Alô, alô! O Homo Sapiens manda notícias.
Tínhamos certeza de que a existência do homo sapiens tivera início em algum
lugar da África há 200 mil anos. No entanto, há provas de que, muito antes
disso, o homo sapiens marcara presença não só no continente africano, mas
também em todos os continentes.
No livro As Últimas Notícias do Sapiens – Uma
Revolução Nas Nossas Origens, de Silvana Condemi e François Savatier, que foi
publicado no Brasil pela Editora Vestígio com tradução de Mauro Pinheiro, os
autores tentam “elucidar uma enigmática
saga evolutiva. A história de um animal cultural”. Esse animal cultural
mencionado na frase em destaque sou eu, é você.
Sapiens – termo utilizado no livro para
simplificar o texto – é a única forma humana existente; um ser bípede que
descende dos macacos. O bipedismo permanente teria surgido, de acordo com os
autores, pela melhoria gradual do bipedismo que podia ser observado nos australopitecos.
Essa é a espécie da famosa Lucy. Outrossim, também a exploração de maiores
extensões de terra teriam conduzido nossos ancestrais ao bipedismo; mas esse
não é o único fator que teria levando a essa condição permanente.
No processo de hominização, a cultura aparece
como um potencializador da evolução, provocando até transformações em nossa
biologia. Como explicam os autores, tivemos uma série de questões que versam
sobre cultura, marcha ereta, cognição, evolução da cognição e do corpo,
coordenação de grupos, exploração territorial e outros tantos fatores que
geraram um “formidável ciclo
amplificador, resultado de pressões seletivas essencialmente sociais”. Foi
assim que o bipedismo gerou as formas pré-humanas e humanas. “A biologia (pré) humana e a cultura (pré)
humana evoluíram juntas antes do Homo!”
Além do bipedismo, como citamos, e a partir
dele, os autores falam da evolução que foi acontecendo com a espécie, como o
desenvolvimento das mãos, o uso da linguagem, a formação de grupos, a necessidade
de deslocamento e por aí vai. Seguindo a estrutura da obra, adentramos especificamente
a história do sapiens, que pensava-se descender de um grupo, na África do Sul,
mas que descobriu-se que evoluiu não só lá, mas por todo o continente. Isso
criou uma rede de habitats que foi variando tanto com o clima quanto com as
épocas.
O Sapiens, por viver em grupos, notadamente desencadeou
um processo de crescimento demográfico e, por sua vez, tal crescimento impactou
o viés econômico que possibilitou com que ultrapassassem os limites do
continente africano. Dos primeiros territórios que exploravam, vemos que houve
uma expansão.
Uma das questões apontadas pelos autores é
que o fato de nossos ancestrais viverem em bando, portanto, constituindo uma sociedade,
influenciou a sua psique criando o que podemos chamar de sentimento de
pertencimento ao grupo. Veja-se como exemplo dessa narrativa, o fato de que
entre eles havia proteção em relação às crianças e aos mais velhos.
Um dos capítulos da obra é dedicado a falar
sobre a expansão do homo sapiens pelo planeta: “Há mais de 135 mil anos, os primeiros Sapiens deixaram o leste da
África para se aventurar inicialmente na península arábica e, depois, ao longo
da costa sul da Eurásia. Ao chegarem à Austrália, há 65 mil anos, e à China, há
mais de 100 mil anos, eles se multiplicaram e permaneceram um bom tempo nessas
regiões de clima quente. Em seguida, a partir de cerca de 60 mil anos, após
terem se misturado com populações não Sapiens já presentes na Eurásia, eles se
puseram a avançar para o norte, penetrando na Europa somente há cerca de 43 mil
anos.”
Fala-se ainda sobre a guerra que,
inevitavelmente aparece na vida social (ainda que não se possa provar, como
ressalta os autores do livro). As guerras, segundo eles, fariam com que os
guerreiros dessem origem ao Estado.
Conhecer o passado de nossa espécie permite
sabermos que continuamos em evolução. Nosso problemas e dilemas são outros,
modificaram-se com o passar do tempo e nós também mudamos. Hoje não lidamos
mais com a natureza selvagem, mas com a natureza humana. Ao longo do tempo, a
cultura e a vida social foram fatores de preponderância na evolução da espécie.
O livro apresenta informações científicas,
mas usa-se de um texto não muito teórico, o que permite, portanto, a conexão e
o entendimento de qualquer leitor. Além das explanações dos autores e destaques
feitos no início de cada capítulo, temos mapas, ilustrações e infográficos que
auxiliam na compreensão do que nos é apresentado e enriquecem a obra.
Um ótimo livro para quem quer saber mais
sobre nossa espécie e que desperta a reflexão sobre a nossa constante evolução.
O que será de nosso futuro? Que futuro estamos construindo? As transformações
que vem acontecendo decorrem de aspectos sociais e culturais. Aqui, vale
mencionar a observação de que o Sapiens se difere do Neanderthal por modificar
as condições de vida do habitat em que está presente.
Há no Sapiens a complexidade da estrutura
social e as interferências culturais, fatores que os mantém em transformação
ante ao ambiente.
Sobre os autores:
Silvana Condemi é palentropóloga, professora e pesquisadora no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS). Conduz suas pesquisas sobre os Neandertais e nossos ancestrais Sapiens na Universidade de Aix-Marseille.
François Savatier é jornalista e escreve sobre arqueologia, física e geociências para a revista Pour la Science. O livro anterior da dupla, Neandertal. nosso irmão, foi traduzido para várias línguas e recebeu em 2017, o Grande Prêmio do Livro de Arqueologia.
Ficha
Técnica:
Título: As Últimas Notícias
do Sapiens
Escritores: Silvana Condemi e
François Savatier
Tradução: Mauro Pinheiro
Editora: Vestígio
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
157
ISBN: 978-85-54216-10-0
Assunto: Evolução
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