Relatos de Sangue – A Fórmula de um
Psicopata, de Jonas Zair e Hugo Renan, foi publicado pela Editora Skull em
2018.
Jovens estudantes se reúnem num acampamento.
Nathan, que demonstrou ter conflito com outro estudante e que queria manter
relações com sua namorada, demonstra um comportamento estranho. O que poderia
ser apenas um rompante, acaba se tornando num crime horrível, possivelmente um
dos mais terríveis acontecidos nos últimos tempos, naquela pequena cidade.
Várias pessoas são atacadas e mortas no acampamento, deixando uma cena terrível
que marca a todos os moradores de Conforto de Cristo – cidade fictícia situada
no interior de São Paulo.
Nathan, apontado como o causador da tragédia
foi morto pela polícia. Sua morte aconteceu no momento em que a polícia chegou
ao acampamento. “Em questão de minutos, a
área estava cheia de policiais e paramédicos socorrendo os feridos e contando
os mortos”. Samantha, a namorada de
Nathan naquela ocasião, foi uma das sobreviventes do aterrorizante crime e
tempos depois ela jura que Nathan não é o culpado pelas mortes que chocaram a
cidade. Ela não indica quem seria o responsável pelo crime, não sabe precisar
quem seria ele ou quem seria o alvo de suas suspeitas, mas é taxativa em
afirmar que não fora Nathan. Samantha sofrera tamanho trauma que suas atitudes
são encaradas como insanidade. Os indícios, no entanto, levam a crer que Nathan
fora o responsável pelo crime pavoroso que aconteceu contra estudantes e
professores. Sobre ele pesa, ainda, a acusação de ser o causador da morte de
seus pais. Samantha, contrariando todos os indícios, persiste em atestar que há
evidências que descartariam a participação de Nathan.
O leitor observará que há um salto temporal na trama. Seis meses
se passam desde que o horrendo crime acontecera na cidade e eventos misteriosos
começam a acontecer. Os sobreviventes do massacre do acampamento se tornam os
alvos dessa vez. Eles são atacados e mortos. Algumas passagens os colocam em
situações que beiram a sobrenaturalidade.
Christian Sullyvan entra em cena na história.
Ele é um detetive bastante conhecido por investigações que reverteram acusações
que pesavam sobre pessoas inocentes. As pistas que surgem criam um ambiente
ainda mais enigmático, pois colocam por terra todas as possibilidades aventadas
pelo detetive e sua equipe (e que também vão minando a nossa certeza como
leitor investigativo). Tudo parece muito improvável. Em meio as investigações
surgem ainda questões do passado da vida dos sobreviventes e até mesmo do
assassino apontado.
“Eu acredito que todas as pessoas mortas no massacre deve
ter feito algo que Nathan não gostou. Cabe a nós agora investigar isso, morto
por morto, e ver quem dos sobreviventes possa ter dado motivação para ele vir
atrás. Algo me diz que não foi sorte alguns sobreviverem, creio que não foi
aleatório os ataques, ele foi premeditado e sabia quem viveria e quem morreria.”
A estrutura adotada pelos autores para
desenvolver a história apresenta a narrativa em terceira pessoa e/ou em
primeira. Quando em primeira pessoa, o que acontece em quase todo o livro,
diferentes personagens assumem a voz da narrativa. Citando o nome do personagem
antes de começar a discorrer o texto, a forma utilizada ficou fácil para o
leitor compreender a mudança de narrador e visualizar quem está contando-nos a
história naquele dado momento. Esse recurso não trunca a fluidez e não
interrompe a dinâmica da leitura, posto que o evidenciado facilita em muito a
compreensão do leitor.
A priori imagina-se que os crimes que passam
a ocorrer após o massacre, advém de algum imitador. Alguém que, fascinado pelo
psicopata Nathan, busca dar continuidade aos seus crimes, espelhando-se nele. A
distorcida admiração do criminoso poderia tê-lo levado à prática de atos contra
as pessoas relacionadas ao massacre do acampamento.
