Pessoas acordam num lugar que desconhecem
totalmente. O ambiente além de novo, guarda surpresas que não são tão
agradáveis assim. Eles aparecem no local com máscaras em seus rostos. A pouca
memória que lhes restam é cheia de lacunas, pois não sabem exatamente o que
aconteceu para que eles fossem parar nesse lugar inusitado. “Que lugar é esse? Parece uma espécie de
altar construído no meio da floresta...”
Os personagens, no entanto, percebem que o
sangue não pode tocar o solo, pois quando isso ocorre vira um “pandemônio” –
palavra que usam para designar um evento assustador. Quando o sangue toca o
solo o que há de pior nos humanos se revela e eles têm uma vontade
estarrecedora de consumir carne humana.
“Pandemônio : a manifestação mais absoluta da
loucura. Corpos colidindo com violência desmedida. Ira, êxtase e agonia. Dentes
em bocas sorridentes procuram carne para rasgar, gargalhando, chorando,
soluçando, compondo uma sinfonia medonha. Mãos, cujos dedos fincam a carne no
intuito de despedaça-la, também golpeiam ossos, errática e bestialmente. Não há
homens, apenas monstros exibindo sua natureza mais doentia.”
Os personagens, que acordam num local
estranho e que estão em grupos separados, se cruzam. Eles tem que lidar com o
desconhecido que representa o lugar, com as ocorrências climáticas e, naturalmente, com os conflitos que surgem
no próprio grupo. E, não podemos esquecer, que o sangue não pode tocar o solo,
como dito anteriormente (outra preocupação que tem de carregar). Há
discordância sobre as ações que devem tomar, mas também há a necessidade de
união para que possam sobreviver e enfrentar os obstáculos e desafios que
surgem num ambiente inóspito e cheio de armadilhas (naturais ou não).
No livro Jardim dos Famintos, do escritor
Adams Pinto, que foi publicado em 2017 (1ª edição – independente), temos um
misto de suspense, terror, fantasia e aventura, que mesclados com a
personalidade de cada um dos personagens
enriquece a trama e dá ao autor a possibilidade de mexer com a história
para impactar o leitor. E o impacto vem.
Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos?
Essas três questões compõe a busca que os personagens fazem. Os dois núcleos de
personagens, com suas distinções – que são ressaltadas pelas suas ações, trazem
à tona a simbologia do que cada um deles representa nesse emaranhado de pessoas
que se veem diante de uma situação completamente aterrorizante.
Quando falamos de uma história que lida com
fantasia, a criação do ambiente também é de suma importância, tal qual a
criação dos personagens e do próprio enredo da narrativa. Adams Pinto criou um
lugar insano, em que o sangue desperta o lado canibal dos personagens. Para se
livrar da morte, há a necessidade de que encontrem ou, melhor, demonstrem seu lado
obscuro. Vale ainda frisar que o próprio mundo em que os personagens se
encontram e os diversos lugares pelos quais passam em busca de resgatar aquilo
que lhes falta, se tornam um elemento-personagem dentro da história.
O fato de, desde o início, os personagens não
saberem de nada, conduz o leitor pela história como se também fossemos uma das
pessoas que ali estava. Vamos descobrindo sobre os personagens ao mesmo tempo
em que eles vão fazendo o autoconhecimento. As máscaras usadas por eles
representam também a diferença de suas personalidades, como se cada um tivesse
um papel a desempenhar dentro do grupo do qual fazem parte. As diferenças de
personalidades criam conflitos, trazem a diversidade de comportamentos e de
perfis psicológicos, e fazem deles personagens complementares no desenrolar da
trama de Jardim dos Famintos. Temos oito protagonistas e muitos outros
personagens secundários e o leitor vai acompanhar o emaranhado de mistérios que
vão se revelando.
“Os olhos confinam a imensidão do universo na finidade do
ser humano!”
O lugar é perigoso, mas também há perigo pelos
próprios personagens, quando surge a vontade da prática do canibalismo, por
exemplo. O autor mescla terror e fantasia ao longo da história e entremeia bem
os elementos da história que dão clímax e aqueles que apresentam a trama para
poder destacar outros pontos de tensão. Os diálogos dos personagens também
trazem pontos interessantes, incluindo algumas passagens que tem humor.
As ilustrações de Jon Bosco, que estão
presentes no livro, estão em total conexão com a história e acrescentam ao
projeto gráfico. A capa chama a atenção e mostra as oito máscaras que são
representadas pelos personagens.
Jardim dos Famintos é um bom livro! A obra
terá continuação. Aguardemos ansiosos!
Sobre o
autor:
Adams Pinto | Foto: Reprodução |
Adams Pinto, ilustrador e designer cearense,
tem uma carreira conhecida internacionalmente na área de estampas geeks para
lojas como Teefury, Qwertee e outras. Mas apesar da perícia com artes gráficas,
sempre nutriu um amor secreto pela literatura. Desta maneira, influenciado por
nomes como H.P. Lovecraft, Stephen King, Bernard Cornwell e contando com o
apoio espiritual de J. R. R. Tolkien, levou adiante a confecção do seu primeiro
romance: Jardim dos Famintos.
Ficha
Técnica
Título: Jardim dos Famintos
Escritor: Adams Pinto
Editora: Independente
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
411
ISBN: 978-85-420-1031-2
Ano: 2017
Assunto: Literatura
brasileira
Muito boa a sua resenha!
ResponderExcluirEu comprei o livro digital e estou bem ansiosa para lê-lo!
Abração,
Drica.