Everaldo Rodrigues é um dos finalistas do
Prêmio Aberst de Literatura na categoria Conto, Noveleta ou Novela de Terror/Horror com O Capeta-Caolho Contra a Besta-Fera. Além de escritor,
tem o canal literário Estante Etérea. Ele falou ao Tomo Literário sobre seus
primeiros contatos com a literatura, sobre o conto finalista do prêmio, o livro
mais trabalhoso que escreveu, inspirações, novos projetos e muito mais. Confira
a entrevista.
Tomo
Literário:
Para
começarmos conte-nos como foi o seu primeiro contato com a literatura e quando
decidiu ser escritor.
Everaldo
Rodrigues: Meu
primeiro contato com a literatura foi “O Mágico de Oz”, do L. Frank Baum, e
logo em seguida os romances policiais da Agatha Christie e do Conan Doyle. Meu
pai lia para mim quando eu ainda não sabia ler. Lembro bem desses momentos. Na
infância eu li muito gibi da Turma da Mônica e da Disney, e na adolescência li
muito mangá. Entre um e outro, minha maior fonte de entretenimento foram os
romances policiais. Li muitos, mesmo, mas depois que entrei na fase do mangá eu
me afastei um pouco dos livros de ficção, e só voltei depois dos dezessete
anos, quando li “O Pistoleiro”, do Stephen King. Aquilo lá me pegou de um jeito
único. Até hoje sou preso àquilo. E foi quando eu voltei para a ficção e entrei
especificamente no mundo do “terror”. Vontade de escrever eu sempre tive, desde
moleque. Eu escrevia histórias infantis para minha irmã, fazia o livrinho
mesmo, sabe, em papel sulfite, dobrava, grampeava, escrevia e ilustrava… e
depois foi com quadrinhos. Roteirizava histórias em quadrinhos, desenhava.
Contar histórias sempre esteve no meu sangue. As coisas se acertaram mesmo na
literatura de gênero, no horror e suspense. Quando comecei a escrever meus
contos foi que me encontrei. Desde então não parei.
Tomo
Literário: O
Capeta-Caolho Contra a Besta-Fera é um dos finalistas do Prêmio Aberst
de Literatura na categoria Conto, Noveleta ou Novela de Terror/Horror. Qual a expectativa para o
prêmio e como é figurar entre os finalistas?
Everaldo
Rodrigues: Eu
estou muito feliz e satisfeito apenas por estar entre os finalistas! É uma
honra imensa, e por isso nem crio muita expectativa quanto ao resultado. Já me
sinto vencedor por estar ali no meio, por ter sido indicado. O que vier é
lucro. É muito recompensador estar entre tanta gente boa, e ser lido e avaliado
por pessoas que entendem do riscado. E ainda mais feliz por saber que escrevi o
“Capeta-Caolho” sem pretensão alguma e hoje ele está lá, entre os finalistas. É
algo que não sei descrever, mesmo sendo escritor.
Tomo
Literário: Como surgiu a ideia dessa
história?
Everaldo
Rodrigues: Bom,
a ideia de escrever sobre lobisomem surgiu de um desafio/projeto literário
entre eu e o Lucas Dallas, autor de Pela
estrada afora. Nós queríamos lançar um livro juntos, um livro com duas
histórias, e queríamos que fosse sobre lobisomens. Essa era a regra. No
decorrer do desafio, porém, as histórias se diferenciaram muito, e acabou que
decidimos lançá-las separadamente mesmo (o texto dele é o Quando tocam os tambores, um ótimo conto). Para “O Capeta-Caolho
contra a Besta-Fera” eu tive muitas referências e muitas ideias que se
juntaram. Havia principalmente o desejo de fazer uma história que fosse
genuinamente brasileira, e escrever sobre o Nordeste foi natural, já que meus
pais são pernambucanos, e eu morei lá por um tempo também. A escrita um tanto
“regional” já era algo com o qual eu havia flertado no livro Passeio Noturno – vol. 2, no conto A aberração da fazenda Sete Trilhas,
então foi um caminho natural também. Como
a história tinha que ser sobre lobisomem, eu logo me vi num dilema, porque já
existem muitas histórias com esse monstro, tanto nacionais quanto estrangeiras.
