O Dilema do Porco-Espinho – Leandro Karnal - Tomo Literário

O Dilema do Porco-Espinho – Leandro Karnal

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O dilema do porco-espinho é uma metáfora que foi criada pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer para ilustrar o problema da convivência humana. No livro O Dilema do Porco Espinho – como encarar a solidão?, escrito por Leandro Karnal e publicado pela Editora Planeta em 2018, temos uma análise do autor acerca de tudo que permeia o tema solidão na sociedade moderna, tão líquida e repleta de ambientes virtuais.

O referido dilema, para o filósofo alemão Schopenhauer, apareceu em apenas um parágrafo no volume II de uma obra publicada em 1851 (Parerga und Paralipomena). Do que se trata a proposta do autor? Uma fábula que expressa em como o porco-espinho se aproxima dos seus semelhantes e, uma vez que se machuca com os espinhos, acaba afastando-se novamente. O mesmo, metaforicamente, acontece com o ser humano que procura agregar-se quando necessário, mas que se afasta quando identifica algo ou alguém que o incomoda.

Karnal parte do dilema do porco-espinho para fazer uma ampla análise sobre a solidão como elemento humano. Decerto que, assim como nós, a solidão também o atormenta, e talvez seja justamente isso que leva o autor a contextualizar a obra como uma provocação.

O filósofo analisa o que é o dilema do porco-espinho e porque nós, humanos, temos essa necessidade de ficar só (entenda-se aqui tanto a solidão que, de uma forma ou de outra, será benéfica, para a qual Karnal dá o nome de solitude, quanto a solidão que pode causar distanciamento, aflições e outros problemas). Aqui vale mencionar que na obra veremos exatamente esse contrabalanceamento. Se por um lado há a solidão que pode ser produtiva, criativa e necessária, por outro há a que provoca abalos emocionais, físicos e sociais.

Um dos recursos utilizados pelo autor para contextualizar a sua análise sobre solidão é usar da literatura, citando livros com personagens que vivem da solidão e, notadamente, percebe o leitor os diferentes tipos de gente solitária que pode viver na vida real. Utiliza ainda de outras artes para tratar o tema, o que torna a leitura ainda mais interessante, pois da ficção para vida real notamos semelhanças. Parece que ao analisarmos o que está fora de nós, somos tocados no processo de autoavaliação.

Próprio dos filósofos, Leandro Karnal, explora muito bem a provocação à reflexão. A todo tempo, aguça o pensamento de quem lê chamando-o ao livro para que pense, reflita e tome suas próprias conclusões com tudo que é exposto. As indagações são pertinentes e produzem o efeito pretendido de chamar o leitor a participar da construção da obra. Um ato que, solitário, parece nos levar a uma quase confidência ao interlocutor por meio das palavras lançadas em cada página. Ele solitário escreveu, nós solitários lemos e interpretamos. Essa compreensão extralinguística é complementar ao conteúdo do texto.

A questão central da obra é se de fato o convívio social é garantia para sobrevivermos, tendo em vista que, sobretudo nos tempos atuais, em especial nos centros urbanos, vivemos cada vez mais isolados. Isolamento esse que é aguçado pelo uso da rede mundial de computadores, das redes sociais e outros meios de comunicação à distância.

A experiência parece ainda mais rica quando há oportunidade de o leitor compartilhar suas impressões como outros leitores que se debruçaram sobre a obra. Inevitável. Vira uma sessão de terapia coletiva ou, no mínimo, uma forma de juntarmos mais livros para a lista de desejados, aqueles que pretendemos ler. Comigo ocorreu com o livro A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector, outra escritora que gosto muito.

A solidão, em tempos de internet, parece ser uma escolha. Uma escolha de gente mimada que gosta de viver na mesma bolha social e que aceita tão somente aqueles que tem um conteúdo que a agrada. Se não gosta, bloqueia. E assim segue o indivíduo em sua solidão negando que existam diferenças no mundo (sejam elas quais forem). Por outro lado, há quem faça da solidão um trampolim para momentos de reflexão e de contato com seu próprio eu. Esses sim, merecem ser reconhecidos, por passarem para um nível elevado a partir do estar só.

A solidão pode ser fonte de prazer ou de sofrimento. Quando ela é escolhida por nós, acaba se tornando um momento de regozijo. Todavia, quando ela nos é imposta, vira um momento de profunda tortura. Isso também se aplica pelo fato de que, na solidão, temos que lidar com nós mesmos.

Com o livro de Leandro Karnal somos provocados a refletir sobre o tema e entender a dicotomia da solidão. Vale a leitura e a proposta de reflexão que o tema enseja.



Sobre o autor:

Leandro Karnal é doutor em História Cultural pela Universidade de São Paulo e professor na Unicamp. Alguns de seus livros estão entre os mais vendidos como Crer ou não crer, O inferno somos nós, Todos contra todos, Diálogo de culturas e O mundo como eu vejo. Na mídia televisiva, participa frequentemente de programas como Jornal da Cultura, Saia .Justa, Café Filosófico CPFL, entre outros. É colunista semanal no jornal O Estado de São Paulo e Zero Hora (RS). Tornou-se um grande influenciador digital: sua página do Facebook possui mais de 1,4 milhão de seguidores e cresce muito o seu novo canal no YouTube (Prazer, Karnal). É um dos mais requisitados palestrantes do país.

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