Em razão de uma grande nevasca, Darby Thorne tem de parar o carro num posto para descanso. A situação apresentava-se crítica
demais. Ela não tinha sinal de celular, estava com pouca bateria e teria ainda
que enfrentar a estrada em meio a uma nevasca para conseguir visitar a sua mãe
que fora internada rapidamente e poderia morrer. Foi o mau tempo que a obrigou
a fazer a parada nesse posto. O mau tempo anunciando o que viria pela frente.
Ali ela se depara com outros veículos
e quatro pessoas. Sem contato, ela parece literalmente isolada do mundo e
cercada de desconhecidos. O que não passava por sua imaginação é que num dos carros
avistaria uma menina de nove anos de idade, presa numa gaiola de cachorro e
amordaçada. Uma situação bastante inusitada e que revela uma boa dosagem de
suspense e apreensão do que pode surgir nas páginas do livro.
“A menina estava dentro de um canil. Um daqueles com grades de arama
preto que podiam ser desmontados para armazenamento. Era dimensionado para um
cão da raça collie e tinha o reforço de um cadeado e de dezenas de abraçadeiras
de náilon atadas. A menina estava de joelhos porque não havia espaço suficiente
para ela ficar de pé. Seus dedinhos agarravam as barras de arame. A fita
adesiva estava fixada sobre sua boca em torços desajeitadas.”
Quem poderia ter feito aquilo? Como
há quatro pessoas no local e o veículo pertence a um deles, Darby deduz que
entre aqueles estranhos há um psicopata, capaz de um ato tão cruel impetrado
contra uma criança. Quem seria? O que ela pode fazer para tirar aquela menina da
situação em que se encontra? Quem das pessoas poderia ajuda-la? Será que
ela é capaz de resolver esse problema?
Essa é a premissa básica do livro Sem
Saída, de Taylor Adams, publicado no Brasil pela Faro Editorial em 2019 (272
páginas) e que foi traduzido por Carlos Szlak.
Todos os personagens que se encontram
naquela paragem terão de passar entre 8 e 10 horas no local, dada a interdição
das vias e pelo fato de que o resgate só pode acontecer no dia seguinte. O
tempo pode parecer curto, mas também pode se tornar uma eternidade quando se
está convivendo com gente desconhecida e sabendo que entre eles há algum criminoso
capaz de ações diabólicas e muito bem orquestradas.
Darby, no entanto, não carrega apenas
a aflição momentânea de ser numa situação de isolamento e cercada de gente que
lhe causa suspeitas. Vai ter que lidar
com a dor que a corrói por não chegar para a cirurgia de sua mãe que sofre de
uma doença terminal e por enfrentar essa situação sinistra que requer dela
muita coragem e inteligência para tentar salvar a criança das garras de alguém
cruel. Além disso, tem que passar por momentos psicológicos torturantes em
desconhecer as pessoas que ali estão e saber efetivamente quem poderia ser seu
aliado. Qualquer passo em falso, qualquer fala solta pode não dizer nada ou
dizer muito e fazer parte de um plano maior. Ela não sabe, o medo a assombra.
O autor consegue prender a atenção do leitor já nas páginas iniciais, quando apresenta o cenário e a problemática que será tratada no decorrer do livro. O clima de mistério paira no ar, mas além disso os pensamentos de Darby e a relação com sua mãe, que vai sendo demonstrada por meio desses pensamentos, vai se delineando como uma camada completar ao ponto central da história. Voltar-se para sua tragédia pessoal e ainda ter de resolver um problema de alguém desconhecido cria um mar de possibilidades a serem vislumbradas pelos leitores e que são bem exploradas pelo autor. Tensão.
“Por que eu tive de me envolver? Por que não poderia chamar a polícia de
manhã?”
O thriller já foi vendido para mais
de 33 (trinta e três) países, além de ter os direitos adquiridos para virar
filme, que será lançado pela Fox Filmes. A maneira como o autor narra os fatos nos faz
de fato sentirmos como se tivéssemos assistindo a um filme. Há muitas
reviravoltas, há personagens instigantes, há momentos de suspense e medo, há vários
pontos que nos faz questionar para onde a história vai caminhar e qual será o
seu desfecho.
A trama, que tem poucos personagens e
um ambiente fechado (salvo algumas cenas que se passam no lado externo) foi bem
construída. Os personagens são enigmáticos e cada um tem uma característica que
pode ser ressaltada ou percebida pelo leitor durante a leitura. O que cria
também certa dualidade em suas personalidades e nos faz questionar quem é o
criminoso e se as ações e diálogos que são colocados em cena advém apenas do
fato de estarem isolados ou se há algo por trás do que está sendo dito. Chegamos a duvidar suas ações e falas são verdadeiras ou se eles estão dissimulando.
Darby, a protagonista, é uma mulher
que tem suas fragilidades e ao mesmo tempo nutre um lado heroico, sem no
entanto ser mitológico. A construção da protagonista feminina que tem problemas
e que tem que lidar com eles é algo que deixa o personagem mais natural.
O thriller é eletrizante e capaz de
transmitir toda a tensão da história para quem está lendo. É um daqueles
livros que lemos roendo as unhas e com a dosagem de curiosidade aumentando a
cada página. Sentimo-nos presos naquele ambiente e cercados por pessoas
desconhecidas e tendo que entrar no jogo dos personagens para se safar.
Acontece com Darby e temos essa sensação bem transparente ao leitor.
O número de personagens é outro
aspecto que foi bem trabalhado pelo autor dentro da trama. Poucos não, são os
necessários para dar dinamismo e intrigar os leitores, sem fugir no cerne da
obra. O tempo todo temos uma questão que paira no ar: Darby conseguirá salvar a
menina?
Outro aspecto que tenho a destacar é
o jogo psicológico que se cria com os personagens. São muitos os sentimentos
que afloram nos personagens e que deixam em nós uma sensação de adrenalina.
Queremos descortinar o que está por traz de tudo aquilo e como Darby será capaz
de se desvencilhar e se será capaz. Suspeitamos de tudo e de todos.
A coragem que move Darby não é
gratuita. Há nela motivações que fazem parte de sua constituição. Outrossim
essa mesma coragem requer sacrifícios por parte da protagonista e ela cresce em
cena com as questões e acontecimentos que surgem ao longo da obra.
O ritmo é eletrizante e não sentimos
passagens de marasmo e calmaria. Uma escolha acertada do escritor que imprime
uma forma rápida, de acontecimentos sucessivos, num espaço temporal curto em
que a convivência dos personagens vai ficando densa e tensa.
Sem Saída é um ótimo thriller.
Sobre o autor:
Taylor Adams é um aclamado escritor de thrillers e diretor de curtas-metragens. Graduou-se na Eastern Washington University e ganhou o prêmio Excellence in Screenwriting. Antes de se tornar escritor, Adams trabalhou por muitos anos na indústria do cinema e televisão. Atualmente reside no estado de Washington.
Taylor Adams | Foto: Divulgação |
Sobre o autor:
Taylor Adams é um aclamado escritor de thrillers e diretor de curtas-metragens. Graduou-se na Eastern Washington University e ganhou o prêmio Excellence in Screenwriting. Antes de se tornar escritor, Adams trabalhou por muitos anos na indústria do cinema e televisão. Atualmente reside no estado de Washington.
Ficha Técnica:
Título: Sem Saída
Autor: Taylor Adams
Editora: Faro Editorial
Tradução: Carlos Szlak
Ano: 2019
ISBN: 978-85-9581-096-9
Número de Páginas: 272
Assunto: Thriller
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