A Segunda Morte de Suellen Rocha,
livro da escritora Cláudia Lemes, foi publicado pela Editora Avec em 2020 (293
páginas). Quatro adolescentes fazem um pacto para esconder um segredo que as
envolve. No entanto, vinte anos depois Suellen é mutilada e morta. Próximo ao
corpo da vítima é encontrado uma palavra escrita com sangue na parede: “assassinas”.
Começa aí o mistério que vai nos conduzir por uma trama engenhosa e de extrema
habilidade elaborada pela escritora.
As protagonistas são Mariana,
Suellen, Cacau e Dafne. Percebemos que elas sempre tiveram uma boa conexão,
desde a adolescência, fase em que cada uma delas começa a descobrir o mundo de
forma diferente.
Na cidade de Jepiri elas vivem e
se deparam com situações inusitadas que as levam a se envolver num emaranhado
de segredos, mas não sobre os outros e sim sobre elas. Após a morte de Suellen,
as mulheres que já viviam separadas e seguindo suas vidas, até em cidades
diferentes, voltam a se preocupar com os acontecimentos do passado, que as
assombra e lhes causam medo.
A escritora utiliza o recurso de flashback
para apresentar a trama ao leitor. Assim sendo, na narrativa, nos deparamos
com capítulos que apresentam o momento pós morte de Suellen Rocha – a
investigação do caso propriamente dita; e capítulos que versam sobre o passado
das jovens – momentos nos quais vamos descobrindo os acontecimentos do passado
que criaram nelas uma forte ligação.
Um dos exemplos que podemos citar
da conexão que há entre elas é o fato de que todas possuem uma tatuagem que foi
feita naquela época, firmada como uma marca que as unem.
Por meio do retorno ao passado a
autora vai tecendo a história de modo que novas informações são acrescentadas
para completar a visão do leitor. Como toda obra de suspense, vale a pena
prestar atenção nos detalhes, nas minúcias e ficar atento ao texto, tudo pode
nos levar a uma composição sobre a solução do caso.
Demonstrar personagens que tem
camadas e que não são apenas boas ou más é uma arte. Cláudia consegue imprimir
em seus personagens características demasiadamente humanas e, acrescenta a
eles, características emocionais e problemas particulares que poderiam ser identificados
por aí. Isso torna os personagens da história verossimilhantes e
tridimensionais. Mesmo os personagens secundários não são dotados de opacidade;
pelo contrário, vão se demonstrando ao leitor com suas nuances e se fazem
completos.
Outrossim, ela não nos entrega de
bandeja todas as características, como se os personagens tivessem impressos
apenas aquelas particularidades e as mantivessem ao longo da trajetória. Vamos
descobrindo com o avançar da narrativa, por meio das ações e diálogos, como
esses personagens vivem, pensam e agem diante das situações apresentadas pela
vida. As quatro protagonistas são diferentes e carregam em sua formação ações
que moldaram a sua personalidade.
O livro aborda ainda assuntos que
merecem ser discutidos na sociedade, no entanto, sem ser panfletário. Trata de
aborto, traição, relacionamentos familiares, religião, política, racismo,
machismo, violência doméstica, ética médica e consegue, dentro da trama,
abordar os assuntos com total consonância com o que vivem os personagens. Isso
reforça o fato de que a literatura pode e deve abordar assuntos atuais, sem
perder o tom ficcional necessário para o andamento do romance policial.
Em outra perspectiva é possível
afirmarmos que a abordagem desses temas, além de permitir que a obra tenha
ligação com o momento atual do país e do mundo, permite ao leitor refletir
sobre as temáticas que são tratadas sem deixar do lado a presença de uma boa e
intrigante história, daquelas que nos faz roer as unhas.
A Segunda Morte de Suellen Rocha
é um livro que precisa ser apreciado pelo leitor página a página. E não faltam
elementos que permitem um mergulho na investigação. O tempo todo nos
questionamos: Quem é o assassino? Qual é o segredo que as protagonistas
guardam? Por que agora estão sendo perseguidas? Por que uma segunda morte de
Suellen Rocha?
Cláudia mantém o suspense e nos
dá subsídios para formularmos diversas teorias até nos apresentar a revelação.
Quando a história mantém o suspense e consegue prender a atenção do leitor até
as páginas finais sem deixar que o receptor seja tomado pelo tédio, é um ótimo
sinal. Sinal de que a narrativa foi bem estruturada, que a história se sustenta
e que os personagens mexem com o leitor.
Em um bom thriller é
sempre revigorante para o leitor se deparar com reviravoltas e ir mudando sua
percepção acerca do possível criminoso. Assim o é com A Segunda Morte de
Suellen Rocha. Certamente você terá uma teoria logo no início, outras surgirão
durante o avançar dos capítulos e o final te surpreenderá.
Leitura mais que recomendada.
Sobre a autora:
Cláudia Lemes tem oito romances e
dezenas de contos publicados, a maioria dos gêneros suspense, policial e
horror. Seu thriller Quando os Mortos Falam foi finalista do Prêmio Jabuti em
2022 e vencedor do Prêmio ABERST de Literatura no mesmo ano. Ela tem publicações
nas editoras Globo Livros, Darkside Books, AVEC e outras, e atualmente é autora
da HarperCollins Brasil. É ghostwriter prolífica, mentora de autores,
professora de escrita criativa, roteirista, tradutora e publisher da Rocket
Editorial. Mora em Santos, sua cidade natal, com os três filhos e o marido.
Titulo: A segunda morte de Suellen Rocha
Escritora: Cláudia Lemes
Editora: Avec
Ano: 2020
Edição: 1ª
ISBN: 978-65-86099-00-3
Assunto: Ficção brasileira
Número de páginas: 293
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