A vocação dialógica do romancista, tanto com a tradição artística ocidental, quanto com os problemas de seu país e a sua diversidade cultural, desenha um processo rico em contrastes e figura um profuso labirinto de intertextos.”
Ângela Maria Dias, Profa. Titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense (UFF), sobre o novo livro.
“A extração
da pedra da loucura” é um dos quadros da primeira fase do pintor holandês
Hieronymus Bosch (1450-1516), e encontra-se hoje no Museu do Prado, em Madrid.
A obra mostra uma espécie de operação cirúrgica que se realizava durante a
Idade Média, e que consistia na extirpação de uma pedra que seria a causa da
loucura do homem.
Publicado na França com o título de “Esquisse”, o novo romance de Godofredo de
Oliveira Neto, membro da Academia Brasileira de Letras desde 2022, parte da
hipótese de um esboço perdido deste quadro para narrar a história de Luigi,
especialista em Letras, dublê de advogado, filho de pai desconhecido e mãe de
família italiana. Ele vai de Nova Iorque a Veneza e Florianópolis atrás da obra
de arte que pertenceu a sua família. Sua jornada é entremeada de muitos
imbróglios e surpresas, além de discutir temas atuais como fake news e questões
da raça: Luigi é considerado nigger (negro) em Nova York, mas não no Brasil, e
tem dúvidas sobre como se posicionar a esse respeito. Para complicar a vida do
nosso herói, ele também se equilibra na suspeita de um triângulo amoroso com a
amada Ana Júlia e o amigo Filipão.
Ousado e demolidor, “O desenho extraviado de Hieronymus Bosch”, publicado pela Editora Almedina, confirma do
talento de Godofredo de Oliveira Neto para tecer tramas e conduzir seus
personagens. O livro alinha-se às pequenas grandes obras desses tempos tão
velozes.
Confira a
sinopse da obra:
“A esquisse do Bosch é falsa, a verdadeira nunca saiu de Veneza. Tio
Domênico foi encontrado morto em um hotel de São Paulo, amarrado a uma cadeira,
nu, com uma peruca loira comprida(...) Mas quem o amarrou e por quê?”
O romance se passa nos dias atuais em N. York, Veneza e
Florianópolis. Luigi vai a N. York em busca de um esboço de autoria do pintor
Bosch, guardado no cofre de um banco americano. Esse esboço do século XVI está
com a sua família desde o início do século XX. Lá chegando, descobre que o
quadro está em Veneza com um membro distante da família. Após encontros
malogrados e estranhos, com a realidade se fundindo a cenas imaginárias e
alucinantes, resta a Luigi o conforto afetivo de Florianópolis que, no entanto,
lhe é sinônimo de ciúmes opressivos.
Ana Julia parece lhe escapar. Ele foi manipulado pela
família? Pelo tio mafioso ou pelo primo sem escrúpulos? O vírus respiratório
que assola o mundo potencializa o seu estado melancólico?
Publicado em outros países com o título de Esquisse, palavra
francesa radicada remotamente no italiano schizzo, de provável origem
onomatopaica, a ideia geral deste romance é que a obra literária desenvolve-se
a partir de um esboço e pode render mais, como, aliás, o autor demonstra
sobejamente na habilidade com que tece as tramas e conduz os personagens.
Ousado e demolidor, O desenho extraviado de Hieronymus Bosch alinha-se às
pequenas grandes obras desses tempos tão velozes.
Godofredo de Oliveira Neto / Foto: Reprodução
Sobre o autor:
Godofredo
de Oliveira Neto é catarinense de Blumenau, professor de
profissão, Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Autor dos romances “Faina de Jurema”, “O Bruxo do Contestado”, “Amores
Exilados” e “Grito”, este último, agraciado com o Prêmio de Melhor Romance
conferido pela Academia Catarinense de Letras. Desde 2022 ocupa a cadeira 35 da
Academia Brasileira de Letras, sucedendo o também professor Cândido Mendes de
Almeida.
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