Andréa Del Fuego é a escritora do livro
“A Pediatra”. Além da obra, publicou o livro “Os Malaquias”, que foi vencedor
do Prêmio Saramago.
Em entrevista concedida ao Tomo
Literário, que foi divulgada em primeira mão para os leitores do Tomo Literário
Clube de Leitores, ela fala sobre sua trajetória no mundo literário,
inspirações para a criação da personagem Cecília, novos projetos, literatura
brasileira e muito mais.
Confira:
Tomo Literário:
Para iniciarmos, conte-nos um pouco sobre a sua trajetória até chegar a
publicação do seu primeiro livro. O que te levou para a literatura?
Andréa Del
Fuego: Estudei em
escola pública em São Bernardo do Campo, onde fui criada. Tive uma professora
muito especial, a Célia Aiko, que me incentivou a escrever. Eu peguei ritmo com
a escrita antes mesmo de pegar o ritmo com a leitura. Desde as primeiras
redações, sentia um fulgor em escrever, uma liberdade, um encontro com algo que
não fazia ideia do que era, mas era imenso e viciante. Nunca tive e fiz planos
para ser escritora, os livros foram acontecendo um após o outro. Até hoje não
olho muito para o futuro do que vou escrever, mas para a prática presente de
escrita.
Tomo Literário: Como surgiu a ideia da
história do livro "A pediatra" e como foi esse processo de mergulhar
na escrita do livro?
Andréa Del
Fuego: Surgiu numa
caminhada a ideia de uma pediatra que não gosta de criança. A partir daí, eu
precisei encontrar a dicção da médica. Pesquisei muito sobre medicina, assunto
que muito me interessa. Depois, passei meses escrevendo as cinco primeiras
páginas até encontrar o tom. A escrita foi a mais fluida que já experimentei,
tenho muita saudade do processo.
Tomo Literário:
Cecília é avessa ao parto humanizado, às doulas, e até avessa a crianças. Sua
experiência com a maternidade se revela de alguma forma no livro?
Andréa Del
Fuego: Minha
experiência materna é totalmente distinta, sou uma mãe que se beneficiou de
doula, yoga e equipe humanizada no parto. A experiência de criação foi
justamente entrar na mente de uma pediatra que não me atenderia, se eu a
procurasse.
Tomo Literário:
Eu chamo Cecília de "uma canalha sedutora", porque ela não freia os
pensamentos. É uma mulher que mostra o pior dela e, ainda assim, seduz o
leitor. De onde veio a inspiração de Cecília?
Andréa Del
Fuego: Muito de
"Lolita" do Nabokov. Como leitora da obra, sentia-me arrastada por
uma linguagem impossível de soltar, conhecendo uma personagem cheia de escarpas
e perigos. Pensei justamente nessa armadilha da linguagem.
Os Malaquias foi vencedor do Prêmio
José Saramago de 2011. Qual a importância dos prêmios literários para os
escritores brasileiros?
Andréa Del
Fuego: Os prêmios são
ótimos para os livros. Para os escritores, nada pior que gravitar em torno de
respostas sobre o próprio trabalho. A escrita se favorece ao ser preservada dos
anseios de mercado e da visibilidade.
Os Malaquias já
foi publicado em outros países. Você acredita que haja interesse do público
estrangeiro por conhecer um Brasil mais rural?
Andréa Del
Fuego: Há interesse sempre geopolítico em torno das traduções. Uma
forma de conhecer o tom de um país, seu inconsciente e suas perguntas de alguma
forma. Nosso passado rural ainda pode trazer muitas nuances, não só para os
estrangeiros, mas para nós mesmos.
Tomo Literário:
Raduan Nassar foi tema de sua dissertação de mestrado. Como foi o seu contato
com o escritor?
Andréa Del
Fuego: Não tive
contato pessoal com Raduan Nassar. Apenas com sua obra que é, para mim, uma
catedral gótica, uma dobradura cheia de esconderijos, um jogo engenhoso onde há
uma esgrima de duas linguagens: a da paixão e a da paciência. Livro que releio
sempre.
Tomo Literário:
Quais foram os escritores e as escritoras que, de alguma forma, te
influenciaram na sua trajetória artística?
Andréa Del
Fuego: Três autores
brasileiros me deram fôlego, assim que os conheci na escola pública, ainda
adolescente: Graciliano Ramos, Clarice Lispector e Machado de Assis.
Tomo Literário: O que te move a
escrever?
Andréa Del
Fuego: Escrever, saber
o que é escrever, escrevendo.
Tomo Literário:
Como você vê atualmente o mercado editorial brasileiro? Os leitores têm se
rendido à nossa literatura?
Andréa Del
Fuego: Estamos numa
lua de mel com a literatura contemporânea. Autores como Itamar Vieira Júnior,
Carla Madeira, Jeferson Tenório e Aline Bei, por exemplo, são autores que
alcançam muitos leitores, milhares. Não me recordo de momento mais auspicioso,
nos últimos 25 anos, em relação a cada vez mais leitores em busca de livros
nacionais. Em vários gêneros. É um sinal de que o país está em fruição do seu
próprio legado.
Tomo Literário:
Tem algum projeto novo sendo preparado? Pode nos contar sobre ele?
Andréa Del
Fuego: Revisando um
romance que estou cercando há mais de seis anos.
Tomo Literário:
Quer deixar algum recado para os leitores do clube e do site ou comentar sobre
algo que não falamos?
Andréa Del
Fuego: Que a leitura
seja também um caminho para a sua
escrita.
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