Considerado
como "abuso emocional" a Síndrome de Alienação Parental assola
crianças e adolescentes. As consequências desse ato podem durar por toda a vida
A Síndrome de Alienação Parental – conhecido
como SAP – é mais comum do que se imagina. Ela consiste na interferência
psicológica provocada na criança ou no adolescente por um dos seus genitores,
com o intuito de criar desavenças contra um familiar que também seja
responsável pela sua guarda e vigilância. Isso é muito comum em meio ao
contexto da disputa de custódia dos filhos.
No livro “Dilacerada”, a autora e psicóloga
Helô Delgado, em sua primeira edição pela Editora Coerência, aborda muito bem
esse tema. Veja o trecho abaixo retirado da obra:
“- Você não pode sair quando eu não estou aqui por um motivo... não
sabe o que pode acontecer lá fora quando está sozinha, é muito ingênua para
isso – disse a mãe. - Além do mais, pode ter uma crise e assustar sua irmã.
Muito me espanta você ter a audácia de deixar sua irmã dormindo sozinha para se
aventurar pelo quintal.
- Eu não...
- Não adianta se
justificar. Sei muito bem o que fez, já tive a sua idade. Mentir não irá te
ajudar, Vivian. Creio que teremos que sair dessa casa o quanto antes...”
No diálogo acima, a personagem Vivian
relembra os momentos em que viveu em “regime fechado”, pois sua mãe além de
fazê-la limpar a casa inteira todos os dias, não deixava a pobre garota sair.
Assim, a protagonista não teve contato com mais ninguém a não ser com a mãe e a
sua pequena irmã portadora de Síndrome de Down.
A “SAP”, terminologia introduzida pelo
americano e psiquiatra infantil Richard Gardner em 1985, é considerada como uma
das piores consequências provocadas na criança ao ser exposta a atos de
alienação por um dos pais. De acordo com os estudo de Gardner, esta síndrome se
configura quando o pequeno desenvolve um sentimento profundo de repúdio pelo
seu responsável. Richard se aprofundou nesses estudos e se especializou em
terapia infantil para poder ajudar essas crianças.
“- Alienação Parental –
América, a psicóloga, me observa com um olhar sério por trás das lentes
quadradas.
- O quê?
- O que sua mãe fez com
você e sua irmã tem um nome. Se chama Alienação Parental. Ela impôs uma
realidade fechada na qual vocês só tinham contato com ela e com poucos
vizinhos. Estou errada?
- Não, foi isso mesmo.
- Ela não queria que
vocês soubessem como era o mundo de verdade.”
No trecho acima, a psicóloga que tratava a
personagem Vivian, depois de ouvir sua história, diagnostica a situação que a
moça sofreu na adolescência alienação parental. É importante notar que a
doutrinação de uma criança através dessa Síndrome é uma forma de abuso – abuso
emocional - porque pode razoavelmente conduzir ao enfraquecimento progressivo
da ligação psicológica entre o jovem e um genitor amoroso. Em muitos casos pode
conduzir à destruição total dessa ligação, não só perante a família como também
com qualquer outra pessoa, por toda a vida.
Como se pode observar, o alienador procura o
tempo todo monitorar o sentimento dos filhos a fim de desmoralizar a imagem do
outro. Tal situação faz com que a criança acabe se afastando do pai ou mãe
alienado por acreditar no que lhe está sendo dito, fazendo com que o vínculo
afetivo seja destruído, ao ser acometido pela síndrome.
A obra “Dilacerada” demonstra o quanto
traumas do passado, Alienação Parental entre outros abusos, podem afetar a
saúde mental de alguém. Narrada em primeira pessoa, relata a história de
Vivian, uma mulher de 27 anos que teve que enfrentar seus conflitos pessoais e
se abrir com um profissional para livrar-se da dor que carregava há anos, pois
além de tudo, ela reprimiu seus sentimentos por conta de toda pressão que a mãe
colocava nela ainda em sua infância e adolescência. A protagonista começa a
entender a importância de fazer psicoterapia e, ao reencontrar-se, tira de sua
consciência o peso e o rancor que vivenciou desde pequena.
Sobre a
autora:
Helô Delgado | Foto: Divulgação |
Helô Delgado nasceu no sul
de Minas Gerais, é casada e mãe de dois filhos. Formada em Psicologia,
pós-graduada em Psicanálise e Tradução, é apaixonada por literatura desde
criança. Demorou muito para acreditar que poderia escrever e, agora que
começou, não quer parar. Dilacerada é seu primeiro romance.
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