Ana Cristina Ribeiro Alves utilizou a literatura
como ferramenta de conscientização sobre os casos de estelionato sentimental na
internet. Oficial do Ministério Público de Minas Gerais e especialista em
Direito Público e Direito Privado, ela escreveu sobre o assunto no livro Eu confiei nele. Além de
explicar como esses crimes ocorrem nas redes sociais, a autora também aborda a
importância da denúncia e propaga mensagens positivas a partir da história de
uma vítima que superou o trauma.
Em entrevista, a
escritora dá detalhes sobre a obra, cita os principais canais de denúncia,
ressalta a necessidade de uma rede de apoio às pessoas que sofreram golpes e
explica como o crime costuma acontecer. Leia:
“Eu
confiei nele” foca na história de uma vítima de estelionato sentimental na
internet. O que a levou a tratar desse assunto por meio da ficção?
Ana
Cristina Ribeiro Alves: Em primeiro lugar, foi a necessidade de dar voz às vítimas que não
tinham coragem de procurar as autoridades policiais, com o receio de que o
golpe viesse a público. Segundo, para mostrar os sinais apresentados pelos
golpistas, como forma de prevenção. Por último, para mostrar que é possível a
superação e recuperação da autoestima.
O
que é o “golpe do amor” e como ele pode ser identificado no meio virtual?
Ana
Cristina Ribeiro Alves: É a conduta criminosa praticada por alguém que esconde sua verdadeira
identidade, valendo-se na maioria absoluta dos casos do meio virtual, no qual,
usando técnicas de persuasão linguística e explorando algum tipo de
vulnerabilidade, induz a pessoa a uma dependência emocional, direcionada à
obtenção de lucro financeiro em prejuízo da vítima.
Se
uma pessoa é vítima do estelionato, o que ela pode fazer para denunciar? E o
que as pessoas ao seu redor podem fazer para acolhê-la?
Ana
Cristina Ribeiro Alves : A vítima pode procurar a Polícia Militar (caso de flagrante) e
Civil, além do Ministério Público. Há uma ferramenta gratuita no site www.infotracer.com, na qual é possível
descobrir o IP do e-mail suspeito. Se ele estiver fora do Brasil, é possível
utilizar o site www.usa.gov, com ligação ao FBI. Já as
pessoas ao redor podem ouvir a vítima, evitando julgamentos desnecessários e
estimulando-a a práticas saudáveis e edificantes.
Durante
a história, você descreve os principais sinais de alerta desse tipo de crime,
mas também lança um olhar para a situação de vulnerabilidade das vítimas. Qual
a importância desse acolhimento para o público que sofreu esse golpe?
Ana
Cristina Ribeiro Alves: A natureza do golpe virtual do amor provoca consequências
devastadoras na dignidade e autoestima da vítima, fazendo-a, muitas vezes,
sentir-se inútil e até mesmo ridícula. A vulnerabilidade existente antes do
golpe é agravada, sendo, às vezes, alimentados pensamentos suicidas. O
acolhimento familiar, dos amigos e até mesmo de órgãos da Assistência Social,
irá ajudar na superação do trauma.
Para
além do golpe, você apresenta uma narrativa de superação, de uma mulher que
conseguiu se livrar de muitos traumas. De que forma essa perspectiva positiva
pode ajudar a reconstruir a autoestima dos leitores que se identificam com a
protagonista?
Ana
Cristina Ribeiro Alves: Nossa mente se alimenta daquilo que oferecemos a ela: se insistirmos
em recordar coisas negativas, não sobrará espaço para as positivas. No caso da
personagem, o novo aprendizado ocupou a mente dela, com redirecionamento das
energias gastas nas lembranças e lamentações a respeito do golpe. E sentir-se
capaz de fazer algo novo e desafiador acabou com a ideia de inutilidade,
resgatando a autoestima.
Por
que devemos falar mais sobre o estelionato sentimental?
Ana
Cristina Ribeiro Alves: Porque é uma forma criminosa que cresce a cada dia, em um ambiente
chamado por muitos de “terra de ninguém”, já que, apesar de existirem normas
regulamentando as relações virtuais, nosso país ainda apresenta déficit em
relação à estrutura necessária para identificar e punir os golpistas, além da
deficiência na assistência às vítimas, ainda consideradas, por muitos, culpadas
pelo golpe sofrido.
Sobre
a autora:
Ana Cristina Ribeiro Alves é
Oficial do Ministério Público do Estado de Minas Gerais desde 2005.
Especialista em Direito Público e Direito Privado, e com experiência docente em
Direito Administrativo, ela faz sua estreia na literatura com o livro “Eu
confiei nele: um perverso golpe virtual do amor e a superação impulsionada por
um sonho audaz”.
Redes sociais: Instagram | LinkedIn
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