Conhecida
como a Simone de Beauvoir do Oriente Médio, a autora nos apresenta uma história
profunda, dolorida e inesquecível de uma mulher com quem esteve às vésperas de
sua execução.
Firdaus era muito mais do que mais uma
prisioneira na cidade de Qanatir. Uma mulher condenada à morte pelo assassinato
de um homem. Uma mulher que não recebia visitas, quase não se alimentava e
pouco falava. Uma mulher à espera do destino, que estava pagando o preço por
desafiar o seu mundo uma única vez, mas que a mantinha de cabeça erguida, com
os olhos flamejantes, de coragem.
A Faro editorial lança em março o primeiro
livro da escritora egípcia Nawal El Saadawi “A mulher com olhos de fogo”.
Conhecida como a Simone de Beauvoir do Oriente Médio, Nawal é um dos maiores
nomes na luta contra a mutilação genital feminina – terror que ela mesma sofreu
na infância-, uma prática muito comum na África e em países árabes e que hoje
combate a falta de prioridades da luta pelos direitos das mulheres no mundo ocidental.
Para El Saadawi, muitas lutas hoje defendidas
pelas feministas deixam de lado temas que são verdadeiramente difíceis e que
precisam de apoio global. Ela afirma que o feminismo não deve apagar a
diversidade da luta das mulheres em culturas diferentes, e que muitas vezes os
níveis de opressão sofridos pelas mulheres em países dominados pela religião e
o patriarcado não podem ser tratados com um discurso raso. Para Nawal, a luta
feminista é muito maior, mais dura e urgente do que as que defendemos hoje.
Baseado na história real de uma prisioneira
que a autora conheceu no corredor da morte em Qanatir, “A mulher dos olhos de
fogo” narra o desabafo de uma mulher que desde cedo descobriu que havia um
preço a se pagar por ser mulher, e que, quando pôde, se rebelou contra isso.
Firdaus era uma camponesa, que ainda pequena só conheceu a violência e a
miséria imposta as mulheres em seu país.
Mutilada ainda na infância, Firdaus entendia
que seu papel era servir, aceitar. Sofreu abusos das mais variadas formas:
fome, negligência, abandono, solidão, violência sexual e física, um casamento
forçado com um homem 40 anos mais velho, a fuga, e a prostituição.
E mesmo com tamanha miséria, com uma sina
infeliz, era capaz de ver beleza no mundo e de enfrentar um mundo injusto para tomar
a rédeas da própria vida. Mas esse pensamento teve um preço, e Firdaus decidiu
pagar o preço. Ela teve coragem para ultrapassar mais uma barreira e finalmente
ser livre. Não seria comandada por nenhum homem, não seria mais agredida, mesmo
que tivesse que sujar suas mãos de sangue.
“Embora
essa voz tenha surgido de uma região onde as mulheres possuem menos espaço,
trata-se de um dos livros mais francos e radicais do século XX sobre a vida
feminina, de todas as origens, em todas as partes do mundo.” The Guardian
Sobre a
autora:
Nawal El Saadawi, 87, é uma escritora,
ativista, médica e psiquiatra feminista egípcia. Saadawi foi presa pelo
presidente Anwar al-Sadat em 1981 por supostos "crimes contra o
Estado". Ela escreveu muitos livros sobre as mulheres no Islã, e se
dedica, em especial, à luta contra a prática da mutilação genital feminina no
Oriente Médio. Nawal é tratada como “a Simone de Beauvoir do mundo árabe”. Seus
livros já foram traduzidos para mais de 28 idiomas e são adotados em
universidades do mundo inteiro. Seus discursos atualmente se concentram na
crítica a tentativa de normalizar o que ela considera a opressão aos costumes
das mulheres na África e Oriente Médio. Depois de 4 décadas da revolução
islâmica, muitos já consideram normais as restrições aplicadas às mulheres,
incluindo muitas mulheres.
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