Igor Fagundes é das maiores inteligências
poéticas da literatura brasileira contemporânea. E sublinho tanto o substantivo
quanto o adjetivo. Sua capacidade de produção é extraordinária. Poucos
conseguem conciliar qualidade e extensão como faz. E, quando digo ‘poucos’,
ainda estou exagerando.
Antonio Carlos
Secchin
(poeta, ensaísta, professor
emérito da UFRJ,
membro da Academia
Brasileira de Letras)
Quem diria que a poesia, depois de seu
histórico afastamento da filosofia e da ciência, suscitaria uma discussão teórica
em torno da dança? Conjugando pensamento e corpo, Igor Fagundes – que é poeta,
ensaísta e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde
coordena o curso de Teoria da Dança – reflete sobre as possibilidades de
crítica e tradução do dançar em literatura e vice-versa, fugindo de paradigmas que
contrapõem ciência e arte no ocidente. Diz o autor: “No grego, a palavra ‘teoria’
compreendia originalmente a ‘prática’ dos poetas, dos dançarinos. Assim, não é
só a dança que requer uma escrita capaz de pensá-la resguardando o movimento na
experiência literária. Não é só o escrever que precisa dançar, para que pense e
flexibilize a rigidez conceitual por meio de ritmos, imagens, metáforas. É a
dança mesma que precisamos reconhecer como pensamento; uma escrita diversa, na
qual o corpo é palavra”.
Esses são um dos muitos assuntos de pensamento dança, nono livro do autor. A
obra vem a público depois do premiado Poética
na incorporação – Maria Bethânia, José Inácio Vieira de Melo e o Ocidente na
encruzilhada de Exu, de 2016, no qual o discurso teórico e ensaístico vinha,
em caminho inverso, contaminado pela poesia. Apresentada, de início, como tese
de doutorado não convencional a respeito do sagrado, a obra desconstruía o
científico e o religioso na linguagem poética. Mas, de acordo com Fagundes, pensamento dança dialoga também com seu
último livro de poemas, zero ponto zero,
de 2010. Neste, o campo da matemática se afirmava e ao mesmo tempo se negava no
pensar poético: “Enquanto em zero ponto
zero havia uma irônica numerofilia,
que denunciava certa numeropatia de
nossas existências, existe em pensamento
dança uma acidental numerologia: são
72 poemas inéditos e 27 já publicados, mas modificados pelo tema da dança. Em
72 e 27, temos: 7+2=9; 2+7=9, do mesmo modo que o número total de poemas do
livro (99) culmina em 9 (9+9 = 18; 1+8=9). Trata-se de algarismo dominante no
meu mapa numerológico”, conta o autor, sinalizando que “nove” é o número de sua
data de nascimento, do nome literário Igor Fagundes e do nome completo Igor
Teixeira Silva Fagundes. É um algarismo da maturidade, que demarca o encerrar
de um ciclo e início de outro, assim como 99 poemas anunciam o término da casa
das dezenas e prenunciam a das centenas, erguendo uma parede bem-acabada diante
do número 100”, diz, referindo-se a seu livro Sete mil tijolos e uma parede inacabada, de 2004.
Em edição de luxo e capa dura da Penalux, a
obra pensamento dança será lançada
dia 31 de outubro, às 19h, no Centro de Artes Nós da Dança, em Copacabana, Rio
de Janeiro. No evento, alunos de Dança da UFRJ farão uma performance com
Fagundes, dançando poemas do livro. Dividido em três seções, “Ensaio”,
“Estreia” e “Reestreia”, a obra traz na fortuna crítica depoimentos de escritores
consagrados, como Antonio Carlos Secchin e Astrid Cabral. O livro trava ainda
um diálogo com poetas da literatura em língua portuguesa transportados para o
universo da dança, do mesmo modo como ícones da história da dança são
transportados para o universo da literatura, misturando-se a personagens e práticas
corporais não eurocêntricas: “Porque a dança não é só o texto; muitas vezes é o
contexto ou o pretexto para discutir relações étnico-raciais, de gênero e
outras questões de ordem política, cultural e existencial”, finaliza o autor.
Sobre Igor
Fagundes:
Igor Fagundes | Foto: Divulgação |
Poeta, ensaísta e crítico literário com mais
de 60 prêmios em concursos e festivais literários no país. É doutor em Poética
e professor da UFRJ, onde coordena atualmente o Bacharelado em Teoria da Dança.
Como poeta, publicou Tranversais
(2000), Sete mil tijolos e uma parede inacabada (2004), Por uma
gênese do horizonte (2006/ Prêmio Literário Livraria Asabeça), zero ponto zero (2010). Como ensaísta,
assinou Os poetas estão vivos – pensamento poético e poesia brasileira no
século XXI (2008/Prêmio Literário Cidade de Manaus: Melhor Ensaio de
Literatura), Permanecer silêncio
(2011), 33 motivos para um crítico amar a poesia hoje (2011) e Poética na incorporação (2016/Prêmio
Afrânio Coutinho de Ensaio da UBE-RJ). Ajudou a editar e colaborou com mais de
30 estudos sobre variados temas e autores, abrangendo nomes da literatura, da
música (Chico Buarque e Maria Bethânia) e da dança (como Pina Bausch).
Serviço:
Título: pensamento
dança
Autor: Igor Fagundes
Editora: Penalux
Páginas: 194 (Capa dura, miolo em pólen)
Lançamento:
Dia 31 de outubro – Centro de Artes Nós da
Dança, Av. Nossa Senhora de Copacabana, 1138, sobreloja.
Disponível: www.editorapenalux.com.br/loja
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