Então jogar a história no sertão do Nordeste foi uma saída. O que me fez pensar
no cangaço como elemento foi um lampejo de sorte. Eu meio que pensei que seria
interessante fazer um “Sete homens e um destino” no sertão, e adaptando os
elementos, os cangaceiros caíram como uma luva. Mas não podia ser algo idealizado,
tinha que ser cru, ter o toque da realidade. Cangaceiros não eram “heróis”,
eles eram pistoleiros das circunstâncias. Na maioria das vezes em que eles
apareciam, o povo sofria. Então eu decidi inserir isso na história, e acabou
que se tornou essa mistura de faroeste nordestino com terror, e eu fiquei feliz
com o resultado.
Tomo
Literário: Horário de Verão é um romance
sobrenatural e você tem ainda os livros Passeio Noturno (volume 1 e 2). Qual
dos seus livros deu mais trabalho para concluir e por qual motivo?
Everaldo
Rodrigues:
“Horário de verão” foi um livro trabalhoso, principalmente por ter sido meu
primeiro romance, e tudo que é feito na primeira vez é mais difícil, a gente
ainda está aprendendo e tal… mas outros livros que escrevi e que ainda não
foram lançados (e nem estão perto de serem lançados, na verdade) me deram mais
trabalho, tanto pela temática quanto pelo tamanho. “O Capeta-Caolho” também deu
bastante trabalho, mexi muito na estrutura dele entre a primeira e a última
versão. Acho que todos os livros dão um grande trabalho, cada um a seu modo.
Não tem livro fácil, pelo menos para mim.
Tomo
Literário:
Como
você vê atualmente o cenário literário brasileiro, sobretudo para os escritores
de terror/horror?
Everaldo
Rodrigues: Eu
acho que estamos num terreno muito fértil no sentido de possibilidades
criativas, muita produção com muitos autores, o que tem dois efeitos, claro,
que é a grande oferta e, por outro lado, uma disputa muito maior. Se torna cada
vez mais e mais difícil destacar seu trabalho no meio de tantos outros, mas
isso não é um problema. Eu vejo um problema no sentido mais amplo, ideológico.
Um risco de cerceamento de liberdade e de ideias, de interpretação equivocada
que pode levar a constrangimentos e a declarações que até pouco tempo atrás
pareceriam desnecessárias, como por exemplo um escritor ter que se explicar
sobre uma obra má interpretada. Talvez seja o momento político, não sei. Temos
que esperar para ver. E também é muito bom ver autores querendo a
profissionalização, querendo crescer. A Aberst aparece como uma iniciativa
muito boa também, de divulgação e valorização, e as médias editoras que estão
conseguindo sobreviver à crise estão apostando na obra nacional, aos poucos.
Além é claro de todo o mercado independente, do que a Amazon oferece com o KDP,
da forma como parece cada vez mais evidente que o autor já não precisa mais de
um direcionador de público ou de uma validação como precisava antes. Não que
isso não seja importante, mas as vias estão mudando. O sistema está mudando. Os
próximos meses podem ser nebulosos, dependendo dos caminhos escolhidos pela
nação, mas acho que nós, escritores de terror, saberemos como lidar com isso.
Tomo
Literário:
De
modo geral o que te move a escrever?
Everaldo
Rodrigues: De
modo geral, é um desejo constante de tirar histórias de dentro da cabeça,
histórias que não se contentam em ficarem apenas lá, e colocá-las no papel,
seja físico ou digital. Todo escritor tem dificuldade em explicar o que o move,
porque é um mistério até mesmo para nós. Essas histórias vêm e nós não temos
muito controle. Claro que alguns vão escrever por ego ou por atenção, ou por
acreditarem piamente que isso vai levá-los a um patamar superior, financeira ou
intelectualmente, mas isso tudo é autoilusão. A meu ver, não é algo que está
sob meu controle. É uma vontade sob a qual é melhor ceder para não enlouquecer.
Tomo
Literário:
Confinados
é um livro que surge da experiência da reunião de escritores num casarão. O que
podemos esperar do seu conto nesse livro que será publicado pela Monomito?
Everaldo
Rodrigues: Meu
conto se chama “Complexo de Ed”, que vem de um trocadilho que quem ler o conto
vai entender, mas que não é tão difícil de sacar. Vai ser uma história bem
diferente para quem só me conhece pelo “Capeta-Caolho”, e vai ser uma
experiência legal para quem conhece meus outros contos. Tem um tema que gosto
de explorar, que é o psicopata assassino, e é baseado num assassino real e sua
relação conturbada com a mãe. É tudo que posso dizer.
Tomo
Literário:
Você
está preparando algum novo projeto literário? Pode nos adiantar alguma
informação?
