escritora e jornalista paulistana Bruna Escaleira (@bru_esc), explora, de maneira poética, a maternidade. Da gravidez ao puerpério, a obra aborda com leveza e sensibilidade o processo da descoberta de si como mãe, sem romantizar ou demonizar a função e conta com o posfácio assinado pela professora, mãe e doutora em literatura Juliana Goldfarb, que participou também da live de pré-lançamento, que aconteceu no dia dia 6 de março.
Publicada pela editora artesanal
Arpillera (@editoraarpillera,
88 pág.), a poesia da autora ganha corpo em exemplares costurados um a um. Essa
proposta manual, junto ao nome da editora, que homenageia o movimento de
resistência das bordadeiras chilenas na época da ditadura, foi o que levou a
autora a tentar a chamada para publicação desta pequena casa editorial. Para
ela, esse modo de fazer as coisas combina perfeitamente com a forma e o momento
em que seu livro foi escrito: “no tempo das coisas, no tempo da vida”. “Foi
amor à primeira vista”, resume.
Dividido em três partes, “poemas
para Liz” organiza os lampejos e epifanias em frases
curtas proporcionadas pela embriaguez hormonal da gravidez e do puerpério. As
seções “Surpresa”, “Portal” e “Mundo novo”, tratam,
respectivamente, sobre a gestação, o parto e o puerpério. O livro também inclui
bordados feitos por Bruna com imagens de ultrassom e linhas coloridas.
A poeta conta que, durante a
gravidez de sua primeira filha, entendeu que também estava gerando uma nova
forma de escrever: “A novidade, os hormônios, as expectativas e as sensações
únicas da gestação me inspiravam poesia a todo momento. Logo percebi que
aqueles textos que estavam surgindo tinham uma identidade em comum: eram
‘poemas para Liz’”.
O livro foi escrito nas mais
diversas e improváveis situações, especialmente após o nascimento de Liz: “São
textos molhados de leite, suor e lágrimas, muitos vezes com uma bebê no peito,
no escuro das sonecas de dia, nas madrugadas em claro, nos refúgios no
banheiro, no desespero da privação de sono e no êxtase do encanto com a vida.”
Além do desejo de expressar o
que vivenciou durante seu processo de se tornar mãe, Bruna afirma ter sido
motivada a publicar esse livro por considerá-lo necessário: “As mulheres
tiveram suas experiências de gestação, parto e puerpério historicamente silenciadas,
distorcidas e medicalizadas por séculos. Precisamos recuperar nossas vozes e
promover um debate que leve nossas vivências reais em conta.”
Juliana Goldfarb considera que
poesia de Bruna Escaleira revela uma maternidade nem sempre vista em capas de
revista ou redes sociais e destaca isso no posfácio que assina: “Bruna fala de
lugares ou comportamentos invisíveis, sujos ou interditos na poesia: a falta de
privacidade no momento de suas necessidades básicas, a privação de sono, o
banheiro como um lugar de fuga e respiro, as espinhas e pêlos que invadem esse
novo corpo já com tão pouco tempo para si, o cansaço e o corpo marcado por
novas dores, novos contornos”.
Bruna Escaleira / Foto: Divulgação |
A
escrita como ofício e sobrevivência
Bruna Escaleira nasceu em 1988
em São Paulo. Além de escritora, é formada em Jornalismo pela USP, pós-graduada
em Jornalismo Cultural pela FAAP e Mestra em Estudos Comparados de Literaturas
de Língua Portuguesa pela USP, com dissertação sobre
poesia erótica e feminismos. Além disso, foi editora da Revista Nova Escola e
atuou em projetos de
organizações feministas, como Chicas Poderosas. Hoje, é sócia da Canôa,
consultoria de diversidade e inclusão para empresas e escolas. Também mantém
uma coluna sobre
literaturas feitas por mulheres e maternidades para a Revista AzMina e ministra
oficinas de escrita criativa, literaturas e feminismos.
Tem três livros de poesia
publicados, entranhamento (Patuá,
2014), algo
a declarar.;’ (Com-Arte, 2016) e “poemas para
Liz” (Arpillera, 2023) e um no prelo: terraíz (Triluna, 2025). Participou de
diversas coletâneas, como: As
cidades e os desejos (Aliás, 2018), 69
poemas e alguns ensaios (Oficina Raquel/Jandaíra,
2020) e Coleção
Desaguamentos (Escaleras, 2021).
Escreve como ofício, mas, como
poeta, afirma que a escrita está presente em sua vida desde muito antes disso e
funciona como uma questão de sobrevivência. Entre suas obras prediletas estão
“Magma”, de Olga Savary e “Educação sentimental”, de Maria Teresa Horta. A
lista de referências de Bruna é bem mais vasta, contendo também Adélia Prado,
Ana Cristina César, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade,
Ítalo Calvino, Ondjaki, Adília Lopes, Angélica Freitas, Adelaide Ivánova, Lubi
Prates e Lupe Gómez.
Em
setembro, a autora prevê a publicação do seu primeiro livro infantil, "O
dia em que a lua fugiu", pela Editora "Escuta Aqui Bem-te-vi".
Confira mais um poema do livro:
“descobrir o mundo com minha
filha é encontrar argila fresca no fundo do riacho da
minha infância
e descobrir que ele que não
secou”
Adquira “poemas para Liz” no
site da Editora Arpillera:
https://editoraarpillera.lojavirtuolpro.com/poemas-para-liz---bruna-escaleira/p
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