“...agora você já sabe (...), te asseguro que ninguém vai
acreditar em uma só palavra sua...”
A trama tem reviravoltas que surpreendem o
leitor na medida em que cresce a curiosidade acerca do psicopata. Seria de fato
Nathan? Por que Nathan queria matar todas aquelas pessoas? E, tenha calma
leitor, porque as explicações sobre as ocorrências de crimes e a movimentação
do assassino depois da morte de Nathan, são respondidas pelos autores. As
lacunas que, por ventura, vão ficando para trás e se transformando em perguntas
a serem perseguidas pelo leitor, são devidamente preenchidas. As respostas
surgem.
Os personagens criados são críveis. Veja-se o
exemplo de Sullyvan, que tem uma interessante dualidade, não representando
somente o bom ou somente o mal. Ele tem aspectos positivos, ou melhor,
características que são valoradas pela sociedade, mas também apresenta
comportamentos questionáveis. Os autores falam da vida privada dos personagens,
remontando ao seu passado e às relações, e conseguem fazer com que isso não assuma
a frente das questões principais de que tratam: a ocorrência dos crimes. Os
demais personagens criados pelos autores também são bem construídos e com aspectos
deveras humanos. A ambientação em que se passa a história e a voz da narrativa
ajudam na impressão que temos sobre cada um deles.
O assassino nos dá, notadamente, a impressão
de ser uma mente doentia. Apresenta certa
indisposição social, tem “inteligência” para arquitetar os crimes, demonstra um
espírito sádico, comete crimes de forma assustadora e é sagaz, posto que está
sempre um passo adiante. Ele também é provocador, colocando-se na mira da
polícia como que para testar a sua habilidade criminosa e a incapacidade dos
outros de captura-lo.
Relatos de Sangue – A Fórmula de Um Psicopata
é uma trama bem arquitetada. Quando você tiver certeza absoluta de que o caso se
resolveu, que as evidências estão dadas e que você conseguiu, portanto,
compreender tudo que se passou (ou que seu espírito investigativo anda
enferrujado, pois não conseguiu entender absolutamente nada em relação aos
crimes), os autores apresentam a solução dos casos. E, meu caro leitor, você
será pego de surpresa com a solução apresentada pelos autores. Prepare algo para
segurar o vosso queixo.
O livro tem um capítulo bônus, para o qual
recomendo, assim como a descrição do próprio livro, que seja lido apenas e tão
somente depois de concluir a história, pois ali estão explicitados uma série de
eventos que aparecem na história. Tudo se encaixa perfeitamente.
Como é bom ser surpreendido por uma história
que vai além do que imaginamos. Quando você supõe que a trajetória vai tomar
determinado rumo, ela segue outro caminho. E o melhor de tudo é que não perde a
coesão e absolutamente tudo que nos é contado está conectado.
Concluo, portanto, que todos aqueles que me
indicaram o livro, dizendo: “Se você
ler, você vai gostar”, estavam certos. Li e gostei. Relatos de Sangue é
eletrizante, assustador, imprevisível e envolvente.
Sobre
os autores:
Jonas e Hugo são amigos há mais de vinte
anos. Cresceram juntos em Jundiaí, interior de São Paulo. Muitas histórias e
aventuras definem essa amizade de quase irmãos. Ambos começaram a escrever
contos em blogs ainda adolescentes. E sempre com o sonho de produzir um livro.
Apreciadores do suspense e terror, tiram das histórias mais bizarras e macabras
suas referências para criar.
Ficha
Técnica
Título: Relatos de Sangue –
A Fórmula de Um Psicopata
Escritor: Jonas Zair e Hugo
Renan
Editora: Skull
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-53037-00-1
Número
de Páginas:
336
Ano: 2018
Assunto: Literatura brasileira
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