Everaldo
Rodrigues:
No momento, além do “Confinados”, tem mais uma antologia da qual vou participar
e sobre a qual ainda não posso falar. Projetos individuais ainda estão em
segundo plano. Estou focado em estudar e em divulgar “O Capeta-Caolho” e levar
essa história para mais leitores.
Tomo
Literário:
Quais
são os autores que você admira ou que de alguma forma influenciaram o seu
trabalho como escritor?
Everaldo
Rodrigues: Essa
é uma pergunta que nunca tem resposta definitiva, porque sempre estou
conhecendo novos ou antigos escritores que acabam me influenciando.
Recentemente eu li Charles Bukowski pela primeira vez, e eu me apaixonei pela
forma como ele se relaciona com a produção literária, e é um escritor que está
se tornando uma influência bem rápido. Mas claro, não posso deixar de falar
daqueles que “me formaram”: Agatha Christie, Conan Doyle, Bram Stocker, Edgar
Allan Poe e Stephen King. Também me sinto muito influenciado pelo H.P.
Lovecraft, pelo “horror cósmico” dele. Fora do terror eu admiro muito a escrita
do Henry James, do Cormac McCarthy e do William Golding. São verdadeiros
mestres. Entre os brasileiros, estou descobrindo muita coisa ainda, tanto
clássica quanto recente, mas eu tenho dois escritores contemporâneos como meus
gurus, que são o Cesar Bravo e a Cláudia Lemes. Aprendo muito com eles, todo
dia. Entre os clássicos, gosto muito de Machado de Assis.
Tomo
Literário:
Que
livros, de quaisquer gêneros, você recomendaria aos leitores? Está lendo algum
atualmente?
Everaldo
Rodrigues: Leio
muita coisa, de vários estilos. Recentemente li “História do Cerco de Lisboa”,
do José Saramago. Foi meu primeiro contato com a obra dele, e foi dificílimo e
cansativo, mas valeu muito a pena. Estou lendo “A Letra Escarlate”, do
Nathaniel Hawthorne. O cara é um dos pais do romance norte americano, e a forma
como ele narra já me conquistou desde o primeiro parágrafo. Como disse antes,
li “Misto-quente”, do Bukowski, e foi uma experiência bem louca, assim como
“Crime e Castigo”, que levei quase quatro
meses lendo, e foi foda. Recomendo todos esses. Acho que é importante para o
escritor se aventurar por vários gêneros e estilos. Cada um vai contribuir com
algo diferente e importante na construção do seu “arsenal”, digamos.
Everaldo Rodrigues | Foto: Reprodução |
Tomo
Literário:
Aproveitando
a pergunta, fale-nos um pouco sobre Estante Etérea, seu canal no YouTube.
Everaldo
Rodrigues: O
Estante Etérea é meu xodó, apesar de no momento não estar conseguindo dar a
atenção que ele merece. É um canal literário que já vai fazer cinco anos em
2019, e eu me orgulho bastante de ter conseguido mantê-lo durante esse tempo,
mesmo sem ter um retorno financeiro. Antes eu falava bem mais de terror por lá,
mas atualmente é um canal bem mais eclético, e os inscritos são bem
participativos, ajudam a escolher as resenhas, trocam ideias, é muito legal. E
foi uma das minhas portas de entrada para o meio literário, né. Foi graças ao
canal que eu me inseri, vamos dizer assim, entre leitores e escritores, onde
fiz muitos amigos e construí ligações importantes. Devo muito ao canal, a tudo
que ele me proporcionou nesse tempo.
Tomo
Literário:
Gostaria
de deixar algum comentário para os leitores do blog?
Everaldo
Rodrigues: Gostaria
de agradecer muitíssimo pela oportunidade de falar aqui no Tomo Literário,
agradecer aos leitores e convidar todos a conhecerem meus livros, especialmente
“O Capeta-Caolho contra a Besta-Fera”, que está há alguns meses sem sair do top
10 de mais vendidos na categoria “terror” da Amazon e que concorre, agora em
outubro, ao prêmio Aberst de Literatura. E leiam. Leiam, muito, sempre, e de
tudo. Só com leitura e pensamento crítico nós vamos tirar nosso país do
marasmo. Obrigado.
Os livros de Everaldo Rodrigues podem ser
encontrados no Clube de Autores e na Amazon.
Acompanhe
o escritor:
Instagram:
https://www.instagram.com/everaldorodr/
Twitter: https://twitter.com/EveraldoRodr
Canal no Youtube: https://www.youtube.com/estanteeterea
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