Silas e Janete encontraram o amor verdadeiro já na maturidade. Eles são completamente diferentes, com visões de mundo distintas e personalidades que divergem. Essas diferenciações certamente não os teria unido quando mais jovens. As diferenças que para nós são tão gritantes se mostram como coisas que a maturidade permite relevar ou compreender. Aqui temo um interessante gancho explorado na obra de Nicolás Irurzun que nos leva, por meio da ficção, a interpretações e reflexões obre a vida real.
Os dois personagens passaram a morar juntos na casa que pertencia a Janete, mas depois de um ano de convivência um evento fatídico recai sobre o casal: Janete morre. Silas se vê num grande vazio, fica em total desespero e não consegue aceitar a morte de sua amada Janete. O vazio provocado pela morte da parceira, mexe com Silas.
Numa determinada data ele dorme profundamente, após uma bebedeira, e ao acordar sua vida se transforma completamente. Ele não está mais em 2018 - ano em que a história começa. Ele fez uma viagem no tempo e está em 1988. Novo cenário se configura: uma outra esposa, filhos, um trabalho que nāo sabe (ou não lembra qual é), hábitos e costumes totalmente diferentes daquilo que ele vivenciava em 2018.
Silas, no entanto, mantém-se obstinado em encontrar Janete. Ele tenta a todo custo, contando com planos e com o acaso, mas a mulher, diferente dele, não o deseja, não o quer, não conhece aquele homem que a cerca, que aparece em seu trabalho, que cruza o seu caminho em diferentes situações.
Janete é uma mulher batalhadora e que enfrenta a dúvida sobre uma doença. Silas sabe que ela não está doente, não do que ela imagina. Mas será? O caminho dos dois personagens é cheio de encontros e desencontros.
Nessa nova vida Silas se vê numa relação conturbada com a esposa. Sua mente está em Janete - a mulher da sua vida. Janete está absorvida pelo trabalho no comércio do Sr. Dorneles ao lado de Curió. Tais personagens também cruzaram a vida de Silas no tempo em que Janete estava viva. E agora? Seria sua imaginação? Seria sua ânsia por ter Janete ao seu lado e não te-la mais que o levou a imaginar essas situações pregressas de um tempo que passou?
Nicolás Irurzun construiu uma trama que cruza personagens, fatos e tempos diferentes. Numa narrativa ágil e com vários acontecimentos, o leitor conhece mais de Silas e Janete. O casal de protagonistas é muito bem desenvolvido pelo autor, tanto no que refere-se ao comportamento de ambos, quanto no modo como se expressam, o que é constatado nos diálogos.
Janete, que dá nome ao livro que foi publicado pela Editora Pandorga em 2018, é uma mulher que começa madura, numa casa adornada de objetos esotéricos, que mantém o hábito da liberdade, de não sentir-se presa. Sua figura quando jovem também nos revela esse modo de encarar a vida, ainda que haja gostos e hábitos que a transformem ao longo do tempo. Isso demonstra ao leitor uma síntese de como há transformações que movem o humano ao longo de sua vida.
Silas é um homem que na maturidade parece mais leve ao lado de Janete. Quando retorna o tempo aparenta ser mais sério. Outra demonstração de que somos mutáveis e, possivelmente, a leveza que vemos nele inicialmente seja fruto do seu amor por Janete. Não seria essa uma das formas de encararmos os relacionamentos? As pessoas se aproximam por suas diferenças e cada um absorve um pouco o que há no outro.
Fato é que tanto os protagonistas quanto os personagens secundários carregam traços marcantes. Curió, por exemplo, é um personagem secundário, amigo de Janete, que se vê envolvido em rolos e que se expressa de um modo bastante característico, até no modo como chama Janete: Crazy Janet.
A história de Silas e Janete fala de escolhas, sobre os caminhos e decisões que tomamos ao longo da vida. Fala ainda sobre consequências, que advém de nossas ações. A trama versa sobre os encontros e desencontros que um casal pode ter ao longo de sua existência, de conformidade e aceitação com relação às diferenças, da necessidade de viver um momento de luto para que possa compreender a perda. Fala sobre relações e sobre amor, fala ainda sobre autoconhecimento. Tudo, no entanto, é abordado de maneira leve, numa história bastante agradável de ler.
Vale a pena conhecer e ler Janete.
Sobre o autor:
Nicolás Irurzun nasceu em Buenos Aires, em 1972. O escritor é formado em jornalismo, torcedor sofrido, roqueiro frustrado, paulistano de criação e interiorano de coração. Uma mente em obras, criando novas histórias. Janete é o seu terceiro livro.
Ficha Técnica:
Título: Janete
Escritor: Nicolás Irurzun
Editora: Pandorga
Edição: 1ª
Ano: 2018
Número de páginas: 144
Assunto: Literatura brasileira
Vale a pena conhecer e ler Janete.
Nicolás Irurzun | Foto: Reprodução |
Sobre o autor:
Nicolás Irurzun nasceu em Buenos Aires, em 1972. O escritor é formado em jornalismo, torcedor sofrido, roqueiro frustrado, paulistano de criação e interiorano de coração. Uma mente em obras, criando novas histórias. Janete é o seu terceiro livro.
Ficha Técnica:
Título: Janete
Escritor: Nicolás Irurzun
Editora: Pandorga
Edição: 1ª
Ano: 2018
Número de páginas: 144
Assunto: Literatura brasileira
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