[Artigo] Não Ache. Apure. - Tomo Literário

[Artigo] Não Ache. Apure.

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Por Ariane Abdallah*
Meu trabalho - no livro sobre a AmBev ou em qualquer outro – é questionar. Escutar as respostas que vêm de diferentes perspectivas. As opiniões, deixo por conta dos leitores.
"Resuma em uma frase a sua conclusão sobre a AmBev”. Ou AB InBev. Escutei essa frase mais de uma vez. Desde que comecei a escrever a biografia independente da empresa, muita gente insiste em saber qual é meu veredito. “Seu livro é a favor ou contra a AB InBev?”. Nem um nem outro. Eu não posso resumir em poucas palavras – muito menos se elas forem reducionistas – o que significa ser o mais radical exemplo do sistema capitalista. "Depende de suas opiniões e crenças”, costumo responder.
Como tudo na vida, acredito que nossas conclusões sobre qualquer pessoa ou organização têm mais a ver com nós mesmos do que com o assunto em debate.
Se você gosta de sistemas industriais, de gestão capitalista, de histórias de negócios, provavelmente vai gostar do meu livro. Se é contra grandes corporações e produtos padronizados, meu palpite é que a trajetória da AB InBev não irá atraí-lo. No entanto, se der uma chance ao meu trabalho, abrir sua mente para saber mais sobre os fatos – além dos achismos – talvez reconheça algum valor na forma como as pessoas da AB InBev trabalham, mesmo que não mude suas crenças.
Isso não significa que eu goste ou concorde com a cervejaria que se tornou a maior do mundo. Tampouco indica o oposto. Ao escrever um livro, minha opinião é a que menos me interessa. Especialmente porque, em geral, pessoas e empresas não se resumem a extremos como preto ou branco. Dependendo da ação ou do comportamento em questão, serei contra ou a favor. Quanto mais descubro sobre alguém ou uma organização, mais complexas se tornam minhas opiniões. Nada tem apenas uma definição.

A vida real não cabe em rótulos.
Desde que foi anunciado o lançamento do livro (para o fim de junho), surpreendeu-me como algumas pessoas destacaram a minha tentativa de ter uma abordagem neutra como algo fora do comum. Até onde eu sei, é básico no jornalismo reportar fatos. Tive aulas sobre objetividade na faculdade. Ainda que, a rigor, ela seja inatingível, já que sempre usamos nossas lentes subjetivas para ver o mundo, eu entendo como missão de um bom jornalista apresentar os fatos o mais próximo possível do que chamamos de realidade.
Vejo uma grande diferença entre analisar cenários e emitir opiniões pessoais sobre eles. Como jornalista, entendo que meu trabalho seja esclarecer, conectar e analisar os fatos. Sem achismos.
Poderia ter sido sobre qualquer coisa
Escolhi escrever sobre a AB InBev não por amar ou odiar a empresa – nem cerveja eu bebo. Eu sabia pouco a respeito do negócio, e ele não me atraía muito no início. Não me parecia ter nada de especial. Era apenas mais uma história.
A ideia de escrever a biografia da empresa veio do então editor da Companhia das Letras Bruno Porto. Quando falamos do assunto, por alguns segundos, pensei: “É uma história grande e polêmica, sobre marcas populares. Tem os ingredientes para um grande alcance”. “Ok”, eu disse – como provavelmente teria dito para qualquer projeto com características similares. Acima de tudo, estava entusiasmada por ter encontrado um motivo para mergulhar profundamente em um assunto. O assunto em si vinha em segundo plano.
Pelos três anos seguintes, dediquei-me intensamente a pesquisas e entrevistas com pessoas ao redor do mundo e o projeto foi se tornando mais ambicioso. Porém, meu compromisso continuou o mesmo: apresentar a história, mostrando os fatos por diferentes pontos de vista.
O que faço de melhor são perguntas, que me levam ao máximo possível de informações. Com base nelas, o leitor, por sua vez, pode tirar as próprias conclusões. Sobre a AB InBev ou qualquer outro tema.

*Ariane Abdallah é formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Entre 2004 e 2015 trabalhou como repórter nas editoras Trip e Globo escrevendo reportagens sobre comportamento, negócios e economia. Em 2016, deixou a redação para fundar o Atelier de Conteúdo, empresa de comunicação que atende clientes como LinkedIn, Spoleto e SOAP Apresentações.

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