Adonai liderou os Etéreos contra um ser
chamado Vênus que, ardiloso como era, conseguiu os segredos da criação. Adonai
conseguiu devolver a liberdade a seu povo e a ele foi oferecido o trono do
Éden. Ele então cria um novo mundo, o mundo de seus sonhos, o terceiro planeta,
também conhecido como Terra. Pai de Miguel, Gabriel e Lúcifer, Adonai resolve
criar outra dimensão, que denominou de Inferno e acaba entregando o domínio do
local a seu filho mais novo, Lúcifer, que não tinha asas, mas que as recebe
junto com sua nomeação. Ele então passa a portar as asas negras.
“_Aceite
os desejos de Deus, Demônio. Não sentirás fome, sede, frio ou medo. Serás
soberano em tuas vontades (...) Esse é o seu destino (...) Não tenhas medo de
ser quem tu és. Nunca te esqueças de quem és meu filho. Não duvides disso.”
Lúcifer, vivendo no Inferno, resolve montar o
seu exército e recruta pessoas pelo mundo ao longo do tempo.
A história de O Portador de Luz, livro de
Sylvana Camello, publicado pela Editora Coerência em 2018 (335 páginas), trata
dos conflitos e ações de Lúcifer e das ações de seus comandados. Entre eles
Sataniel, o seu braço direito, um diabo que tem a inveja despertada, a sede de
poder que o domina e o ardil no trato de tudo que o envolve. Os atos cometidos em
nome de Lúcifer ou a mando dele, geram desconforto em seu pai Adonai (que você
também pode chamar de Deus).
Não resta escolha a Adonai que não seja a de
punir seu filho caçula, aquele que outrora não tinha asas e que hoje porta as
asas negras herdadas de Vênus, aquele que fora derrotado por Adonai antes de
assumir o trono do Paraíso. A maior punição que pode ocorrer a Lúcifer é
justamente perder as tais asas, além de ser mantido em clausura numa alcova do
Inferno.
Tanto em Gabriel quanto em Miguel e Lúcifer
podemos identificar sentimentos que são humanos. Alguns dos sentimentos são
aqueles que não consideramos nobres, mas que fazem parte da constituição
humana. Interessante observar essa construção que a autora fez de seus
personagens. Poderíamos supor uma luta do bem contra o mal que soaria clichê,
mas ela foge disso aproveitando bem os arquétipos que representam Deus e
Demônio, mostrando uma batalha e conflitos que poderiam acontecer entre homens.
Outra coisa que me chamou atenção no livro e
que merece destaque é o fato de inserir os personagens em ações que conhecemos,
como a Guerra de Troia, por exemplo. Lúcifer age nesses episódios.
O filho caçula de Adonai o desafia e vai para
a Terra procurando pela Imaculada. “Os
imaculados são os escolhidos de Deus na terra”. A condenação ao calabouço e
a perda da asa, no entanto, não o apaga da história.
Numa batalha surpreendente há perdas e, a
única salvação pode vir das mãos daquele que é tido como o mestre do Inferno.
Lúcifer é o único que pode encontrar o Portador da Luz – que dá nome ao livro.
A história de fantasia criada por Sylvana
Camello surpreende o leitor pela narrativa dinâmica, pelos acontecimentos que
se sobrepõe em escalada dando um bom clímax e sustentando a ação. A luta entre
o bem e o mal é apresentada de uma maneira singular, de modo diferente, fugindo
do clichê de que há um lado só bom e outro só mal. Os personagens que são
dotados dos controversos sentimentos humanos se tornam mais completos, na
medida em que não soam como representação apenas de um dos lados do conflito
(vilões e mocinhos). Há os bons com sentimentos ruins e há os vilões capazes de
ações boas.
Em uma das subtramas vemos notadamente a
disputa dos irmãos pela atenção do pai, tal qual os humanos o fazem.
Utilizar personagens que poderiam estar
ligados à religião é uma decisão corajosa, mas não atrapalhou o desenvolvimento
do livro ficcional. A história é contada pela autora de modo a imprimir a sua
fantasia, levantando questões que nos levam a refletir sobre bem e mal e,
indiretamente, sobre o papel da religião em solo terrestre. No entanto, cabe
dizer, que isso não é elemento trabalhado como discussão dentro da obra. Dessa
forma, mesmo aqueles leitores mais afeitos a colocar a religião em primeiro
plano, podem ler o livro sossegados. De mente aberta e sabendo-se ser um livro
ficcional, a narrativa flui. Se posso fazer uma ressalva é que se o leitor não
compreende a ficção, não estará preparado para ler esse ou qualquer outro livro
que trate de temas similares.
“Existem
mais coisas entre o Céu e o Inferno do que imaginamos.” E a obra da
escritora que se propõe a contar muitas dessas coisas que acontecem, cumpre com
êxito o seu papel. O Portador da Luz é um bom livro de fantasia. Recomendo!
Sobre a
autora:
Sylvana Camello | Foto: Reprodução |
Sylvana Camello nasceu em
Goiânia, onde mora até hoje. É formada em Educação Física pela UEG e trabalha
como professora do ensino fundamental. Quando não está trabalhando, comendo
pequi e escrevendo, curte um bom Rock’n’roll e filmes variados. Tem adoração
por Stephen King e Nelson Rodrigues, seus dois amores. Pretende, através da
escrita criativa, transformar suas histórias de fantasia em algo tão popular
como a música sertaneja. Mantém grudada na cabeceira de sua cama a seguinte
frase: Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você
deve escrevê-lo, de Toni Morrison. O Portador de Luz é o seu livro de estreia.
Ficha
Técnica
Título: O Portador da Luz
Escritor: Sylvana Camello
Editora: Coerência
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
335
ISBN: 978-85-5327-103-0
Ano: 2018
Assunto: Literatura
brasileira
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