Ao invés de sempre
intermediar conflitos entre irmãos, os pais podem convidar as crianças a uma
aventura diferente, que mostre a importância da união fraterna. Esta é a
proposta do enredo de Afonso
& Martim, livro do escritor e roteirista Pedro Santos. A obra
prova que, sozinho, é mais difícil superar as desavenças da vida.
No enredo
fantástico, Afonso e Martim são transportados para um deserto e precisam
resgatar o pai das mãos de um mago malvado. Nesta jornada, enfrentam monstros
que são a personificação de sentimentos, como o medo e a ansiedade.
De acordo com o
autor, a história busca tratar das relações entre irmãos e também das
dificuldades do crescimento. “As crianças são afetadas por emoções complexas.
E, quanto mais cedo soubermos lidar com os sentimentos, melhor poderemos
encaminhar soluções para enfrentar os momentos difíceis que inevitavelmente vão
aparecer”, afirma.
Na entrevista
abaixo, o escritor fala sobre como a literatura pode ser uma ferramenta no
processo de autoconhecimento do público infantojuvenil. Leia:
Pedro,
você é roteirista e especialista em roteiro audiovisual. Isso faz do seu livro,
“Afonso & Martim”, um enredo no estilo de séries ou filmes fantásticos –
com protagonistas que encaram e vencem grandes vilões?
Pedro
Santos: Eu
acredito que um livro alcança seu potencial quando as imagens construídas pelo
escritor conseguem se conectar com as imagens que o leitor produz ao fazer a
leitura. É a partir daí que ele se apropria da obra, e ela deixa de ser apenas
uma série de palavras no papel para ganhar vida.
Essa forma de
conexão só é possível pelas imagens que a escrita evoca na mente do leitor.
Mesmo as grandes séries e filmes que nos encantam começam com a escrita no
papel. A experiência de escrever roteiros audiovisuais me ajudou muito na hora
de escrever “Afonso & Martim” graças ao poder mágico que as palavras têm de
criar imagens na mente dos leitores.
A
obra trata de temas importantíssimos com o público infantojuvenil, como medo,
luto, união e esperança. Alguns desses assuntos você aborda como
personificações maldosas. De que forma isso pode ser um bom pretexto para os
pais tratarem de temáticas difíceis com os filhos?
Pedro
Santos: Todo
ser humano é um ser atravessado por afetos. Alguns deles nos causam alegria e
outros nos entristecem. Faz parte do desenvolvimento de cada um de nós entender
e aprender a lidar com as emoções que nos circundam. As crianças também são
afetadas por emoções complexas, como a melancolia, a raiva, o medo, a angústia.
E, quanto mais cedo soubermos lidar com sentimentos, melhor poderemos
encaminhar soluções para enfrentar os momentos difíceis que inevitavelmente vão
aparecer.
No livro, esses
sentimentos são personificados em criaturas fantásticas que fazem parte dos
encontros do Afonso e do Martim. É assim que surgem personagens como o Mapã, o
monstro que se alimenta do medo. Ou também os Soldados Sem Rosto, que são
guardas do mundo das sombras, que só aprenderam a obedecer e obedecer sem
pensar e, assim, acabaram perdendo a própria face, a própria identidade. Cada
personagem representa um afeto dominante que os irmãos precisam enfrentar para
poder crescer.
O
tema principal do livro é a importância da união entre irmãos. Você acredita
que a história possa ser uma ferramenta para acabar com a rivalidade das
crianças dentro de casa?
Pedro
Santos: A
vida entre irmãos é uma vida com bastante ambiguidade. No livro, os irmãos têm
personalidades muito diferentes. Afonso é mais racional e gosta de ficar imerso
nos próprios pensamentos antes de tomar qualquer decisão. Já o Martim é mais
ativo e não gosta de ficar pensando muito, prefere agir. Ao mesmo tempo em que
essas personalidades se complementam, elas também entram em conflito com uma
certa frequência. Eles se amam, mas também se odeiam algumas vezes. Tem muita
parceria e companheirismo, mas também uma boa dose de raiva e desentendimento.
É assim, isso faz parte de todo relacionamento humano.
Mesmo no caso de
filhos únicos, é muito comum eles transformarem os melhores amigos em verdadeiros
irmãos. Então podemos dizer que esses sentimentos fazem parte de todos nós.
Essa ambivalência com amor de um lado e raiva do outro. Às vezes, o irmão é
aliado, às vezes, é adversário. E está tudo bem, desde que a gente aprenda a
lidar com esses sentimentos e consiga entender que há algo de maior, mais forte
e mais significativo que unem os irmãos.
O
que os leitores podem esperar de você quanto a futuras publicações? Já tem
planos para lançar novos livros?
Pedro
Santos: O
meu processo na hora de escrever um livro geralmente leva um certo tempo até
que os personagens comecem a falar comigo. No caso do Afonso e do Martim, foram
8 anos entre a primeira vez que os irmãos surgiram e o livro, enfim, publicado.
Esse tempo foi muito importante para conseguir entender quem eram aqueles dois
e como se daria a jornada deles.
No momento, estou
desenvolvendo outras histórias cheias de aventura e afeto, e espero que em
breve novos livros cheguem nas mãos das leitoras e leitores de todo o Brasil.
Sobre
o autor:
Pedro Santos nasceu em São
Paulo, mas teve a chance de morar em muitos outros lugares. Foi assim que ele
desenvolveu o gosto por escrever história. É escritor, roteirista e jornalista,
mestre em Estudos Culturais pela USP e especialista em Roteiro Audiovisual pela
New York Film Academy. Tem experiência como repórter de jornal diário e
correspondente internacional. Foi pesquisador da Cátedra José Bonifácio
(CJB-USP), gerida pelo Centro Ibero-Americano, e é autor do livro
infantojuvenil Afonso
& Martim.
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