Roberto Minadeo estará na antologia Cidade
Noturna e Contos de Uma Primavera, ambas publicadas pela Editora Illuminare. O
escritor lançou recentemente o livro Sonhos Fulgurantes e tem obras de
Marketing e Estratégia publicadas. Ele falou ao Tomo Literário sobre seus
livros, sobre o mercado editorial e muito mais. Confira a entrevista.
Tomo
Literário:
Para
começarmos conte-nos como foi o seu primeiro contato com a literatura e como
decidiu tornar-se escritor.
Roberto
Minadeo: Tive
a oportunidade de ler bastante, já desde o Ensino Básico. Minha família morava
em um bairro em formação, em uma casa que foi a única no quarteirão por alguns
anos. Assim, minha rotina era casa-escola-casa, deixando bastante espaço para a
leitura. Também ajudou o fato de não existir muitas brincadeiras na rua –
desvantagem de viver em uma avenida movimentada e com poucos vizinhos. Tenho a
certeza de que esses primeiros anos foram importantes para a decisão de
escrever.
A atuação no ensino permitiu publicar na área
de Marketing e Estratégia, conforme se detalha mais abaixo. Essas experiências
se uniram para cristalizar a inserção na literatura.
Tomo
Literário: Você
estará na antologia Cidade Noturna – publicada pela Editora Illuminare, com o
conto Armageddon. Como é a experiência de participar de antologias?
Roberto
Minadeo: Também
estou na antologia Contos de Uma Primavera, com “A Mãe da Ciência”. Este foi
incrível, tive a ideia literalmente no último dia. Costumo não deixar as coisas
para a última hora, mas a inspiração superou isso. Da idéia à versão final do
conto, foram duas horas e meia, com direito ao descanso do almoço.
Participar de antologias é uma experiência
nova, importante pelo fato de que todos se sentem parte de um esforço coletivo.
A Illuminare faz um trabalho impressionante de desenvolvimento de novos
talentos mediante essa iniciativa – que tem servido para o despertar de
inúmeros autores de todas as idades.
Tomo
Literário:
Fale-nos
um pouco sobre seu livro Sonhos Fulgurantes, que também foi publicado pela
Editora Illuminare. Como surgiu a ideia do livro?
Roberto
Minadeo: Sonhos
Fulgurantes nasceu do antigo desejo de ingressar na atividade literária. Em
março de 2017 a decisão se materializou, com a escolha do formato de contos. A
partir daí, veio a adoção da fantasia como elo a unir todos os contos.
Ao longo de dezoito meses, a obra foi
escrita. Pode parecer um prazo longo, para “apenas” 15 contos e 148 páginas,
mas para mim, essa obra representou superar alguns desafios do gênero adotado.
O primeiro se refere à caracterização de personagens em um espaço relativamente
modesto, evitando também que haja indivíduos além dos estritamente necessários
em cada estória. O segundo foi a batalha pelo enredo, para que se torne
inovador e igualmente completo em poucas páginas.
O maior obstáculo refere-se à escrita em si
mesma, ou seja, à forma de tornar o texto final atrativo – ou seja, bons
personagens em um bom enredo precisam ser devidamente embalados na mágica
representada pela arte da escrita. Realizei um interessante estudo buscando
aquilo que torna um texto literário atrativo – tarefa difícil, pois não
encontrei respostas prontas, tendo, portanto, que enfrentar uma penosa e árida
pesquisa, que se revelou profundamente relevante.
Finalmente, o texto final apresentou contos
com enfoque no enredo, como “Noite estrelada, uísque e cookies”,
“Reconstrução”, “Lenta possessão pela máquina” e “Chocolate, Ytzank e a “dança
do oito” ”. No primeiro deles, houve uma cena aparentemente simples, porém de
grande dificuldade em ser comunicada na forma escrita; além disso, um aspecto
não relevante do conteúdo é deixado a critério do juízo do leitor.
Em outros nota-se a preponderância da
descrição detalhada dos personagens, como “Trocando de Paraíso”. Finalmente,
“Animais Bestiais”, “O Cavalo Mágico”, “Streaming Inovador”, “Corrida de
Mamutes”, e “Ah! Que Bom que foi Somente um Sonho!” apresentam de modo mais
marcante o aspecto onírico.
“Visitas Noturnas” se constituiu em um
desafio: apresentar com grande detalhe uma personalidade complexa, mantendo, ao
mesmo tempo, a fluidez na escrita para não afugentar o leitor.
“Celeiro fatal” mescla ação ao mundo interior
do protagonista, que se encontra em uma situação complexa, da qual se livra de
modo surpreendente.
“The FireBikers” e “Theo e Van Gogh: surge
uma lenda” são thrillers, que também representaram um desafio na construção dos
protagonistas – cuja riqueza de detalhes veio a se constituir em um complexo
desafio à tarefa da escrita. Oferecem surpresas interessantes ao leitor, pois
também contam com o elemento fantasioso.
Tomo
Literário: Você tem livros da área de
Marketing, como 1000 Perguntas Marketing, Marketing Internacional Conceitos e
Casos, Gestão de Marketing – Fundamentos e Aplicações e Marketing para Serviços
de Saúde. O que é mais complexo, a literatura ou os livros de não ficção?
Roberto
Minadeo: Achei
legal conseguir chegar a lançar uma obra derivada de minha Tese de Doutorado,
intitulada: “Petróleo – A Maior Indústria do Mundo?”
“Gestão de Marketing – Fundamentos e
Aplicações” foi editado pela Edit. Atlas, líder em livros acadêmicos em
administração no país e com bastantes citações em Trabalhos de Conclusão de
Curso e em Dissertações de Mestrado. “Marketing para Serviços de Saúde” saiu
pela Campus, maior editora em livros técnicos ligados à gestão.
O livro técnico reflete a pesquisa, o preparo
de aulas e as atividades de orientação de alunos. É uma atividade difícil e
correlata à vida do professor. Lembro de um episódio divertido a respeito do
1000 Perguntas Marketing, importante por ter sido o primeiro livro que
publiquei. O projeto inicial era de um empreendimento a quatro mãos; houve uma
reunião na qual se fez o índice e se dividiram as tarefas, marcando-se o
próximo encontro para dois meses depois, na qual cada um traria sua parte
inicialmente acordada. Porém, nada aconteceu. Pior: só eu compareci, tendo
feito minha parte. Poderia ter desistido ou avançado, assumindo toda a obra.
Decidi pela segunda opção, vindo a conversar com todos. A obra veio a público,
se esgotou e mereceu uma segunda edição, revista e atualizada alguns anos
depois – abrindo caminho a posteriores desafios.
Já no caso da ficção, os desafios são
infinitos – em especial para novos autores. Falei que escolhi o gênero contos;
ora, qual a razão? Não foi uma escolha gratuita, mas fruto de pesar os prós e
contras das várias possibilidades: parece-me que começar com um romance
implicaria diversos obstáculos adicionais; em outras palavras, o gênero contos
apresenta menor resistência. Além disso, a forma de apresentar cada conto é
outra escolha difícil, pois há inúmeras abordagens possíveis.
Pesando os desafios enfrentados ao longo do
percurso, vejo que o resultado final foi bastante satisfatório, pelos diversos
comentários que venho recebendo dos primeiros leitores. Inclusive, confesso ter
ouvido surpresas agradáveis: o conto “Nas Quadras de Tênis” não me pareceu
bacana, porém, uma leitora, também autora, o classificou dentre os quatro
melhores.
Tomo
Literário:
A
sua experiência com o marketing, de algum modo, te ajuda
no trabalho como escritor? De que forma?
Roberto
Minadeo: Marketing
(ou Mercadologia) é uma disciplina dificílima: praticamente qualquer leigo no
assunto e sem espírito crítico se julga estar no mesmo nível do professor, pelo
simples fato de “ter assistido alguma propaganda de certa marca famosa” ou de
“ter assistido alguma palestra sobre o tema”. Enfrentar esses preconceitos é
uma luta muitas vezes inglória. Para se entender melhor o assunto é preciso
conhecer melhor os próprios fundamentos da pessoa humana, pois a atividade de
marketing se refere ao comportamento humano, restrito à ótica do consumo.
Assim, quando as preferências do ser humano
são mais bem compreendidas, se facilita a arte de escrever. Afinal, o leitor é
o mesmo, porém, já não mais focado sob o restrito foco da mercadologia.
Tomo
Literário:
Como
você vê atualmente o cenário literário brasileiro?
Roberto
Minadeo: Muitas
vezes se apontam as dificuldades das livrarias para exemplificar que o mercado
não vai bem. Isso é falso: surgiram as vendas de livros mediante o e-commerce,
que apresentam custos bastante inferiores ao lado de diversas vantagens para o
leitor. Ou seja, comprar livros pode ser feito em casa ou no trabalho, a
qualquer hora, navegando-se por milhões de títulos existentes, e com a
conveniência da entrega domiciliar pelos Correios.
As redes de lojas com dificuldades possuem
lojas com alugueis caríssimos e dotadas de dezenas de funcionários muito bem
treinados. Essa estrutura de custos muitas vezes não consegue ser repassada ao
consumidor, que prefere a compra pela Internet.
Ainda do ponto de vista da oferta, a
tecnologia da impressão “on demand”
permitiu se tornassem viáveis tiragens de livros de poucas dezenas de unidades.
Por conseguinte, inúmeros novos autores chegaram ao mercado, o que era
simplesmente impossível apenas poucos anos atrás.
