Entrevista: Cecília Amado - Tomo Literário

 


Cecília Amado foi a produtora e diretora do filme Capitães da Areia, lançado em 2011, uma adaptação do livro de Jorge Amado. Iniciou a carreira em 1995, e fez escola nos sets de grandes produções. Antes de se tornar diretora, trabalhou como assistente de direção por 15 anos no cinema e na TV Globo. Em 2008, Cecília dirigiu o curta-metragem infantojuvenil Minha Rainha e iniciou a produção do seu primeiro longa-metragem, Capitães da Areia. O longa foi finalista do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, na categoria Melhor Roteiro Adaptado e premiado em festivais nacionais e internacionais.


Dirigiu e roteirizou filmes como Onde Dorme os Sonhos e Tempestade Emocional e séries como Da Manga Rosa (GNT/Globoplay), Meu Irmão Nerd (TVE/Amazon Prime) e Toda Menina Baiana (Canal Futura/ Globoplay) e ainda, para a TV, o telefilme Beleza da Noite (TV Bahia/Globoplay), em co-direção com Dayse Porto.


Cecília Amado, concedeu uma entrevista ao Tomo Literário Clube de Leitores em que falou sobre a criação da Tenda Filmes, a versão cinematográfica da obra de Jorge Amado, conta como foi a seleção do elenco, o processo de adaptação do livro, indica autores e muito mais.


Confira a entrevista que foi divulgada em primeira mão para os integrantes do clube de leitores.


Tomo Literário: Para começarmos gostaria que nos contasse um pouco sobre a criação da Tenda Filmes.


Cecília Amado: A Tenda dos Milagres é uma produtora de audiovisual baiana que abrimos, juntamente com a Lara Belov e a Jamille Fortunato para dar sequência ao trabalho com crianças e adolescentes que iniciamos na produção de Capitães da Areia. Desde 2011 começamos então a produzir conteúdos infantojuvenis e realizar oficinas de formação audiovisual voltadas para esse público. Seguimos até hoje nesse caminho e você pode acompanhar as novidades no instagram @tenda.cine.


Tomo Literário: O que a levou a produzir e dirigir o seu primeiro longa-metragem, o filme "Capitães da Areia"? E o que a fez escolher adaptar essa obra de Jorge Amado?


Cecília Amado: Toda minha carreira foi voltada para o audiovisual, comecei no cinema com apenas 18 anos e sendo Capitães da Areia um romance que marcou a minha juventude, eu queria ver esses personagens na tela. Que história eu gostaria de contar em meu primeiro longa-metragem? Aquela história, dos meninos da Bahia.

Cartaz do Filme "Capitães da Areia".

Tomo Literário: Como foi naquela ocasião o processo de seleção dos atores jovens que participaram do filme?


Cecília Amado: Optamos por buscar jovens com experiências sociais próximas as dos personagens, que trouxessem aquela bagagem para a história. Foi uma busca em 25 ONGs que trabalham com arte-educação, entrevistamos 1200 adolescentes, testamos cerca de 700 e escolhemos 90 para participar de uma oficina de formação durante 3 meses e no final do processo todos os 90 estiveram no filme como protagonistas ou elenco de apoio.


Tomo Literário: No livro Dora e Pedro Bala são loiros, a escolha de atores que não trazem essa característica foi proposital?


Cecília Amado: Não, nossa proposta era conhecer os Capitães da Areia do século 21, estar perto da realidade desses meninos. Em 1200 entrevistados não existia nenhum louro ou loura, portanto não fazia sentido afrontar a realidade a serviço da ficção. Até porque o contexto em que Jorge Amado escreveu o romance, nos anos 30, sua motivação e seus ideais para colocar os personagens com aquelas características, já não eram coerentes com o próprio Jorge Amado que eu conheci na sua maturidade. Ele escreveu o romance com apenas 24 anos, de lá pra cá, muita coisa mudou.



Tomo Literário: Como foi a adaptação da obra literária para as telas cinematográficas, já que há detalhes no texto literário que podem ou devem ser deixados de lado? Foi um processo complexo?


Cecília Amado: Toda adaptação é um processo complexo, diferente da escrita do roteiro original. Um filme é uma nova obra que se cria e para o roteiro precisamos fazer um recorte do romance, criar regras e uma coerência interna para a abordagem que optamos por fazer.


Tomo Literário: Desde a produção do filme Capitães da Areia para cá, há algo que você teria mudado na produção do longa? Por qual motivo?


Cecília Amado: Não mudaria nada. Cada filme é um processo único, não se volta atrás. Hoje, começando do zero, talvez fizesse alguma coisa diferente, mas nunca penso no filme que passou, sempre no próximo.


Tomo Literário: O que mais te encanta no livro Capitães da Areia, essa obra de tanta importância na literatura nacional?


Cecília Amado: O romance me marcou pelo contraponto entre liberdade e abandono. Fala de uma condição social terrível que ainda hoje vivemos no Brasil e ao mesmo tempo coloca esses jovens em situação de rua como heróis por resistirem em uma sociedade numa condição de vulnerabilidade que determina uma expectativa de vida muito curta para eles. E o romance mostra como a vida em grupo, o convívio com as diferenças, a determinação em sobreviver, a liberdade das ruas, são fundamentais para essas crianças.


Tomo Literário: Quais são as suas impressões sobre outros longas ou produções televisivas que foram realizadas a partir da adaptação de obras de Jorge Amado?


Cecília Amado: Existem tantas adaptações que é difícil de analisar o conjunto. Alguns filmes eu gosto muito, como o próprio Dona Flor (a primeira versão), o Quincas, Tenda dos Milagres…

Tomo Literário: Quais são os seus novos projetos? Pode nos adiantar alguma informação?


Cecília Amado: Acabo de lançar uma série documental sobre adolescentes, meninas que completam 15 anos e se preparam para ser as mulheres do futuro. A segunda temporada chega nos próximos meses ao Canal Futura e a primeira está disponível no Globoplay, chama Toda Menina Baiana.


Tomo Literário: Que autores e/ou livros você recomendaria para os leitores?


Cecília Amado: Poderia citar dois autores que me marcaram em suas trajetórias literárias que são João Guimaraes Rosa e Gabriel Garcia Marques. Dos nossos contemporâneos, indico os romances Torto Arado, do baiano Itamar Vieira Junior e A Cabeça do Santo, da cearense Socorro Acioli.


Tomo Literário: Jorge Amado é um homem de grande importância para a literatura e para história brasileira. Quem foi Jorge Amado para Cecília Amado?


Cecília Amado: Pra mim foi um avô muito carinhoso, amigo, que me marcou muito por sua forma de lidar com as pessoas, de viver na sua cidade, de amar as pessoas as mais diversas sem qualquer preconceito ou discriminação.


Tomo Literário: Quer deixar algum recado ou comentário sobre algo que não tenhamos abordado para os leitores do clube e do blog?


Cecília Amado: Filmes e livros são duas possibilidades diferentes de sonhar, viajem em ambas, vejam sempre adaptações de obras literárias com o coração aberto para uma nova experiência.


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