“Nós acreditamos que eles são inadequados e não
adaptáveis à sociedade branca. Enquanto continuarem a participar da cultura
branca, nós continuaremos a ter a maior criminalidade, maiores impostos para a
assistência social, redução dos padrões educacionais e trabalhistas e, em
geral, uma deterioração contínua da civilização branca. Ao mesmo tempo que
desejamos ter uma relação amigável com a sociedade negra, escolhemos viver
totalmente separados dela. Esse é o nosso sentimento em relação aos mexicanos e
também outras minorias.” Essas foram palavras de Fred Wilkens, um bombeiro que
era organizador estadual da Ku Klux Klan no Colorado (Estados Unidos).
De alguma forma essas palavras doem? Elas
provocam em você a empatia pelo outro que se sente reduzido, excluído, anulado
da sociedade? Te provoca algum sentimento de repulsa por julgar a cor, a raça,
a nacionalidade ou qualquer outra condição de vida do outro? Te faz sentir que não
é possível que alguém exclua o outro simplesmente pelo fato de ser quem é? Ron
Stallworth era um homem que, a seu modo, lutou contra esse tipo de discurso.
A Ku Klux Klan (KKK) é uma das mais temidas organizações
racistas dos Estados Unidos. Você já imaginou um negro se infiltrando nessa
organização? Pode parecer história de filme, e também é, pois Infiltrado na
Klan inspirou a película de Spike Lee que venceu o Grande Prêmio do Júri no
Festival de Cannes. Antes de vir filme, no entanto, é um livro que conta uma
história baseada em fatos reais.
Ron Stallworth, autor do livro que foi
publicado no Brasil pela Editora Seoman (Grupo Editorial Pensamento) foi o
primeiro detetive negro do Departamento de Policia de Colorado Springs. Certa
feita, o homem se deparou com um anúncio no jornal que recrutava pessoas para
integrar a KKK local. Ele respondeu à convocação e acabou recebendo a chamada
de um representante do grupo. No entanto, ele, em carta, havia revelado o seu
nome verdadeiro e não uma de suas identidades secretas. Com o contato obtido
por parte da organização, não restou dúvida ao detetive em se passar por um
homem branco racista para ganhar a simpatia do dirigente local e começar a
fazer parte desse grupo.
“Bem, o
que eu tinha que fazer era iniciar uma investigação secreta da Klan e seus
planos de crescer na minha cidade. Eu vinha trabalhando como investigador
disfarçado quatro anos e tinha conduzido muitos casos, mas esse seria
diferente, para dizer o mínimo.” Escreveu o autor.
E trata-se mesmo de um caso diferente. A
operação que pode soar como comum para muita gente, era arriscada. Estamos
falando de um homem negro, que deu seu nome verdadeiro para racistas
fervorosos. Como se manter camuflado para que não notassem qualquer ação
implementada pela Polícia de Colorado Springs? Ron conta com o apoio de um
agente branco, chamado Chuck, que o auxilia como a cara do homem que conversa
com a KKK pelo telefone. Infiltrado suas investigações seguem.
O livro traz, como dito anteriormente, uma
história real, portanto não tem elementos ficcionais no meio da narrativa que o
leitor fará. O autor, que é o policial infiltrado, narra os acontecimentos em
primeira pessoa.
Há acontecimentos que demonstram bastante
ousadia por parte de Ron, e isso certamente vai chamar a atenção do leitor.
Tais situações chegam a ser cômicas e até mesmo satíricas, diante daqueles
líderes racistas que se acham superior a qualquer negro ou quaisquer minorias.
Uma dessas passagens é quando Ron encontra David Duke, um dos líderes da organização
racista.
O que lemos é a atuação de Ron nas
investigações e sabemos de alguns resultados que foram obtidos com o seu
trabalho como detetive na polícia local. Ron Stallworth narra sua história numa
linguagem fluída e objetiva e soube aproveitar bem alguns momentos de tensão
que dão gancho para a continuidade dos capítulos e despertam a curiosidade do
leitor. Por vezes, dá a impressão de que tudo que estamos lendo é ficcional
demais, tal a ousadia do investigador e a audácia que ele tem ao enfrentar o
grupo extremista. No entanto, vale sempre lembrar que é uma história real e
que, portanto, os fatos relatados foram vivenciados pelo autor.
Ao ler, caro leitor, não há como não fazer um
paralelo com os tempos atuais. O discurso de ódio, disfarçado de boas ações,
que a Ku Klux Klan tem, aparenta em muito com a verbalização feita por líderes
políticos, autoridades e representantes de outros grupos sociais que tem poder
de formar opinião. O que muita gente não percebe é que esse discurso de ódio
está maquiado com garantias de uma supremacia artificial, de uma tremenda falta
de empatia para com o próximo.
Para além da intrigante história que lemos em
Infiltrado na Klan, cuja tradução da publicação realizada no Brasil coube a
Jacqueline Damásio Valpassos, e que fascina por si só, temos uma camada que nos
leva ao questionamento, à reflexão sobre racismo, xenofobia, preconceito e
discriminação em termos amplos.
Sabe aquelas histórias verídicas que são tão
impressionantes que parecem mentira? Os relatos de Ron são tão inacreditáveis
que, se fossem ficcionais, certamente questionaríamos o autor com relação à
verossimilhança de algumas passagens e pelo absurdo que se revela em cenas
detalhadas por Ron. Por aí, já dá pra perceber como o livro surpreende. Não há
como negar que temos no livro um contundente caso de enfrentamento e de
empoderamento negro. Ron Stallworth fez história.
Sobre o
autor:
Ron Stallworth, veterano altamente
condecorado com mais de trinta anos de serviços prestados à corporação policial
dos Estados Unidos, trabalhou sob o disfarce, em quatro estados, nas divisões
de Narcóticos, Costumes, Inteligência Criminal e Crime Organizado. Como o
primeiro detetive negro da história do Departamento de Polícia de Colorado
Springs. Ron venceu a feroz hostilidade racial para conquistar uma longa e
distinta carreira como agenda da lei.
Ficha
Técnica
Título: Infiltrado na Klan
Escritor: Ron Stallworth
Editora: Seoman
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-5503-081-9
Número
de Páginas:
207
Ano: 2018
Assunto: Relações raciais
Reforçou meu interesse pelo livro!
ResponderExcluirÉ um filme bom e muito interessante, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Adam Driver neste filme. Eu o vi recentemente em Lucky Logan Roubo em Família, você viu? A participação do ator foi fundamental. Adorei, pessoalmente eu acho que é um dos top filmes comedia que nos prende. A historia está bem estruturada, o final é o melhor! Sem dúvida a veria novamente, se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo. Cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção.
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