O Homem Rouco, de Rubem Braga, foi publicado pela Global Editora em 2018
(5ª edição). Rubem é considerado o mestre da crônica no Brasil e o livro reúne quarenta
textos que foram escritos entre abril de 1948 e julho de 1949. São textos que
foram publicados originalmente no Diário de Notícias, Folha da Noite, Folha da
Tarde, Diário da Noite, Diário Carioca, Correio Paulistano, Revista da Globo e
Jornal do Comércio.
“Naufragamos
a todo instante no mar bobo do tempo e do espaço, entre as ondas de coisas e
sentimentos de todo dia.”
A crônica que abre a obra é O Ausente de Bogotá. Em Sobre o Inferno, o
inferno é o tema. Aquele inferno que, segundo o autor “Dante e outros espalharam muitas notícias falsas a respeito”. O
inferno é apenas aqui e o cronista o vive no cotidiano.
Sobre o Amor, Etc fala sobre esse sentimento humano e a vida de que ama e
de quem passou por uma relação. Até mesmo uma amendoeira ou algumas delas,
fizeram com que Rubem Braga nos desse uma história. Ou ainda, a “Lembrança de
um braço direito”.
Sempre me chama a atenção na crônica o olhar aguçado do cronista sobre
tudo que vê ao seu redor. Coisas simples, corriqueiras, inusitadas, mas também
a complexidade de fatos e acontecimentos, a complexidade da própria percepção
humana sobre o que vê.
Biribuva, uma gatinha, recebe o texto que traz seu nome. É da revelação
do cronista com essa gatinha e do pensamento que surge sobre possibilidade de
não tê-la que extrai a essência do texto, que comove quem gosta de animais.
Ainda que o leitor, segundo ele, não queria saber de Biribuva (a condessinha).
Mas, ele nos conta sobre ela.
Em O Plano de Itamaracá fala sobre pessoas que morreram na ilha e a
própria ilha, bem como aspirações para o que desejaria que a ilha se tornasse,
com ironia.
Para Rubem Braga um menino que usa seu teatro de marionetes, vindo de uma
caixa de Praga, poderia usar e organizar outras “Marionetes” (título da
crônica). “Tenho vontade de ir lá dentro
chamar o menino, entregar-lhe o Brasil e o Mundo, pedir-lhe para organizar, com
todos esses bonecos terríveis e gaiatos, uma história mais coerente e mais
divertida”. Uma crônica que faz uma crítica política no fim de 1948 e que
se revela tão atual como se tivesse sido escrita exatamente hoje.
Conto de Natal, cuja história muito se aparenta a do casal que deu a luz
à Jesus Cristo termina de modo triste. Uma analogia do autor ou um
questionamento para quem o lê? Já em Irritação da Vida, por meio de um livro
que recebe, Rubem faz a sua visão sobre o ato de escrever e sobre a necessidade
do escritor em ter seu livro.
“Ah,
um dia terei coragem de escrever um livro assim florido, onde o leitor entre
como em jardim de afetos, e tome comigo o cafezinho da maior cordialidade,
batendo uma boa prosa.”
Pedaços de cartas de nordestinos que migraram para a Amazônia também
viraram um bom texto do autor. O Homem Rouco tem outras crônicas, tais como
Nascem Varões, O Jabuti, O Morador, O Funileiro, Dos Brotos e O Motorista do
8-100 (essa última apontada por Otto Lara Resende como uma das melhores de
Rubem Braga). Rubem, por sua vez, em entrevistas destaca o livro O Homem Rouco
como um de seus melhores.
É no passeio pelas palavras do autor que nos traz seus ambientes,
personagens e observações que o leitor vai ler e se deleitar com ótimas
crônicas. A palavra bem posta, um estilo que por vez fala do autor para o
leitor, reflexões, observações puras e simples, e humor aparecem nos textos do
autor. Mergulhar nas crônicas de Rubem Braga é uma viagem daquelas que fascinam
e que ficam gravadas na memória.
Para saber o nome de todas as crônicas que estão presentes no livro,
deixo o registro aqui: O ausente de Bogotá, Sobre o amor et, Sobre o inferno,
Jardim fechado, Justiça seja feita, Essas amendoeiras, Lembrança de um braço
direito, Biribuva, O plano Itamaracá, O suicida, O homem rouco, Procura-se,
Histórias de Zig, Do temperamento dos canários, Aconteceu com Orestes, Que venha
o verão, Marionetes, Agradecimento, Conto de Natal, A secretária, Uma
lembrança, Os romanos, Regência, Imitação da vida, Pedaços de cartas, Sobre a
morte, Da vulgaridade das mulheres, Os olhos de Isabel, O barco Juparanã, O
motorista do 8-100, Dos brotos, O vassoureiro, Vem uma pessoa, A visita do
casal, O morador, Visitação a São Paulo, Os saltimbancos, O funileiro, O jabuti
e Nascem varões.
Mais do que falar sobre as crônicas que serão lidas, é preciso que elas
sejam lidas, pois a cada um a singularidade do olhar do autor vai reverberar de
um modo diferente. Recomendo a leitura.
Sobre o
autor:
Rubem Braga | Foto: Reprodução |
Rubem Braga nasceu em 12 de janeiro de 1913,
em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, e passou a dedicar-se
precocemente ao jornalismo, em 1928, no Correio do Sul, fundado por seus
irmãos. Apesar de graduado em Direito, nunca exerceu a profissão e dedicou-se
por toda a vida ao jornalismo e à crônica, passado por diversos jornais
brasileiros. Atuou também como embaixador no Marrocos, chefe do Escritório
Comercial do Brasil no Chile, editor, contista e poeta, experiências que
influenciaram suas crônicas, além de ter sido correspondente do Diário Carioca
durante a Segunda Guerra Mundial. Seu primeiro livro, O Conde e o Passarinho,
foi pulicado em 1936. A este se seguiram diversos outros títulos que lhe
garantiram prestígio incomum junto ao público leitor e à crítica ao longo das
últimas décadas. Obras como Ai de Ti, Copacabana! alçaram a crônica, gênero
comumente considerado “menor”, a uma patamar jamais alcançado na literatura
brasileira. O autor faleceu em 19 de dezembro de 1990 e suas cinzas foram
jogadas no rio Itapemirim.
Ficha
Técnica
Título: O Homem Rouco
Escritor: Rubem Braga
Editora: Global
Edição: 5ª
Número
de Páginas:
152
ISBN: 978-85-260-2441-0
Ano: 2018
Assunto: Crônica brasileira
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