Daniel,
principal narrador do romance Meninos
Suspensos, está diante do corpo do amigo no necrotério. Ele
precisa preparar tudo para o funeral e, em meio a esta obrigação, recorda
alguns dos principais momentos da própria vida. Fiel ao fluxo de consciência,
que não está preso a uma linha narrativa lógica, nem a um tempo
cronológico, D.B.
Frattini escreve um livro polifônico, crítico, repleto de
suspense e com várias camadas de ironia.
A obra começa com a inevitabilidade da morte, entretanto, a
história não foca no luto. Esta situação é somente um ponto de partida para que
o protagonista mergulhe nos sentimentos experienciados durante as últimas seis
décadas. A partir disso, ele narra situações cruciais de sua trajetória, como o
assassinato dos pais durante a ditadura militar, o cotidiano no colégio
religioso e a relação íntima com as artes.
Ao mesmo tempo que critica os costumes da sociedade brasileira,
o autor reflete sobre os conflitos existenciais dos humanos. Com uma
multiplicidade de vozes, os leitores são apresentados a vivências distintas: há
o garoto com transtorno obsessivo compulsivo que, sem receber tratamento, é
proibido de praticar os impulsos; a mulher que se casa com um homem para
respeitar a decisão da família, porém o matrimônio beira à ruína; os jovens em
um relacionamento homossexual que deverão renunciar à paixão para seguir a
religião, entre outras.
Quem é que não carrega
algum horror? Não conseguimos esquecer um instante sequer do ponto do mundo
pisado por nossos pés. O medo é a companhia mais certeira. Vamos driblando as
misérias e em todas as esquinas encontramos um novo susto. É uma guerra de destroços
disfarçados; por aqui, viver em pânico virou algo comezinho. E além dos
horrores cotidianos, carregamos também monstros internos. (Meninos Suspensos, pg.
87)
Meninos Suspensos é resultado não apenas do
trabalho do escritor com a literatura, mas dos anos de experiência de D.B. Frattini nas
artes cênicas. Dramaturgo aposentado, ele utiliza elementos do teatro do
absurdo para compor a prosa. Além de apresentar personagens presos às próprias
condições de vida, a narrativa desafia os conceitos de realidade do público: em
muitos momentos, Daniel conversa com uma lagartixa na parede do necrotério, que
fala em francês e faz perguntas complexas.
Apesar de ser um drama existencial, a obra contém um suspense
solucionado somente nas últimas páginas e que envolve a morte de um dos
personagens. O autor explica: “O leitor deve prestar muita atenção nos
detalhes, como, por exemplo, Daniel esconde folhas de caderno dobradas nas
vestes do amigo defunto. São minúcias que carregam a narrativa para o
final. Este é um livro com o enredo calcado na morte de um ente querido,
mas não se prende nisso, muito pelo contrário: é irônico, com muitas camadas
cômicas, críticas e de suspense”.
Ficha técnica:
Título: Meninos
Suspensos
Autor: D.B.
Frattini
Editora:
Patuá
ISBN: 978-65-5864-581-8
Páginas:
234
Onde encontrar: Editora Patuá
D. B. Frattini / Foto: Adriana Zutini
Sobre o
autor:
Nascido
em Pouso Alegre, em Minas Gerais, D.B. Frattini mora na cidade Campo Limpo
Paulista, em São Paulo. Trabalhou por décadas no teatro e agora se dedica
integralmente à literatura. Nas artes cênicas, foi dramaturgo do Grupo Boi de
Mamão e da Theatrais Folias Andracômicas, além de ter trabalhado em
universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Formou-se pela Faculdade de
Belas Artes de São Paulo, tem especialização em Fundamentos Estruturais da
Composição Artística, Antropologia Teatral e Commedia Dell’Arte. Como escritor,
participou da coletânea “Abraços Ausentes” (Letraria), publicou o livro de
contos “Bofetada e Êxtase” (Autografia) e agora lança o primeiro romance da
carreira, “Meninos Suspensos”, pela editora Patuá.
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