Autor do livro de poemas “A Forma
do Fogo”, Felipe Rodrigues trata de temas universais de forma contemporânea e
aborda problemas contemporâneos buscando o universal
O esgotamento dos dias, a solidão, a dor, a ânsia de viver, a
ansiedade e a liberdade. Tudo parece ser tema para o poeta, advogado e
professor universitário Felipe Rodrigues (@fe_fe_lipe), autor do livro “A Forma do Fogo”, lançado pela Editora Patuá (104 pág.). Ao chegar à marca do
terceiro livro da carreira, o escritor campineiro traz poemas que se
debruçam sobre diversas questões universais da humanidade, como solidão, a
necessidade de conexões, o descompasso entre desejos e realidades, entre outras
angústias existenciais e sentimentais. O autor também já participou do Selo Off
Flip de 2023 e de 2024, além de outras antologias e revistas literárias.
O autor parte de uma perspectiva atenta, crítica, por vezes
divertida, por vezes pessimista, muitas vezes recorrendo a grandes mestres poetas e
escritores como Arthur Rimbaud, James
Joyce, Fernando Pessoa, entre outros. Mesclando o clássico e o contemporâneo, Felipe não tem
medo de usar uma linguagem mais rebuscada, nem versos em segunda pessoa, nem
interjeições e exclamações à la século 19. Sua poesia faz uso de uma linguagem
precisa e atenta para desvelar os tempos atuais. Revezando textos longos e
breves, os poemas também estão antenados com a cultura dos memes e das selfies,
das monetizações e dos metaversos, abordando, por exemplo, a dificuldade
de se construir uma identidade em um mundo de telas.
O autor exercita também a memória e a imaginação buscando
verdades que não existem diante de um mundo caótico, como é possível perceber
no poema “Vários Caos”, da página 11: “tudo, tudo, enfim, é caos!/ Na única orgia possível…/ E a
multiplicidade converge/ No singular,/ A variedade não converge/no só, / O
horror e o sem-sentido dormem na mesma cama/ Que a gente.”.
A sua contemporaneidade também aparece quando flerta com os
poetas concretos, fazendo uso da materialidade do espaço em branco para brincar
com palavras como em “Moneytease”, “Sopradores” e “O Vazio e a Falta”. Em
“Enter, o assassino”, por exemplo, joga com a clássica quebra de linha dos
poemas com o enter do computador que seria uma espécie de “assassino do poema”.
Quando questionado sobre o que versam seus poemas, afirma que
escreve cerca de 40 a 50 poemas por ano e que busca se afastar de
assuntos estritamente subjetivos e privados para chegar a uma universalidade, tentando alcançar
e tocar mais pessoas, voltando sua
atenção para temas como “a ansiedade e a depressão da liberdade, a
desintegração da personalidade no tudo e nos pequenos-todos, o apagar
(in)voluntário dos sonhos, a completa fusão e confusão das pessoas, das coisas,
do mundo. A falta de sentido e sentimento”.
Felipe Rodrigues / Foto: Divulgação
“Escrever é quase como uma necessidade
fisiológica”
Aos 31 anos, Felipe Rodrigues é formado em
Direito pela Unesp, com mestrado pela
mesma universidade. Atualmente realiza doutorado na
USP. A
poesia, porém, atravessou toda a sua vida: o escritor chega à marca de três livros de poesia publicados no
Brasil e em Portugal, tendo também diversos poemas presentes
em antologias brasileiras e de países de língua portuguesa. “Escrever é quase
como uma necessidade fisiológica para mim. Se ficar três, quatro dias sem
escrever, meu corpo sente, fico pior. Tenho metas de escrita”, conta o poeta,
que escreve desde a adolescência.
Felipe
tem como referência, além dos autores já
citados, os poetas T. S. Eliot e Carlos Drummond de Andrade. Em sua escrita
encontramos as artes plásticas ao citar Van Gogh,
referenciado no
poema “Vincent”, e Frida Kahlo em “Frida, Macaco e Periquito”, o cinema em “Ao mestre com Carinho” e, por fim, a música de Paulinho da
Viola, em “Quando”, ao citar a canção “Coração
leviano”.
As suas poesias, segundo o próprio, não são pessoais.
“Não procuro usar os textos artísticos para defender diretamente ideias ou
teorias, por mais importantes que sejam - diferentemente da maioria do que se produz hoje - e embora
muita coisa esteja ali, compartilhada”, aponta. Ele acredita que tudo que é
verdadeiramente novo é, automaticamente, tradicional e crítico, na esteira de
T. S. Eliot. Aliás, Felipe está escrevendo sua tese de doutorado sobre a obra
poética e crítica de T. S. Eliot e interpretação jurídica. “Pretendo publicar a
tese e ainda algum outro livro de poesia. Tenho projetos de romances também.
Continuar a escrever, sempre.”
Confira um poema de “A forma do fogo”:
O PERSEGUISSONHO
Se tenho sonhos?
Não sei se os tenho ainda,
Mas sei que os tinha...
Se persigo meus sonhos?
Persigo, sim,
Perseguissonho de outras pessoas.
Mas não sei se são reais
- Esses sonhos e essas pessoas -
Porque eu mesmo não sonho
E não tenho nada de absolutamente tão claro
A viver e morrer por, a sonhar!
- Tenho sim objetivos:
Não sou preguiçoso, apenas não sou sonhador...
A vontade vacila, sempre.
Não consigo “Viver o presente...”
Nem uns sonhos próprios, inexistentes.
Mas gostaria de reencontrá-los
Assim, como por acaso,
E que me perdoassem...
Porque o perseguissonho persegue-me
Numa sensação de desperdício
Do tempo e da força que ainda me restam
Para viver e só viver,
Mas nada sonhar...
Adquira “A Forma do Fogo”, de Felipe Rodrigues, no site da editora Patuá: https://www.editorapatua.com.br/a-forma-do-fogo-poemas-de-felipe-rodrigues/p
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