Leandro Bonizi publicou o livro Lane pela
Chiado Editora. Ele falou como Tomo Literário sobre seu contato com o meio,
sobre o mercado editorial, seus escritores preferidos e também sobre sua obra.
Tomo
Literário:
Como
foi o seu primeiro contato com a literatura e como você se descobriu escritor?
Leandro
Bonizi:
O primeiro grande clássico que li e me marcou foi aos quatorze anos,
"Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley. Logo passei a me interessar
pelos clássicos, li outros como "Mil e Uma Noites". Mas o marco foram
os poemas de Alberto Caeiro, apenas porque era um livro exigido nos
vestibulares. Apaixonei-me de tal forma, logo procurei saber mais sobre
Fernando Pessoa e seus outros heterônimos. Lia e relia Álvaro Campos, chegando
a decorar dezenas de poemas. Logo Fernando Pessoa era meu ídolo máximo,
suplantando meus ídolos musicais, e o é até hoje.
Paralelamente, e mais ou menos na mesma
época, comecei a escrever. Meus primeiros poemas não foram sérios. Eu vivia me apaixonando na época de colégio.
Escrevia sobre meus amores platônicos. Posso dizer até que entre os primeiros
poemas que escrevi muitos foram cartas de amor que eu enviei para as meninas. O
amor não se realizou, mas o gosto pela escrita eu nunca mais larguei. Comecei
aos poucos a escrever sobre outros temas que não o amor. O gosto pela escrita
estimulava meu interesse pela leitura. A leitura me inspirava a escrever mais.
Levaram alguns anos ainda para eu começar escrever em prosa. O primeiro livro
que escrevi foram crônicas de histórias minhas, pois tenho muitas histórias
engraçadas. Nunca tentei publicar.
Tomo
Literário: Você acaba de lançar o livro
Lane pela Chiado. Como surgiu a ideia do livro?
Leandro
Bonizi:
Surgiu de uma ideia de escrever um livro de contos sob um determinado conceito,
cujo título seria "Sonhos da humanidade". A proposta era a seguinte:
assim como existem, por exemplo, os sete "pecados capitais", eu fiz
uma lista dos "sonhos capitais" da humanidade. Cada conto trataria de
um deles como tema, sempre um personagem obsessivo tentando realizá-lo através
da tecnologia: vencer a morte, voltar no tempo, etc. e, por fim, realizar o ideal
do amor verdadeiro. Eu fui escrevendo um pouco de cada um, todos ao mesmo
tempo, até que no do amor, quando eu já tinha escrito cerca de oitenta páginas,
decidi que não seria mais um conto. Então, abandonei os outros e me concentrei
nesse. E deu o que deu: um livro de 430 páginas. Nunca mais mexi nos outros,
mas quem sabe um dia, se eu me estabelecer firmemente como escritor, eu os termine.
E, caso ocorra o mesmo que aconteceu com Lane, todos virem livros, e no futuro
eu lance um box com todos eles... Lane é basicamente isso: uma ficção
científica cujo tema central é o amor.
Tomo
Literário:
Quanto
tempo levou todo o processo, da escrita até a publicação? Qual foi a etapa mais
complexa?
Leandro
Bonizi:
Ao todo, uns quatro anos. Um ano escrevendo o grosso da história, e depois mais
dois anos revisando, acrescentando ou retirando trechos, e depois mais um ano
no processo de publicação. A etapa mais complexa, mas bastante prazerosa, foi a
primeira escrita, quando você tem que desenvolver a ideia. Para decidir o rumo
dos acontecimentos você tem que ter a história inteira na cabeça, a dificuldade
aumenta quando maior e mais complexa a história, para manter a coesão e o que
acontece na página 300 não entrar em contradição com algo que acontece na 20.
Mas a parte mais trabalhosa eu achei as revisões, pois nunca é o suficiente.
Por mais que já tenha feito, a cada leitura você vai querer mudar mais alguma
coisa. E isso poderia se prolongar indefinidamente...
