Embora seja um segmento muito falado no mercado, na política e, portanto, no jornalismo, pouco se vê do agronegócio como assunto literário.
Quem sabe com o objetivo de preencher essa lacuna é que surge agora o livro “Um lugar ao norte” (Penalux), da escritora Silvia Gerschman, romance que aborda justamente esse aspecto da realidade brasileira.
O livro foi escrito nos últimos três anos e se passa, não por acaso, numa região em que o agronegócio predomina: o Estado do Mato Grosso, polo agrícola em que se destaca o crescimento da produção do gado e da soja, de onde se fortalece a exportação de commodities pelo nosso país.
“O lugar onde a trama do romance acontece foi escolhido propositalmente com o intuito de focar o estudo e análise que constitui o centro da dominação econômica e política no Brasil”, comenta a escritora.
A obra, que está dividida em 32 capítulos, retrata a vida de duas famílias de fazendeiros extremamente ricas e busca explorar o nódulo central do poder político e econômico. “Poder esse que alimenta uma personalidade tão sinistra como a cultivada pelo presidente atual”, acentua Gerschman.
O embate dos personagens que estão em cena em “Um lugar ao norte” visa também propor aos leitores uma melhor compreensão da presente conjuntura política.
Segundo as palavras da autora, o crescimento produtivo de soja e gado engendrou imensos complexos agrários, exercendo enorme força política na organização social, além de outros impactos na região mato-grossense.
O ponto central da trama escrita por Gershman se foca na aspiração de um dos fazendeiros ricos da região, que mantém a expectativa de que sua filha seja herdeira e dirigente do seu agroimpério. Mas a filha vai percorrer um outro caminho, opondo-se firmemente à vontade paterna. Desse enfrentado nasce o conflito que sustenta a tensão do romance.
Nas palavras de Jonatan Silva, o romance “Um lugar ao norte” retrata um “Brasil convulsionado e dilacerado”. Nesse livro “somos testemunhas de vidas fragmentadas e à deriva, de laços familiares e de amizade que não suportam o peso da verdade. Através da história de Narcisa, nos deparamos com as feridas que dão corpo ao nosso mosaico de mazelas e imperfeições. [...] Ao mesmo tempo que investiga tantas inflexões e dissensões, a escritora cria uma narrativa elegante e charmosa, bem delineada e fluída, em que linguagem e conteúdo se articulam com originalidade e múltiplas camadas. ‘Um lugar ao norte’ carrega o leitor por um vale de lágrimas, mas também por momentos de uma ironia fina e inteligente, de cenas lapidadas com a força de quem conhece a precisão da palavra. [...] O romance não deixa dúvidas das batalhas que trava – tampouco de suas metáforas e representações –, porém, sem cair no vão da literatura urgente e descartável. [...] No final das contas, fica o gosto de uma leitura sólida e incômoda – que nos conecta com o mundo de uma maneira que poucos autores souberam fazer – e a sensação de uma experiência ética e estética inconfundível”.
O lançamento presencial ocorreu recentemente na livraria Blooks (Rio de Janeiro). O livro segue à venda na loja virtual da editora e outros canais on-line de venda, como a Amazon.
Serviço:
Um lugar ao norte, romance – Silvia Gerschman (p. 272; 16x23; Penalux). | Disponível em:
www.editorapenalux.com.br/loja/um-lugar-ao-norte
Silvia Gerschman / Foto: Divulgação |
Sobre a autora:
Nascida em Buenos Aires, a socióloga Silvia Gerschman mudou-se para o Rio de Janeiro, onde mora desde 1977. Com mestrado no IUPERJ e doutorado na UNICAMP em Ciências Políticas e em Ciências Sociais, a autora é pesquisadora e professora da Fundação Oswaldo Cruz. Publicou numerosos artigos, além de contos em revistas literárias. É autora dos livros: O renascimento em outras terras (romance, Editora Patuá, 2019); Contágios (Contos, Editora Oito e Meio, 2016); Ninhos (Contos, Editora Patuá, 2019); A partitura de Clara (Romance, Editora Penalux, 2020).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário.