Édipo Rei – Antígona, de Sófocles, foi lido
em edição da Martin Claret, livro da Coleção A Obra-Prima de Cada Autor,
publicada em 2002. O livro traz os dois textos, Édipo Rei e Antígona, com
conteúdo integral.
Sobre a tragédia de Édipo vale mencionar que
a primeira citação escrita sobre ela se deu no livro Odisseia, de Homero. Sófocles,
ainda no início do século V a.C. narrou a história do personagem em três de
suas obras, que são consideradas as mais importantes do autor: Édipo Rei (cujo
texto é objeto desta resenha), Édipo em Colona e Antígona (outro texto que
também se faz objeto da resenha). No livro os textos estão em formato teatral,
apresentando-se, portanto, como diálogo entre os personagens.
Édipo é Rei de Tebas e ficou conhecido por
praticar dois crimes que causavam repulsa e indignação aos gregos: o parricídio
(assassinato do pai) e incesto (relação sexual entre pessoas da mesma família).
Édipo é filho do Rei Laio e de Jocasta. O pai, quando Édipo era ainda menino,
ordenou que o filho fosse amarrado e abandonado no bosque. Tal ordem partira do
rei, pois o oráculo do deus Apolo vaticinara que esse filho, primogênito do
casal, seria o responsável pelo assassinato do pai e desposaria a mãe. No
entanto, a criança fora encontrada por um pastor que o salvou da morte e o
levou para Corinto. Lá o Rei Políbio o adotara.
O texto da peça teatral tem início quando
Édipo já está empossado como rei de Tebas e, sabendo que Laio fora morto, impõe
que o assassino seja encontrado e severamente punido. Ele não sabe-se filho de Laio
e o matara no entroncamento de uma estrada.
“E não
será pelos outros, mas por meu próprio interesse que punirei tal crime; pois
quem matou o rei Laio bem pode querer, de igual forma, preparar-me o mesmo
fim.”
Édipo conseguiu o posto de rei, pois fora o
homem que conseguiu desvendar o mistério da Esfínge que ficava no caminho da
cidade de Tebas e devorava a todos os passantes que não conseguiam decifrar os
enigmas que ela lançava. Creonte, irmão de Jocasta, havia prometido que aquele
que o fizesse, seria sagrado rei e teria ainda a mão de sua irmã em casamento.
E foi o que aconteceu.
Trazendo à presença de Édipo algumas pessoas
que podem testemunhar o que acontecera efetivamente com Laio, ele percebe que
fora ele quem matara o rei – e aqui a culpa já começa a consumi-lo. Além da
morte de Laio, percebe que desposou a sua própria mãe. Ela se pune, diante da
descoberta, e Édipo faz o mesmo, carregado de culpa pelo que fizera ao seu pai
legítimo e sua mãe, com quem teve inclusive, filhos.
Temos no personagem central da história a
representação da consciência diante da culpa. Ele enfrenta a si mesmo, pune-se,
assume seus erros. Podemos dizer que ele tentou de tudo para não ficar impune a
quem é seu pior juiz; ele mesmo e sua consciência.
Não é á toa que o texto de Sófocles rompe a
barreira do tempo e permanece provocando fascínio nos leitores. A trama é
intrigante, a tragédia se faz presente e o drama que há nas cenas, nos diálogos
que são travados, prende a atenção do início ao fim. Édipo Rei é um texto que
atrai a atenção de dramaturgos, artistas e leitores comuns. Ler um clássico
como esse nos faz refletir sobre os registros das mazelas humanas em seu tempo
e o quanto elas podem ser “traduzidas” (grifo meu) para a contemporaneidade.
O outro texto presente no livro é Antígona.
Ela é filha de Édipo, tal qual Ismênia, Eteócles e Polinices. Os dois últimos,
homens, morreram em batalha um contra o outro, ou melhor dizendo, um lutando
por Tebas e o outro (Polinices) lutando contra Tebas. O primeiro, portanto, ao
morrer, recebera honras de Creonte – que comandava Tebas, já ao segundo foi
determinado que seu “cadáver fique
insepulto, repasto de abutres e cães e se transforme em objeto de horror”.
Antígona, a irmã, resolve contrariar tudo
aquilo que Creonte determina e dá ao irmão o mínimo de dignidade na morte. Vai
até o corpo dele e joga terra sobre o homem. Em função de sua ação vem a
punição, vez que contrariou o ordenamento determinado pelo atual rei. Sua
punição é dada: ser emparedada, viva, com o mínimo de alimento para que ninguém
da cidade chegue próximo ao local em que ela estaria até que chegasse a hora da
morte. Tirésias, sábio do reino, tenta convencer Creonte a desistir da punição.
O mesmo tenta o filho de Creonte, que era enamorado por Antígona.
Quando Creonte decide voltar atrás em sua
decisão, já é tarde demais. Antígona não está no mundo dos vivos.
A história da personagem reflete a visão do
autor sobre as pessoas que não conseguem fugir de seu destino, nem daquilo que
deseja os deuses. Sobre Antígona parece recair a maldição lançada pelo oráculo
que levara seu pai à morte, bem como todo o sofrimento que ele tivera. Sobre
ela e seus irmãos recai o mesmo mal. Há, por parte de Sófocles, o autor do
texto, a crença nos deuses e na predestinação.
Antígona é, no entanto, um exemplo de amor
fraternal, aquela mulher que abre mão de sua própria vida para garantir ao
irmão (morto) o mínimo de dignidade. Ela é um tipo de heroína que enfrenta o
que o rei determina e se mostra mais humana em relação aos outros do que a
maioria das pessoas que a rodeia. Vale observar atentamente o diálogo que ela
tem com Creonte, em que se impõe e
retruca muitas das falas do homem.
Os textos, mesmo apresentando uma linguagem
que não nos é usual atualmente, permite uma aventura prazerosa pela leitura.Tanto
Édipo Rei quanto Antígona são duas tragédias que fazem-nos refletir e filosofar
sobre aspectos do comportamento humano. Sófocles foi um dos maiores poetas
dramáticos da Grécia antiga e o fascínio de seus textos continua a atrair a
atenção de quem o lê.
Ficha
Técnica
Título: Édipo Rei - Antígona
Escritor: Sófocles
Editora: Martin Claret
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
142
Ano: 2002
Assunto: Tragédia grega
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