O Telefonema Que Não Fiz, do escritor Jonas Zair Vendrame, foi publicado pela Skull
Editora em 2018 (1ª edição; 240 páginas).
Um simples telefonema pode mudar a vida das
pessoas? E se esse telefonema não for feito? Pense nisso!
Júlia Pascoal trabalha num hospital e namora
um dos médicos do estabelecimento. Protagonista do livro ela faz a narração da
história em primeira pessoa. Uma mulher que apresenta traços de imaturidade e
desatenção em relação aos sentimentos dos outros. Seu comportamento individualista
acaba levando-a a arquivar uma pasta (em que está as informações sobre um
telefonema que ela deveria fazer). O erro que comete no trabalho, ao não ligar
para quem deveria, culmina num episódio nada agradável.
Júlia, no entanto, parece sentir-se culpada,
ainda que por vezes esconda o fato de não ter realizado a tal ligação.
Lembre-se que não estamos falando de uma ligação de cunho privado, mas que era
uma responsabilidade profissional da protagonista. A culpa, aos poucos, começa
a consumi-la, sobretudo quando ela sabe o que aconteceu após a não realização
do telefonema.
Então, a moça começa uma jornada em busca de
reparar, ou melhor, minimizar a sua culpa. É a partir daí que temos uma
história que envolve superação, desprendimento, doação, empatia e os
contrapontos de todas essas questões positivas que permeiam o lado humano de
personagens que figuram na história criada pelo autor.
É inegável que Júlia vai mexer com o leitor,
porque apesar de protagonizar a história, ela expõe suas fragilidades e
defeitos, o que nos faz sentir por ela sentimentos contraditórios. É dessa
imperfeição que surgem ainda grandes ensinamentos quando lemos a história e que
lançam provocações para que o leitor reflita. Reflexões que reverberam tanto das ações que a personagem tem na trama quanto no modo como agimos no cotidiano.
O Telefonema Que Não Fiz é um livro cheio de emoções, que aborda o peso da culpa, o abalo psicológico advindo de uma omissão, o confronto com as consequências de seus atos e a necessidade de pensar sobre a responsabilidade. Uma falha, uma omissão, um desleixo, pode causar dor, sofrimento e danos, não só a quem provoca, mas a quem é abatido por tudo isso, e pode ser não só uma pessoa, mas várias. A extensão de uma ação é tratada na obra de maneira que compreendamos todos os impactos gerados a partir daquilo que Júlia não fez.
“Não sei o que houve, o telefone nunca tocou,
nunca...”
Um telefonema não feito pode gerar impactos
sem volta, pode gerar a partir daí a oportunidade de refletir sobre a sua
própria vida, pode mudar sua visão sobre compromisso e responsabilidade, pode
modificar sua forma de encarar a vida, pode gerar impacto na vida de terceiros,
pode te fazer amadurecer, pode causar desconforto a partir da culpa e a
necessidade de exercício da empatia. E se fosse com você? Um telefonema não feito pode gerar impactos inimagináveis.
Outra coisa que paira na trama é o
questionamento sobre o acobertamento de um erro que pode levar outra pessoa a
pagar por ele. Provoca, portanto, o senso de justiça, tanto dos personagens
envolvidos quanto do leitor ao avaliar o que deveria ou não acontecer.
A história provoca frisson e tem um plot
twist inesperado, daqueles que deixam o leitor boquiaberto com o rumo da trama.
Surpreende por não ser previsível, mas sobretudo por ter coerência com o que
acontece no decorrer da história. Há detalhes que são passados ao leitor
durante a narração que tem total conexão com a reviravolta. Nenhum segredo
consegue ser mantido para sempre.
Mencionei inicialmente sobre a imaturidade da protagonista. A trajetória de Júlia dentro da história tem consistência, porque ela não é a típica heroína que espera-se quando imaginamos a palavra "protagonismo". Isso é interessante e atrativo para o leitor, pois sai da mesmice e mostra uma personagem abalável, imatura, individualista, desatenta e até podemos dizer irresponsável, mas ainda assim ela vai se descobrindo e amadurecendo. Outro ponto que vale a pena mencionar é que ela não faz isso num salto de transformação, o que poderia fragilizar a construção da personagem. Ela faz isso de maneira gradual, sem grandes sobressaltos. Observar a trajetória de crescimento da personagem dentro da história faz com que destaquemos a humanidade dela.
O pano de fundo abordado na trama nos faz
alerta para doação de órgãos, para a responsabilidade profissional e para o
trabalho voluntariado. As imagens que ilustram a obra tem total conexão com a
história e fazem parte de um trabalho gráfico bem construído pela Skull.
O Telefonema Que Não Fiz é um livro perfeito
para quem gosta de drama, emoções, reviravoltas e uma história com conteúdo que
vai além da ficção, deixando reflexões para o leitor.
Sobre o autor:
Jonas Zair Vendrame é ator brasileiro que vive no interior de São Paulo. Amante de terror e suspense policiais, escreve e elabora contos com muito mistério e sangue. Após escrever o seu primeiro livro Relatos de Sangue, uma obra sanguinária e que deu nó na cabeça de muitos leitores, Jonas se aventura em uma atmosfera completamente diferente dentro do suspense com o livro O Telefonema Que Não Fiz.
Jonas Zair Vendrame | Foto: Reprodução |
Jonas Zair Vendrame é ator brasileiro que vive no interior de São Paulo. Amante de terror e suspense policiais, escreve e elabora contos com muito mistério e sangue. Após escrever o seu primeiro livro Relatos de Sangue, uma obra sanguinária e que deu nó na cabeça de muitos leitores, Jonas se aventura em uma atmosfera completamente diferente dentro do suspense com o livro O Telefonema Que Não Fiz.
Ficha Técnica:
Título: O Telefonema Que Não Fiz
Escritor: Jonas Zair Vendrame
Editora: Skull
Edição: 1ª
Ano: 2018
ISBN: 978-85-53037-37-7
Número de Páginas: 240
Assunto: Drama
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