Ao se falar da demanda, costuma-se enfatizar
uma visão excessivamente negativa: milhões de brasileiros não possuem cultura
ou recursos suficientes para enfrentarem a árdua tarefa da leitura. É verdade,
porém, que serve para qualquer outro mercado: multidões de brasileiros não
compram cosméticos, gasolina nem água mineral. Essa realidade é triste. Porém,
o foco não pode ser esse, mas no número de pessoas que podem ler.
Graças à Internet, jornais gratuitos,
milhares de blogs e outras iniciativas tornam acessível uma quantidade de
informação inimaginável ao consumidor – com suas vantagens correlatas. Além
disso, milhares de títulos de livros, inclusive clássicos já de domínio
público, se encontram disponíveis a custo zero. Sem a Internet, tais textos
chegariam ao consumidor com a vantagem de não se pagarem direitos autorais,
porém, continuaria existindo a necessidade de se pagarem os custos ligados ao
livro físico e à sua distribuição. Esse mundo mudou. Muita gente está lendo
como nunca se viu antes.
Pessoas mais informadas naturalmente se
sentem motivadas a lerem mais e querem saber mais a respeito de coisas que
passaram a gostar. Aí entra em cena o livro, que pode satisfazer tais
necessidades. Se esse livro é digital ou físico, gratuito ou não, comprado pela
Internet ou em uma loja, cabe ao consumidor decidir – conforme a sua
conveniência.
Tomo
Literário:
De
modo geral o que te move a escrever?
Roberto
Minadeo: É
uma atividade que traz uma grande satisfação. Existe o aspecto de ser lido e
compreendido por outras pessoas, ou seja, o compartilhar a forma de focar certo
aspecto da realidade.
Porém, independentemente de encontrar
público, ou em uma fase anterior a essa, o ato de escrever representa a maneira
de vazar em um texto certo aspecto que impressionou, que atraiu ou marcou.
Tomo
Literário:
Você
está preparando algum novo projeto literário? Pode nos adiantar alguma
informação?
Roberto
Minadeo: Pretendo
encarar um projeto de maior fôlego, uma obra de ficção, não mais no formato de
conto, porém já um romance.
Tomo
Literário:
Quais
são os autores que você admira ou que de alguma forma influenciaram o seu
trabalho como escritor?
Roberto
Minadeo: Antes
de entrar nos estudos formais, meu pai comprou a meu irmão e a mim a obra
infantil completa de Monteiro Lobato, em 17 volumes. Foi importante para forjar
o hábito de ler. Nessa idade, foi também importante para marcar o desejo de
escrever no futuro.
Tomo
Literário:
Que
livros, de quaisquer gêneros, você recomendaria aos leitores? Está lendo algum
atualmente?
Roberto
Minadeo: Os
clássicos representam etapas importantes a serem atingidas na vida de qualquer
leitor, tais como as obras de Cervantes, Shakespeare, Vítor Hugo e Dostoievski.
Autores menos conhecidos não podem jamais ser considerados de “segunda linha”,
mas como alimentadores do hábito da leitura – até porque não se pode passar
toda a vida apenas com os clássicos. Gêneros preferidos do leitor – como
policial, fantasia ou terror – individuam essas leituras.
Tenho sido muito eclético ao ler, assim,
atualmente estou lendo autores das mais diversas escolas, cerca de um livro por
semana.
Tomo
Literário:
Gostaria
de deixar algum comentário para os leitores do blog?
Roberto
Minadeo: O
quadro atual do mundo da literatura é extremamente positivo. Por um lado, a
maior formação de milhões de pessoas mundo afora representa aumento e
consolidação dos hábitos de leitura. Cabe uma ressalva: a Internet não é
inimiga da leitura, mas a introdução de um novo fenômeno, que representa
justamente o acréscimo do consumo de obras culturais, porém, não no tradicional
formato impresso. Em outras palavras, eventuais dificuldades em consagrados
grupos de mídia jamais podem ser traduzidas em menor interessa da população
pelo hábito da leitura. Basta considerar a praticidade dos leitores digitais –
que representam uma verdadeira biblioteca permanentemente ao alcance de seus
proprietários. Por outro lado, problemas em cadeias de livrarias também não
estão atrelados à queda na leitura, mas à menor possibilidade de competirem com
as livrarias virtuais, que não apresentam despesas com alugueis caros nem com
imensas equipes de vendas, podendo, portanto, fazer entregas domiciliares de
livros a preços bem mais em conta para os leitores. Uma livraria digital
apresenta vantagens jamais atingidas pelas redes de lojas físicas: catálogos
com milhões de títulos, e com a facilidade da busca digital de títulos.
Finalmente, essas livrarias virtuais permitiram o surgimento e a consolidação
do fenômeno representado pelo livro digital e por diversos equipamentos
eletrônicos que cada vez mais estão disseminados junto ao consumidor.
Acompanhe o escritor:
https://www.researchgate.net/profile/Roberto_Minadeo
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