Motivos para ler Clarice, de Roger Mello

Clarice, livro de Roger Mello, foi publicado pela Global Editora em 2018.

A sinopse:

O autor entrega no olhar curioso da menina Clarice os questionamentos de diferentes gerações sobre o exercício de poder do adulto, sobre os medos, as contradições, as fugas e a opressão. Quanto pesa um livro que afunda no lago com a sua história e a história de quem o leu? Quão perigoso é ter um lago de livros emergindo no pensamento?

Em fortes linhas, os autores deste livro traçam, como arquitetos, uma estrutura ficcional capaz de transportar o leitor de todas as idades por uma cidade construída e destruída pela utopia.

Uma história que subverte o olhar como um caleidoscópio, um filtro, um cobogó, um reflexo no lago. Uma Brasília por memórias familiares sem a preocupação de entregar fatos, mas sim possibilidades de vivências das personagens. 

A obra reúne os talentos de Roger Mello, já consagrado no Brasil e no exterior, e do jovem ilustrador e designer Felipe Cavalcante, que revela o seu compromisso com a arte e a infância.

Clarice é uma daquelas histórias que não conseguimos parar de ler e reler porque foi projetada num clima de suspense, em que as mensagens são cifradas e incompletas. Os artistas nos entregam o prazer de decifrar olhares, senhas, sumiços e sussurros.

Motivos para ler Clarice:

História como pano de fundo

O livro retrata um período conturbado da política brasileira. No entanto, o autor não narra os fatos históricos em si, mas apresenta a visão de duas crianças a respeito dos acontecimentos sombrios que cercam a ditadura, o período do regime militar. A História como pano de fundo permitirá aos pais e professores utilizarem o livro para falar sobre o tema com as crianças/alunos. Nós leitores refletiremos sobre tempos passados numa obra que se faz tão presente e atual. A história tem um clima de suspense e mistério e não visa preencher lacunas, que ficam pelo caminho, como a provocar o leitor em sua reflexão. Será esse o país que queremos? Queremos que livros sejam proibidos e que filmes sejam censurados? Queremos familiares desaparecidos? A conexão feita com o passado é atualíssima.

Personagens cativantes

Clarice, a menina que protagoniza o livro e que dá nome à obra, e Tarso, outro personagem que está presente na trama, são personagens realmente cativantes. A construção de uma menina que tem a visão sobre os fatos, buscando compreender o que está acontecendo a partir de sua realidade e a forma como Clarice se expressa, encantam. Tarso também faz o mesmo conosco. Ambos tem a capacidade de nos fazer adentrar a história de maneira singular, provocando encantamento. Sentimo-nos de fato acompanhando a vida deles e a visão que eles tem sobre os acontecimentos. São as suas vivências que despertam em nós, leitores, a empatia.

Ilustrações e o exercício do lúdico

As ilustrações que acompanham o texto da obra possibilitam ao leitor ter um contato lúdico com aquilo que é narrado. As cores vibrantes chamam a atenção. As ilustrações presentes no livro foram feitas por Felipe Cavalcante. Elas bem representam a suavidade e a aspereza que há na história do livro. Elas refletem a sensibilidade transmitida pelos personagens em contraste com as cores vibrantes (sobretudo o laranja forte) que vem da força da história contada.

A inspiração do nome da protagonista

A personagem principal recebeu o nome de Clarice em homenagem à escritora Clarice Lispector. A escritora era comumente lida por sua mãe, que a admirava. Em dada passagem da obra, inclusive, o autor fala sobre o porquê a menina recebeu o nome e que o pai dela escondia os livros de Lispector para que a esposa pudesse ler. Para quem gosta de Clarice Lispector, essa referência a seu nome, já pode ser um motivador para adentrar a história.

Boa leitura!

Resenha:

A resenha de Clarice, de Roger Mello, publicado pela Global Editora já foi postada aqui no Tomo Literário. Você pode conferir aqui.