André Comanche é autor de Morte em 140
Caracteres, um dos finalistas do Prêmio Aberst de Literatura. Ele falou ao Tomo
Literário sobre o início de sua jornada no universo literário, sobre seu conto,
o cenário para os escritores de suspense/policial, seu trabalho como
ilustrador, autores que o inspiram e muito mais. Confira a entrevista.
Tomo
Literário:
Como
foi o seu primeiro contato com a literatura? E como você decidiu ser escritor?
André
Comanche: Eu
leio e conto histórias desde muito cedo. Minha primeira lembrança de leitura
vem dos quadrinhos. Na literatura, lembro da antiga Coleção Vagalume...
especialmente da impressão que tive do romance 'Escaravelho do Diabo'. Fiquei
aterrorizado... e amei a sensação! Na adolescência tive contato com jogos de
RPG, daqueles que se joga com dados, fichas e amigos. Eu desempenhava a função
de 'Mestre', que na prática é um narrador oral. As histórias envolviam monstros
e cavaleiros medievais, e eu sempre as criava no calor do momento, na
empolgação do jogo. Uma delas até virou um pequeno romance, que escrevi aos
treze anos e tenho guardado até hoje. Chama-se 'A Lenda de Daebolong, o dragão
maldito'. De vez em quando pego o volume para ler, me transporto para aquela
fase da minha vida e percebo que, de um jeito ou de outro, estou fazendo algo
que sempre fiz.
Tomo
Literário: Morte
em 140 Caracteres é um dos finalistas do Prêmio Aberst de Literatura na
categoria Conto,
Noveleta ou Novela de Suspense/Policial. Qual a expectativa para o prêmio e
como é figurar entre os finalistas?
André
Comanche: Eu estou eufórico! Esse foi o meu
primeiro conto publicado... então ainda estou processando a informação. É
difícil de acreditar. A seleção em si já um prêmio para mim. Estou ansioso para
conhecer os escritores pessoalmente. Já li obras de alguns indicados e vai ser
uma honra poder fazer esse contato mais pessoal com todos.
Tomo Literário:
Como surgiu a ideia dessa história?
André
Comanche: Eu
gosto muito de tramas policiais, plots de suspense, etc. Sou fascinado pelos
contos brutais de Rubem Fonseca, bem como os de outros medalhões do gênero aqui
no Brasil. Mas um autor que tem me inspirado demais a escrever é o carioca
Raphael Montes. Outra influência forte é o seriado Black Mirror, um dos meus
favoritos. Então tentei escrever uma trama curta e crua, sob essas influências,
e que o resultado me agradasse enquanto leitor. Acabei escrevendo a história de
uma tacada só, durante uma madrugada, e curti muito todo o processo.
Tomo
Literário:
Como
você vê atualmente o cenário literário brasileiro, sobretudo para os escritores
de suspense/policial? Percebe a procura de leitores por autores nacionais desses
gêneros?
André
Comanche: Estamos
passando por um boom do gênero aqui no Brasil. Os leitores estão amando
essa nova leva de escritores de suspense brasileiro. Temos a incrível Claudia
Lemes, o já citado Raphael Montes, a misteriosa Andrea Killmore e por aí vai.
Isso é incrível para todo mundo, escritores, leitores e profissionais que
trabalham com serviços literários. O futuro do gênero é promissor. A ABERST não
poderia ter surgido em hora mais propícia.
Tomo
Literário:
De
modo geral o que te move a escrever?
André
Comanche: Contar
histórias está no meu sangue, no meu cerne. Não sei viver sem fazer isso. Sou
daquelas pessoas que quando começam a contar algum causo, detalham cada
aspecto, com onomatopeias e gestos. Neil Gaiman certa vez escreveu um artigo
incrível sobre histórias. Ele considera que elas possuem vida própria. As
narrativas se moldam, se modificam, se adaptam, conforme vão entrando nas
mentes e corações das pessoas, como uma espécie de ser vivo, ou algo parecido.
E o escritor, o contador de histórias, é o responsável por espalhar esses seres
por aí.
Tomo
Literário:
Você
também atua como cartunista e ilustrador. Conte-nos um pouco sobre esses outros
trabalhos e onde os leitores podem encontrá-los.
André
Comanche: Eu
desenho desde muito pequeno. As primeiras palavras vieram junto aos primeiros
desenhos. São processos parecidos, que me atraem da mesma forma. Eu sou um
curioso e amo tatear qualquer linguagem artística. São canais poderosos que
temos para conectar nossos corações e mentes. É um prazer poder manipular
palavras e imagens com a finalidade de despertar algum sentimento nas pessoas.
Eu faço quadrinhos, já ilustrei alguns livros e desenho aqui e ali. Meus
trabalhos podem ser vistos nos instagrans @do.conto.ao.traco e
@tino.um.cacador.de.si.mesmo.
Tomo
Literário:
Você
está preparando algum novo projeto literário? Pode nos adiantar alguma
informação?
André
Comanche: Estou
finalizando o meu primeiro livro, que se chamará “O dia em que minha vó me
apresentou a morte”. É uma coletânea de contos de mistério, terror e aventura,
voltada para qualquer faixa etária. Minha infância foi repleta de experiências
aventurescas e interessantes, muitas delas beirando um perigo real. Peguei
algumas dessas histórias e acrescentei uma pitada de ficção; estruturei em
tramas de mistério e o livro saiu. O objetivo é provocar nostalgia nos adultos,
aquela sensação gostosa de quando se assiste alguns clássicos oitentistas como
‘Conte Comigo’(1986), ‘Os Goonies’(1985), etc. Já as crianças terão uma boa
dose de entretenimento assustador, mas que não deixa de ter uma certa doçura
poética. A inspiração para escrever esse tipo de narrativa vem de Neil Gaiman.
Ele sempre consegue ser sombrio e apaixonante. A pegada é essa. Espero que os
leitores sintam essa intenção.
Tomo
Literário:
Quais
são os autores que você admira ou que de alguma forma influenciaram o seu
trabalho como escritor?
André
Comanche: Acabei
já respondendo essa pergunta nas anteriores, mas vamos lá. Neil Gaiman, Kafka,
Edgar Allan Poe, Lovecraft, Rubem Fonseca, Raphael Montes e, mais recentemente,
estou descobrindo fascinado as obras de Cláudia Lemes. Com certeza está se
tornando uma inspiração também. Fora outros autores nacionais que estou
começando a acompanhar. Mas creio que estes acima são os maiores destaques no
momento.
Tomo
Literário:
Que
livros, de quaisquer gêneros, você recomendaria aos leitores? Está lendo algum
atualmente?
André
Comanche: Não
tem como fugir dos clássicos. Eu não citei na pergunta anterior, por receio de
parecer pedante, mas aí vai… o escritor que mais admiro na vida é Dostoiévski.
Por tudo que ele representa, por sua história, pelo grau de profundidade de
suas personagens. Recomendo qualquer livro dele, mas a ênfase cai em Crime e
Castigo e Irmãos Karamazov. George Orwell também, pelos mesmos motivos que
citei com relação a Dostoiéviski. São autores que mudaram, literalmente, a
minha vida.
Tomo
Literário:
Gostaria
de deixar algum comentário para os leitores do blog?
André
Comanche: Acompanhem
autores nacionais, vocês não vão se arrepender. Tem muito material incrível
sendo lançado neste exato momento, de forma independente ou por editoras. Os
brazucas estão com tudo!
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