Tomo
Literário:
Como
você vê atualmente o mercado literário brasileiro?
Leandro
Bonizi:
O que eu considero um erro meu foi, quando estava escrevendo o livro, ter me
concentrado apenas nisso, não ter procurado saber como funciona o mercado
literário, as tendências, as políticas... digo que só estou começando a
entender agora, após já ter começado minha carreira cometendo vários erros...
Minha visão é que é um mercado difícil.
Apesar da grande população é uma parcela pequena que tem o hábito da leitura.
Há uma tendência a preferir autores internacionais, e muitos dos que leem
preferem obras que eles acreditam trazer um resultado prático e até mensurável.
É o espírito utilitário dominante na modernidade. E a “utilidade” geralmente é
definida como associada quase exclusivamente ao crescimento profissional,
ignorando que a função da literatura tem um sentido muito mais profundo. É uma
experiência, em diversos aspectos, e sua função é desenvolver o lado humano no
sentido pleno da palavra. Outra coisa é que me parece que é muito mais fácil um
famoso se tornar um escritor, do que um escritor se tornar famoso. Vejamos
exemplos de youtubers e outras celebridades que resolvem lançar um livro e por
causa do nome conseguem contrato com uma grande editora e já têm público
garantido, enquanto escritores talentosos nunca sairão do anonimato. Minha
visão um tanto pessimista é que o aspecto literário é o que menos está em jogo.
Tomo
Literário:
Você
tem algum processo de escrita? Costuma montar perfil de personagens ou um
roteiro para a história?
Leandro
Bonizi:
O que faltou para mim, nesse meu primeiro livro, foi mesmo um método para a
escrita da história. Provavelmente por isso demorei tanto para concluí-la. Eu
usei de certas estratégias, mas de modo espontâneo. Você pode ter uma ideia da
história do nada e bem definida, como pode, quando essa ideia não surge, fazer,
como chamam no meio corporativo, um “brainstorm” literário: lançar tudo que
vier à cabeça num bloco de notas ou papel. Do resultado, pouco se aproveitará,
mas o pouco já poderá dar a ideia central da história. Às vezes, em momentos de
inspiração, eu escrevo alguns trechos avulsos, depois recorto, coloco também
uns pedaços de papel com os acontecimentos principais da história, fico
movendo, trocando de posição, até encaixá-lo no melhor lugar e tento encaixar
na história de algum jeito. Eu tenho minhas técnicas, mas muitas eu invento na
hora e não faço na ordem, digamos, de modo "sistemático", à base de
procedimentos etc. Mas eu pretendo sim desenvolver um método mais definido para
otimizar o processo, mas não de uma forma que fique rígido demais que restrinja
o livre processo criativo. Quanto à criação dos personagens, pelo menos dos
principais, é um processo complexo: você tem que pensar em tudo.
Tomo
Literário:
De
modo geral o que te inspira a escrever?
Leandro
Bonizi:
A princípio, como eu comecei escrevendo poesias, e como uma forma de
expurgação, o que me inspirava era estados de espírito intensos. E digo que
nunca era felicidade. E sim, angústias, crises existenciais... depois, quando
comecei a escrever também em prosa, as fontes de inspiração assumiram das mais
variadas formas. Desde acontecimentos banais da vida até outras leituras,
estudos, pesquisas. Depois que decidi apostar todas as minhas fichas na
literatura, passo o tempo inteiro em busca de ideias para minhas histórias.
Observo que há ao meu redor, pelas ruas, os cartazes, as lojas, se alguém me
chama a atenção já imagino uma descrição literária de um personagem...
Tomo
Literário:
Você
está preparando algum novo projeto literário? Pode nos adiantar alguma informação?
Leandro
Bonizi:
No momento, não posso dizer que eu esteja focado em algum. Estava escrevendo um
com o título “Na Insídia da Morte”. Mas abandonei temporariamente a escrita por
uma questão estratégica.
