E se uma plataforma determinasse o seu destino? Na obra "O Silêncio dos Livros", um programa influencia, de forma aleatória, as decisões de seus usuários
Muitos sabem que Black Mirror faz uma crítica social com um salto pela contemporaneidade: são diversos os episódios que mostram um futuro no qual plataformas monitoram e controlam o modo de vida de seus usuários. Como em Nosedive – “Queda Livre” (1° episódio da terceira temporada), em que todos buscam constante aprovação nas mídias sociais, pois é a partir dessas avaliações nas redes que se define se alguém é bem aceito ou não na sociedade. Então, surge a constatação: junto com os inúmeros benefícios de cada avanço tecnológico, vem a possibilidade de seu uso para finalidades manipuladoras ou mesmo destrutivas.
Partindo de premissas semelhantes, mas num cenário que, apesar de futurista, não é tão distante da nossa realidade, a obra “O Silêncio dos Livros”, do promotor, fotógrafo e doutor em Ciências jurídicas Fausto Panicacci leva o leitor a refletir sobre como seria a humanidade se os livros fossem proibidos e a tecnologia controlasse os modos de vida de cada um.
Nesse universo distópico em que os possuidores de livros são considerados criminosos, um aplicativo randômico determina parte da vida das pessoas: sob a justificativa de tirar “o peso das responsabilidades pelas escolhas”, tal plataforma digital permite que seus usuários deleguem a ela a tomada de decisões crucias – desde saber “se ama” alguém, até se deve ou não matar um vizinho. E, tornando o ambiente ainda mais sombrio e opressivo, um estranho sistema judicial usa algoritmos para decidir se alguém será solto ou permanecerá preso por décadas.
“O Silêncio dos Livros” carrega profundas reflexões sobre paradoxos da condição humana, num cenário em que o pensamento totalitário busca controlar a Literatura e demais formas de expressão artística, e, assim, o pensamento. Romance literário que trata de amor, amizades, egos, dores latentes e cicatrizes, “O Silêncio dos Livros” é, sobretudo, uma autêntica declaração de amor à Literatura, e uma aposta em que, através dela, ainda podemos nos colocar no lugar do outro, de forma a melhor compreender a diversidade e complexidade do ser humano.
Sinopse:
Numa época em que os livros são proibidos, o misterioso Santiago Pena acaba de chegar a Portugal, onde conhecerá Alice, menina desprezada pelos pais. O encontro de um antigo caderno trará questões intrigantes. Que relação haveria entre um jovem acusado de crime que alega não ter cometido, suntuosos projetos arquitetônicos e a descoberta de uma biblioteca abandonada? Por qual razão alguém usaria o lema festina lente (“apressa-te lentamente”)? E por que o estrangeiro Santiago parece despertar nos familiares de Alice perigosos anseios?
Suspense e aventura misturam-se a profundas reflexões sobre os paradoxos da condição humana nesta arrebatadora história que trata de amizade, loucura, amor e perda da inocência. À medida que se alterna entre a perspectiva de um homem reservado e a de uma garota curiosa, a narrativa surpreende pela multiplicidade de significados.
Dialogando com clássicos da Literatura universal, O silêncio dos livros indaga qual seria o destino de uma sociedade que, fascinada pelos avanços tecnológicos, abolisse os livros. E lança um desafio aos que teimam em proclamar, sombriamente, a morte de um dos maiores símbolos da Civilização.
Fausto Luciano Panicacci | Foto: Divulgação |
Sobre o autor:
Fausto Luciano Panicacci é Doutor em Ciências Jurídicas pela Universidade do Minho (Portugal). Formado em Direito (Largo São Francisco, USP), estudou Fotografia, História do Cinema e História da Arte. Além de O silêncio dos livros (romance), é autor de Naufrágios (coletânea de contos e poemas), e de obra jurídica. Promotor de Justiça e escritor, foi professor de pós-graduação no GVLaw da FGV/SP. Integra os grupos literários O que restou e Library.
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