Parte do tempo que eu usaria para escrever
estou trabalhando na divulgação do livro, e também a minha escrita está focada
em concursos literários. Isso talvez esteja longe do ideal. Para ilustrar: eu
faço uma pesquisa, descubro que há um concurso para entregar o texto daqui a
não sei quantos dias, às vezes com um gênero ou tema definido, escrevo, envio,
depois de alguns dias tenho que entregar outro para outro concurso. Não
considero o ideal, pois um livro deve ser escrito com carinho, não numa corrida
contra o tempo. Mas o lado bom é que isso talvez desenvolva minha
flexibilidade, pois nessa eu escrevi em gêneros que nunca tinha escrito antes.
Mas um projeto que tenho que entregar até o
final do ano e que virará um livro é um que, a princípio, foi enviado para
outro concurso. Nele tinha que escrever o primeiro capítulo de um romance
moderno sob o tema "Fake news". Meu capítulo foi um dos vinte e sete
selecionados. Eu o disponibilizei Wattpad, e vou disponibilizar o link.
Pretendo disponibilizar mais um capítulo, e concluir o romance para enviar para
outro concurso. Se tudo der certo, ele se transformará no ou num dos meus
próximos livros.
Tomo
Literário:
Quais
são os autores que você admira ou que de alguma forma influenciaram no seu
trabalho como escritor?
Leandro
Bonizi:
Na prosa, os integrantes do meu "Olimpo" são Fiódor Dostoiévski,
Oscar Wilde e George Orwell. Oscar Wilde pela magia, pelo lado artístico, pelas
grandes metáforas que eu considero serem suas histórias. Dostoiévski pela
profundidade e complexidade, do modo que ele entra no psicológico dos
personagens, descreve suas sensações... George Orwell pela precisão de suas
histórias, pelo aspecto sócio político e futurista. Na poesia, além de Fernando
Pessoa, tenho muito gosto por outros autores portugueses, como Camões,
Bocage... Brasileiro, meu poeta preferido é Cruz e Sousa.
Tomo
Literário:
Que
livros, de quaisquer gêneros, você recomendaria aos leitores? Está lendo algum
atualmente?
Leandro
Bonizi:
Para quem não tem o costume e não desenvolveu o gosto pela literatura, eu
recomendaria começar com “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, que
é uma história curta, uma leitura leve, adequada tanto para crianças como para
adultos e, a meu ver, impossível não gostar. Eu posso dar algumas recomendações
suspeitas, para introduzir o leitor que tiver interesse nos meus autores preferidos:
“O príncipe feliz”, de Oscar Wilde, que eu chorei todas as sete primeiras vezes
que li; “A Revolução do Bichos”, de George Orwell, também uma história curta e
fácil de entender. “Noites brancas”, de Dostoiévski, que dá uma boa ideia de
como são suas histórias. Dos que estou lendo atualmente, vou citar I Ching, que
faz parte de uma lista que fiz após pesquisas sobre os livros que mais
influenciaram a humanidade.
Tomo
Literário:
Gostaria
de deixar algum comentário para os leitores do blog?
Leandro
Bonizi:
Se você pensa em ser escritor, há diversos canais que dão desde dicas de
escrita a erros a não se cometer. Gostaria de frisar apenas algo que é pouco
citado: juntem dinheiro. Se você decidiu hoje ser escritor, e pretende escrever
sua obra em um ano, comece a juntar dinheiro desde já. Caso tenha a sorte de
conseguir uma publicação gratuita, ainda terá que gastar dinheiro para a
divulgação, o que pode nunca ser demais...
Sobre o
livro Lane:
Ela é a mulher perfeita.
Brilhou na universidade, mas alguns traumas em relacionamentos motivaram-na a
usar toda sua capacidade num empreendimento ousado que vai realizar um dos
grandes sonhos na humanidade. Sua ascensão causa grande repercussão midiática e
abala as estruturas do poder, e ela tem que lidar com obstáculos inesperados
para o seu sucesso.
Para comprar clique aqui.
Primeiro capítulo do
romance sobre “Fake News:”
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sociais:
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